
A descoberta de que o zika vírus está diretamente ligado a centenas de registros de recém-nascidos com microcefalia fez com que especialistas da área médica, antes avessos ao uso de repelentes por gestantes, passassem a indicar o produto por ser considerado a forma mais eficaz para se proteger do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti. O problema é tão grave que nesta quarta-feira (27), os ministros da Casa Civil, Jaques Wagner, e da Saúde, Marcelo Castro, se reuniram com fabricantes para discutir a distribuição do produto para grávidas cadastradas no programa Bolsa Família.
“Até pouco tempo não se recomendava o uso de repelentes para gestantes. Porém, tendo em vista o cenário atual e colocando na balança o custo-benefício, tornou-se imprescindível o uso de repelentes por mulheres grávidas”, afirma Rubens Wajnsztejn, professor de Neuropediatria da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil.
A indicação, porém, não significa o uso excessivo justamente para que não ocorra intoxicação, irritação da pele ou mesmo problemas respiratórios decorrentes da vaporização natural do produto aplicado. O médico dermatologista do Hospital e Maternidade Christóvão da Gama, Domingos Jordão Neto, recomenda conjugar o uso de repelentes, mosqueteiros e telas nas janelas.
O dermatologista também informa que o álcool é bastante usado na composição dos repelentes, principalmente os de spray, para que o produto evapore rapidamente na pele. “Por causa disso, é importante tomar cuidado com incêndios, na aplicação próximo a fogueiras e fogões, além de ficar atento com o manuseio feito por crianças”, diz.
Substâncias
Segundo Jordão Neto, os repelentes mais indicados são aqueles que têm, na composição, substâncias como DEET, presente em marcas, como OFF! e Repelex, Icaridina, principal composto do Repelex, e também produtos com um princípio ativo chamado IR3535. Há outros produzidos com substâncias naturais, como citronela, e até homeopáticas. É importante, na hora de comprar, observar no rótulo o tempo que o repelente é capaz de proteger contra picadas depois de aplicado na pele.
O uso em crianças com menos de dois anos de idade deve ser feito de forma cautelosa e, da gestora do curso de Farmácia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Cristina Vidal. A razão é que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não realizou nenhum estudo sobre a aplicação dos repelentes em crianças mais novas. “O uso só é permitido com a orientação de um pediatra ou dermatologista, mas mesmo assim o mais recomendado são aqueles à base de citronela ou homeopáticos”, completa.
Em caso de problemas desencadeados pela aplicação dos repelentes, Vidal afirma que o uso deve ser suspenso e que um profissional seja procurado para dar orientações mais precisas. Eventualmente, quem tem algum tipo de alergia pode sofrer algumas complicações, como irritações nasais, coceiras e manchas na pele. “Nesse caso, vale o bom-senso: não exagerar nas aplicações, mas também não ficar desprotegido”, conta Vidal.
Zika vírus fica pouco tempo
O professor de Neuropediatria da Faculdade de Medicina do ABC e presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, Rubens Wajnsztejn, explica que o zika vírus permanece somente de quatro a cinco dias em circulação no corpo humano, o que dificulta a identificação. Além disso, trata-se de infecção, na maioria das vezes, com sintomas pequenos e passageiros ou até mesmo nenhum sintoma. Isso faz a gestante sequer suspeitar de que foi infectada.
Quando ocorrem sintomas perceptíveis, os principais são febre baixa, náusea, dores de cabeça, de garganta, nas articulações e pelo corpo, manchas e lesões na pele. Em alguns casos pode ocorrer conjuntivite. Ainda se sabe pouco sobre esse vírus, originário da África e identificado primeiramente em macacos em 1947. “Nesse momento, estudos estão em andamento a fim de aprofundar os conhecimentos sobre o tema”, comenta.
(Colaborou Caíque Alencar)