William Dib teme fechar 2005 com déficit

Repórter – Como o senhor avalia as intervenções político-administrativas adotadas nos últimos anos?

William Dib
– Nesses sete meses, estamos tentando construir novas obras e manter o que já fizemos, mas modernizar a questão da gestão. Nossa principal preocupação no início do ano foi modernizar a administração, pois temos uma questão importante para resolver: os municípios estão cada vez mais pobres, o Brasil não está crescendo e precisamos otimizar recursos. É por isso que criamos um modelo de gestão diferente de tudo que existe em nosso Estado. Não sei se há no País algo parecido. Criamos algumas secretarias, três gerências que tomam conta de grupos de secretaria para otimizar dois tipos de recursos: o recurso financeiro, que é cada vez menor, e também recurso humano, pois cada vez que você contrata gente, endividamos o município no futuro com relação à aposentadoria. Com isso, queremos economizar recursos para atender mais a população e não aumentar impostos.

Repórter – Qual a principal deficiência de São Bernardo e o que sua administração está fazendo?

Dib
– Estamos enfrentando uma classe média que é pagadora de suas contas, de seus impostos, cada vez mais empobrecida. Nós tivemos em 2003 o ano mais difícil da história, na minha opinião, em que o Brasil cresceu só 0,4%, mas o agronegócio cresceu 8%. Então como nós não temos agronegócio, tivemos uma redução extremamente agressiva e empobrecedora das regiões metropolitanas. Em 2004, tivemos um crescimento do País de 4,5% alimentado pelo processo de exportação em que os municípios abriram mão, desde Constituição de 88, de qualquer imposto dos produtos para exportação. Então não temos direito a nenhum tributo. São Bernardo aprendeu a ser a terceira cidade de exportação brasileira e São Paulo não nos dá nenhum tributo por essa questão. Esse crescimento foi anômalo, não é um crescimento das receitas municipais. Cada vez mais nós temos uma dificuldade de gerar recursos. Como em São Bernardo não temos aumentado os impostos, nós vemos uma perspectiva cada vez mais difícil. Então, o que nós temos que fazer? Temos que enxugar a máquina, aumentar a produtividade da máquina para contrapor. Dividimos o governo em dois grandes blocos, o bloco do desenvolvimento econômico, procurar o desenvolvimento econômico a qualquer custo, com esse projeto do BID, o JICA, com os projetos viários, com os projetos de ocupação do solo, facilitadores para a implantação do sistema industrial e econômico e o outro é o que vai se beneficiar do desenvolvimento econômico, que é a área social. Precisamos pagar a dívida social com desenvolvimento econômico.

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Repórter – Um dos principais questionamentos da população é com relação à habitação. Quais os investimentos da Prefeitura e como estão as negociações com os governos do Estado e União para ampliar a oferta de unidades habitacionais na cidade?

Dib
– Temos investido gradativamente em políticas voltadas à recuperação de áreas degradadas e à preservação do meio ambiente. A conscientização da população sobre a importância da preservação tem impedido novos loteamentos e evitado que novas famílias se instalem em áreas já invadidas há anos. Isso é fundamental ao se tratar de uma cidade que ainda conta com 63 loteamentos cravados em áreas de proteção ambiental. Contamos também com algumas dificuldades para executar projetos, principalmente por conta das leis de proteção ambiental, mas avançamos muito e construímos com o aval do Ministério Público 65 bairros ecológicos, melhorando as condições de habitação, infra-estutura e saneamento de mais de 100 mil pessoas. Além disso, construímos 5 mil novas moradias, que beneficiaram diretamente 45 mil pessoas e mais de 60 mil pessoas indiretamente. Então nós queremos avançar mais, e estamos avançando, mas estamos praticamente sozinhos, pois no caso, por exemplo, do Parque São Bernardo, a Prefeitura tem realizado diversas obras lá, mas o projeto é em parceria com o governo federal, que atrasa demais os repasses, então acabamos tendo que fazer a obra em ritmo mais lento.

Repórter – São Bernardo tem o maior orçamento do ABC. O senhor teme que a crise política pela qual passa o governo federal possa afetar a economia?

Dib
– Olha, a crise política pela qual está atravessando o país não permite que eu já tenha todas essas definições para dar. Temos esperanças que não irão afetar. São Bernardo é uma cidade extremamente viável, até porque até 31 de dezembro do ano passado nós conseguimos honrar as nossas dívidas. Só temos as dívidas dos precatórios que estão em dia. Estamos pagando todos os nossos fornecedores em dia, mas aguardamos um déficit esse ano porque a economia brasileira vem dando sustos lentamente e os valores da inadimplência estão aumentando numa forma contínua. Isso nos preocupa e muito. Torcemos para que a crise política acabe logo para que comece a retomada do desenvolvimento econômico, que é fundamental para São Bernardo e para o Brasil. Se não houver uma retomada do desenvolvimento econômico no Brasil, nós teremos dificuldade para manter o nosso plano de governo, mas mais que isso, de pagar as nossas dívidas sociais. Mas não existe esse risco hoje. Ao continuar essa crise e essa dificuldade nas arrecadações públicas, nas receitas públicas, nós vamos encontrar caminhos muito difíceis pela frente. Porque se tem uma coisa que é muito difícil da gente hoje pensar, é no aumento de tarifas e impostos, e a sociedade como um todo já está subjugada pelo excesso de tarifas e impostos. Não há hoje uma idéia de melhorar ou aumentar tarifas e impostos. Então nós estamos melhorando o nosso sistema de cobrança, para todos pagarem, todos pagando melhora a qualidade do serviço.

Repórter – O senhor já se posicionou contra a guerra fiscal, mas não descarta a possibilidade de que, com infra-estrutura, atrair novos investimentos para São Bernardo. Como está essa política atualmente, em especial no bairro Cooperativa?

Dib
– Olha, uma coisa é diminuir tributos mínimos previstos por lei para tirar as empresas de suas cidades de forma ilegal, outra é melhorar as condições da cidade para podermos atrair novos investidores e para melhorar as condições dos que já estão instalados na cidade. Acontece que vários municípios estão fazendo uma política injusta, abaixando a alíquota em menos de 2% que é a alíquota mínima de ISS prevista em lei. Isso foi pauta da última reunião do Consórcio e a gente procura agora um escritório especializado em leis tributárias para a gente entrar com ações, contra os municípios e contra as empresas que estão praticando essa guerra fiscal. Quanto ao bairro Cooperativa, trata-se de um distrito extremamente importante, nós temos uma estrutura local, junto com a classe empresarial estamos desenhando um projeto de remodelação total do distrito industrial melhorando a infra-estrutura de água, de esgoto, fibra óptica de telefonia, iluminação pública e um novo complexo viário na região para o recebimento dos insumos e distribuição com mais facilidade, reduzindo preços que hoje são compatíveis com a questão da globalização, tendo assim preços mais competitivos dentro do mercado nacional e internacional. Mas temos condições de realizar investimentos.

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