Musical ‘Estúpido Cupido’ propõe uma avaliação do presente com canções

A atriz Françoise Forton até já se acostumou – basta o DJ da festa descobrir que ela está presente para tocar, em alto e bom som, a música Estúpido Cupido, na voz de Celly Campello. “Eu vejo como homenagem e até arrisco uns passinhos”, diverte-se ela, que se tornou a principal referência da novela Estúpido Cupido, exibida pela Globo em 1976, a última da emissora em preto e branco e um grande sucesso de audiência.

No papel de Maria Tereza, a Tetê, Françoise encarnou com perfeição o modelo de menina dos anos 1960, pudica, mas sempre curiosa ao que era considerado proibido. E, no final, seu rosto angelical e suas formosas curvas ajudaram-na a se consagrar Miss Brasil de 1961. É justamente das reminiscências desse período dourado e tão distante de que trata o musical Estúpido Cupido, que estreia sábado, 27, no Teatro Gazeta, depois de uma temporada de sucesso no Rio, e que festeja os 50 anos de carreira de Françoise.

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A personagem principal chama-se Tetê, mas não tem relação com a da novela. Assim como os outros personagens do espetáculo, que se passa nos dias atuais. É que a forma ardilosa com que Flávio Marinho construiu o texto faz com que todo um grupo de amigos volte no tempo e recrie, de alguma forma, aquele universo do folhetim. “Não tinha motivos para voltarmos à novela, que pertence à Globo. A solução foi criar uma festa de reencontro de colegas da escola, aquele momento em que se descobre como as pessoas mudaram fisicamente.”

Apresentadora de um programa de TV chamado Sossego, Tetê, também atriz famosa, é convencida por uma amiga, Ana Maria (Clarisse Derzié Luz, em divertida atuação), a ir num reencontro da turma de colégio, uma festa com músicas e figurinos dos anos 1960 e 70. Lá, Tetê reencontra não só a rival Wanda (Sheila Matos), como também o ex-marido Frankie (Renato Rabelo) e uma antiga paixão, Teddy (Luciano Szafir), um namorico do colegial, que não admite a passagem do tempo – ele não só chega de moto, inteiramente vestido como um conquistador, como trás na garupa Danielly (Carla Diaz), garota de 21 anos, totalmente antenada com a cultura dos anos 2010 e sem nenhum interesse em saudosismo.

É nesse momento que o conflito entre passado e presente se torna mais denso. “A encenação está baseada no espelhamento, que propõe um jogo teatral, onde saímos do realismo e o espetáculo ganha um tom mais poético”, explica Gilberto Gawronski que, pela primeira vez, em 35 anos de carreira, dirige um musical.

A inexperiência foi benéfica: ele não apenas mantém todos os 11 atores em cena, à medida que vão entrando no palco, como buscou valorizar a dramaturgia. “Estúpido Cupido brinca com a relação do tempo, o ontem e o hoje. Uma peça que se passa na atualidade, resgatando a ingenuidade, num descompromisso que tínhamos. O compromisso maior dos anos 60 era de se apaixonar, aí entra a figura e a ideia do Cupido”, detalha Gawronski.

A trilha sonora não poderia ser outra – inteiramente baseada no rock daquela época, 20 músicas que pontuam a ação dramática. Além da canção que inspira o título do musical, destacam-se Banho de Lua, Lacinhos Cor de Rosa, Tetê, Juntinhos, Broto Legal, Frankie, Teddy e Biquíni de Bolinha Amarelinha, entre outras. “São músicas emblemáticas e os arranjos são baseados nos originais. O diferencial é que, em Tetê e Juntinhos, fizemos uma transformação em bolero”, comenta a diretora musical Liliane Secco.

Françoise Forton lembra que, como o elenco não é especializado em musicais, houve adaptações. “Mabel Tude, por exemplo, criou a coreografia a partir do gestual de cada ator, o que facilitou o trabalho de todos”, observa ela que, durante a temporada carioca, foi surpreendia por uma atitude do público: ao final do espetáculo, as pessoas aproveitaram o espaço que havia entre o palco e a plateia para dançar. “Decidimos descer todos para bailar com as pessoas”, conta ela, que também instituiu o momento selfie, ou seja, sessões de fotos com os fãs, no saguão do teatro.

Se a festa se repetir com o público paulista (e toda a produção torce para que sim), as pessoas poderão aproveitar para ver uma exposição em homenagem à atriz principal, instalada no saguão do teatro Gazeta. Françoise Forton – A Incansável Guerreira da Arte traz imagens guardadas pelo colecionador Marcelo Del Cima que recuperam momentos marcantes de suas 45 peças, 32 novelas, participações em minisséries e seriados, além de 9 longas.

“Eu calculava que fossem 45 anos, mas o pesquisador Daniel Marano descobriu recortes de jornal que falam da minha estreia profissional em 1966, aos 10 anos, ao lado de Glauce Rocha e Jorge Dória, na peça Pais Abstratos”, conta a atriz.

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