Uma sala de estar com lousa, crianças sentadas no tapete, cadernos e lápis nas mãos e os sonhos de, enfim, adentrar no mundo das palavras, saber escrevê-las e não mais deixar que os amedrontem. É tudo isso que está nas entrelinhas das aulas de reforço ministradas pela estudante de pedagogia Joelma Gonçalves Laureano, 45 anos.
A missão da moradora do bairro Cata Preta, em Santo André, começou há mais de 13 anos, quando resolveu dar aulas de reforço para os três filhos. O que não contava era que várias crianças da sua rua fossem aparecer na sua casa com intuito de melhorar o desempenho escolar. Joelma aceitou o desafio, não parou mais com as aulas gratuitas e até resolveu fazer pedagogia.
]Há dois meses Joelma cogitou cobrar pelas aulas e deixar de ser voluntária. “Eu estava estagiando em uma escola pública perto da minha casa e ajudava a professora com os alunos. Aí percebi que tinha um aluno que estava na quarta série, mas não sabia nem ler, nem escrever. Fiquei com o coração partido e resolvi ajudá-lo”, diz.
Joelma conta que teve uma experiência que considera sobrenatural. “Ouvi gritos de crianças pedindo que eu as ajudasse. Percebi que deveria continuar com as aulas gratuitas”, diz. Hoje a pedagoga dá aulas três vezes por semana e também oferece lanche para as crianças, com dinheiro próprio. “Eles chegavam aqui às 14h e falavam que não almoçaram. Alguns até sofriam bullying por não entenderem as matérias”, diz. Após dois meses de aulas de reforço, o menino já escreve e lê. “As nossas crianças precisam de socorro”, afirma Joelma, que se orgulha de ter ex-aluno em faculdade de Direito. Quem quiser ajudar o projeto, recém-intitulado Escolinha da Joelma, basta ligar para 4452-4040.
Carta do bem
Dina Fernandes Chagas, aposentada, trabalha desde 2008 no programa gratuito Escreve Cartas, do Poupatempo de São Bernardo. Não é o único trabalho voluntário. Atua também na Associação de Secretários Públicos, Lar Mamãe Clory e no Centro Espírito Kaena, todos na cidade. No Poupatempo, escreve manualmente para aproximadamente 40 pessoas ao mês. Entre cartas, currículos e formulários, Dina conta que se emociona com as histórias.“Às vezes vem alguém pedir uma carta para algum programa, para arrumar a casa, realizar um sonho, ou até mesmo encontrar algum parente que mora bem longe. Isso me emociona muito”, conta.
Para Dina, trabalhar como voluntária é uma das maiores realizações que a vida lhe proporcionou. “Deus nos deu o saber, por que guardar apenas para nós? Venho uma vez por semana, mas se eu pudesse, viria todos os dias escrever”, enfatiza. O programa tem quase 50 integrantes. Inscrições pelo site www.cidadao.sp.gov.br. (Colaborou Amanda Lemos)