A crise do setor automobilístico, que tem impactos significativos no mercado de trabalho da região, subiu de patamar nos últimos dias. Sindicatos que representam metalúrgicos estão em alerta com uma possível onda de demissões no setor, caso ferramentas como o PPE (Programa de Proteção ao Emprego) e o lay-off deixem de ser adotadas pelas montadoras.
A Ford, em São Bernardo, é um dos exemplos de empresa que resiste em renovar acordos que garantam o emprego dos funcionários. A negociação da montadora com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC até o momento não chegou a resultado satisfatório para a categoria.
Na última segunda-feira (9), trabalhadores da Ford promoveram paralisação de 24 horas para pressionar a empresa a fechar acordo e salvar empregos. “Nós concordamos em discutir a competitividade, como fazemos sempre com as montadoras sediadas aqui no ABC, mas neste momento entendemos que fazer isso é justamente continuar utilizando mecanismos como PPE e lay-off”, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques.
A Ford tem atualmente 3,8 mil trabalhadores. Destes, cerca de 3,4 mil estão em o regime de PPE – que vence no final de junho – e quase 400 estão em lay-off, com jornada reduzida em 20%. De acordo com a montadora, o excedente é de 1.110 profissionais.
Em São Caetano, o temor de demissões virou realidade. A GM desligou na semana passada mais de 100 trabalhadores em lay-off (quando o contrato de trabalho é suspenso). Em telegrama enviado aos funcionários, a montadora justifica que fez o possível para segurar os empregos, mas diz que “o mercado não reagiu”.
“A maioria das pessoas desligadas fazia parte do setor de engenharia experimental, que tentamos por diversas vezes inserir [na renovação] do lay-off, mas infelizmente não foi possível”, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão.
No início do mês o sindicato e a GM firmaram acordo para renovar por cinco meses o lay-off de aproximadamente 1.000 trabalhadores. Os demitidos na semana passada acabaram não sendo beneficiados pela renovação.
Assim como aconteceu na Ford, trabalhadores da Volkswagen também promoveram paralisação para marcar posição contra possíveis demissões. No dia 5 de maio, metalúrgicos do setor administrativo e horistas indiretos cruzaram os braços por 2 horas.
Excedentes
O motivo do protesto é o silêncio da montadora alemã a respeito do PPE. Em abril, a empresa informou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que havia excedente de 1.060 profissionais, e até agora não atendeu aos apelos da entidade para negociar a manutenção desses empregos. “A empresa anunciou o excedente e não nos chamou para iniciar nenhuma discussão de alternativas, o que está deixando os trabalhadores inseguros. Nós entendemos que há instrumentos de proteção previstos nos acordos já firmados que dão conta de resolver essa questão”, afirmou o secretário-geral do Sindicato, Wagner Santana.
A Volks emprega 10,5 mil trabalhadores em São Bernardo. Deste total, cerca de 2 mil estão sob o regime de lay-off e 7,3 mil estão no Programa de Proteção ao Emprego, com jornada reduzida em 20%. O PPE na montadora vence no final de junho.
No caso da Mercedes-Benz a situação é ainda mais urgente, pois o PPE de 9 mil trabalhadores vence ainda neste mês e empresa já decidiu que não haverá renovação do programa. Para tentar reduzir o excedente de 2 mil trabalhadores, a montadora vai abrir PDV (Plano de Demissão Voluntária). A empresa conta com 1,5 mil metalúrgicos que estão afastados da produção através de licença remunerada, desde o ano passado.