ABC - segunda-feira , 29 de abril de 2024

Conta não fecha para a usina de São Bernardo, diz consultor

O projeto não fica em pé assim como não ficou em 2009 em São José dos Campos”, diz o consultor Sérgio Guerreiro, que integra o Conselho de Pesquisa em Tecnologia de Geração de Energia a partir de Resíduos (WTERT Brasil).

Durante o Simpósio Internacional sobre os Resíduos Sólidos, um das falas que mais chamou a atenção foi a do consultor Sérgio Guerreiro, que integra o Conselho de Pesquisa em Tecnologia de Geração de Energia a partir de Resíduos (WTERT Brasil).

Ele fez duras críticas ao modelo de usina encaminhado por São Bernardo, que é hoje uma das alternativas da região para resolver a destinação dos resíduos sólidos.

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“Do jeito que está com esta planta de triagem é inviável. A não ser que queira gastar mais do que o necessário. Se você vai reciclar 40 toneladas dia e se você conseguir R$ 30 por cada tonelada – que é o preço que se paga pelo material pet, um dos mais valorosos – isso da R$ 36 mil por mês e cerca de R$ 400 mil ano. Porém, uma planta dessa não sai por menos de R$ 40 milhões. A conta não fecha”, disse.

Segundo ele, a etapa da triagem é desnecessária. “O pré-processamento só deve atuar sobre o lixo pré-separado. Não pode ter pré-processamento sobre lixo misturado para aumentar a reciclagem. O projeto não fica em pé assim como não ficou em 2009 em São José dos Campos”, explicou. “Eu não sou novato no assunto e tenho patentes na Europa. A taxa de retorno será negativa se tiver a exigência dessa planta de triagem do lixo misturado. A reciclagem deve ser feita com separação na fonte, cuja taxa de aproveitamento chega a 75% e não 5% como prevê esse procedimento da planta de triagem”.

A usina de incineração de resíduos sólidos, segundo a prefeitura, poderá produzir 30 MW/h de energia, suficiente para iluminar todas as ruas e prédios públicos do município.
A proposta gera debates e divide opiniões. “Não é um negócio maravilhoso. É preciso fazer a conta. As máquinas são caras, consomem muita energia e são pesadas. Estou sendo advogada do diabo, pois plantas como a de São Bernardo não podem trabalhar com vapor em alta pressão e isso também vai diminuir a eficiência”, disse a professora Silvia Azucena Nebra, da Universidade Federal do ABC (UFABC).

Para o engenheiro Eleusis Di Creddo, conselheiro da ABLP (Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública), diversos países utilizam a incineração para diminuir os problemas ocasionados pela produção de resíduos sólidos e, consequentemente, gerar energia.

“O aproveitamento energético dos resíduos apresenta algumas vantagens em relação à tecnologia do aterro sanitário, pois usinas podem ser implantadas mais próximas dos centros geradores de resíduos, permitem a redução significativa de peso e volume do lixo, alem de não emitirem gases do efeito estufa e não prejudicarem o meio ambiente”, afirma.
Segundo Di Creddo, apesar de benéfica, a usina se torna muitas vezes inviável devido ao alto custo. “São instalações de alto custo de implantação e operação. Precisam de grandes quantidades de resíduos e de uma complexa conjunção de valores de venda de energia para que se viabilizem”, completa. A estimativa é que a usina de São Bernardo receba aporte de R$ R$ 3,6 bilhões por meio de PPP (parceria público privada).

Já a professora de Educação Ambiental e Meio Ambiente do Centro Universitário da Fundação Santo André, Angela Martins Baeder, integrante do comitê executivo do Projeto Brasil-Canadá (programa de cooperação entre os dois países para buscar soluções na questão de resíduos sólidos), as usinas não apresentam aspectos positivos. “Falar que a usina resolve o problema de destinação final do lixo é um ledo engano. Quando o lixo é incinerado ele não poderá mais se tornar matéria-prima da cadeia produtiva, um problema. Falar que o que for reciclável não será incinerado é mentira, pois o plástico e a borracha são as principais fontes de energia desta usinas”, explica.

Para Angela, a solução está no investimento público. “A incineração não vai acabar com o lixo. Ele apenas será esquecido, pois ocupará menos espaço. O que é necessário é investimento público em campanhas de educação ambiental para fazer com que as pessoas participem mais da coleta seletiva e diminuam o consumo de produtos que não podem ser reciclados”, completa.

Outro lado

Segundo o Diretor de Limpeza Urbana de São Bernardo, Maurício Cardozo, que participou e foi um dos palestrantes no Simpósio, a planta é viável. “Teve um plano de negócios e a empresa sabe de fato de todos os investimentos e taxa de retorno. Nesta questão estamos tranquilos “, explica. Foi feita uma PPP (Parceria Público Privada) de 30 anos.

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