Documentos apreendidos pela Polícia Federal na 23ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Acarajé”, revelam nomes de mais de 300 políticos que teriam recebido doações de campanha do grupo Odebrecht. Os repasses dizem respeito principalmente à eleição de 2012, mas também à campanha de 2014.
A presença na lista não significa necessariamente que os políticos citados tenham recebido recursos de campanha de forma ilegal, nem que todos os valores tenham efetivamente sido repassados. Onze citados são do ABC e participaram das últimas eleições. Todos os que retornaram contato feito pelo RD negaram irregularidades.
A papelada foi encontrada com o presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Barbosa Silva Júnior. Dos 11 citados do ABC, três são prefeitos: Carlos Grana (PT), de Santo André, Luiz Marinho (PT), de São Bernardo, e Donisete Braga (PT), de Mauá.
Também aparecem o ex-prefeito de Santo André, Aidan Ravin (PSB), e os nomes de dois deputados estaduais, Vanessa Damo (PMDB) e Átila Jacomussi (PSB). Integram a relação dois secretários da região: Nilson Bonome (PMDB) – que comanda a pasta de Governo em São Caetano -, e Chiquinho do Zaíra (PTdoB), titular de Planejamento Urbano em Mauá. A planilha fala ainda em “diversos vereadores” de Mauá, sem informar nomes.
O ex-deputado federal Vanderlei Siraque (PT) é outro nome presente na relação. Os vereadores Marcos Lula (PT), de São Bernardo, e Bete Siraque (PT), de Santo André, completam a lista.
Os papéis vieram a público no final da manhã desta quarta-feira (23). À tarde, o juiz Sérgio Moro decretou sigilo dos documentos.
Citados negam irregularidades
O nome de Marinho é citado cinco vezes nos documentos. Uma das planilhas cita R$ 250 mil que seriam destinados pela Odebrecht ao PT para financiar a campanha de reeleição do prefeito em 2012, além de outros valores como R$ 750 mil e R$ 50 mil.
“Informamos que todas as doações recebidas nas campanhas do prefeito Luiz Marinho constam das prestações de contas entregues e aprovadas pela Justiça Eleitoral”, afirmou a Prefeitura de São Bernardo, em nota.
O prefeito Carlos Grana (PT) também negou haver qualquer irregularidade. “Todas as contribuições foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral”, garante. Uma das planilhas mostra valor de R$ 500 mil na frente do nome de Grana. “Tudo leva a crer que eventualmente essa contribuição que foi citada pode ter vindo através do Comitê Nacional do PT”, explica.
De acordo com Grana, o único recurso que sua campanha recebeu em 2012 diretamente da Odebrecht foi de R$ 20 mil – uma contribuição dada pela empresa em jantar promovido para arrecadar fundos.
Os documentos mostram pagamento de R$ 200 mil que teria sido feito à campanha de Donisete Braga em 8 de agosto e R$ 300 mil em 15 de agosto de 2012. Uma das planilhas mostra R$ 400 mil para Donisete – R$ 100 mil via Braskem e R$ 300 mil via Foz do Brasil, que depois mudou o nome para Odebrecht Ambiental. O prefeito recebeu o apelido de “Praga”.
Procurado pelo RD, Donisete negou “qualquer irregularidade sobre doações para sua campanha eleitoral a prefeito de Mauá” e afirmou que todos os recursos doados “foram feitos dentro da lei e declarados à Justiça. A prestação de contas da campanha foi aprovada pela Justiça Eleitoral”.
Há ainda previsão de repasse de R$ 400 mil para a campanha de Aidan Ravin, R$ 30 mil para Chiquinho do Zaíra, R$ 150 mil para Vanderlei Siraque e R$ 50 mil para Marcos Lula. Os números aparecem como “400,00”, “30,00”, “150,00” e “50,00”, respectivamente.
Átila Jacomussi, que foi candidato a prefeito em 2012, também se posicionou. “O deputado estadual Atila Jacomussi esclarece que o PRP, partido que integrava arco de aliança em sua campanha para prefeito de Mauá em 2012, recebeu doação lícita e declarada de R$ 50 mil da empresa Braskem, sendo que R$ 24.500 foi repassado à conta da campanha majoritária de Atila Jacomussi também de forma lícita e declarada. O restante foi utilizado pelo referido partido para atender à chapa de candidatos a vereador”, afirmou o parlamentar, em nota.
A nota de Jacomussi ressalta ainda que “a prestação de contas de sua campanha para prefeito de Mauá em 2012 foi aprovada pela Justiça Eleitoral sem nenhuma ressalva”.
A deputada estadual Vanessa Damo encaminhou posicionamento ao RD. Em uma das planilhas consta pagamento de R$ 100 mil para a campanha da parlamentar, que foi candidata a prefeita em 2012.
“Em resposta à suposta relação de doações eleitorais recebidas na eleição de 2012, tenho a declarar que todas as doações recebidas foram de acordo com a Lei Eleitoral vigente, que permitia as doações privadas para campanha. Declaro ainda que minha prestação de contas foi plenamente aprovada pela Justiça Eleitoral”.
Candidato a prefeito de Santo André em 2012, Nilson Bonome recebeu doação de R$ 200 mil em 1º de agosto de 2012 e mais R$ 50 mil em 17 de agosto, através do diretório do PMDB andreense, segundo os documentos. Seu apelido na planilha era “Futuro”. A campanha de Bete Siraque teria recebido doação de R$ 100 mil, segundo as planilhas.
Segundo a prestação de contas disponível no TSE, Marinho recebeu R$ 50 mil da Odebrecht em 2012. Bete e Vanessa receberam R$ 100 mil cada uma da Braskem, que pertence ao grupo.
A reportagem tentou contato com os demais citados, mas não obteve retorno.