
Um estudo realizado pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) revela que idoso conhece bem as mudanças climáticas, mas que precisa de informação sobre seus efeitos na saúde e sobre como contribuir para sustentabilidade. Coordenado por sete pesquisadores o estudo é parte da 31ª Carta de Conjuntura da USCS, lançada nesta terça-feira (25/03).
A pesquisa ouviu 115 homens e mulheres integrantes da Unisênior – Universidade Aberta da Terceira Idade da USCS – sendo a maioria deles (90,8%) maior de 60 anos, com presença majoritária de moradores de São Caetano (61,1%), mas também com pessoas que vivem em Santo André (18,9%), São Paulo (10%), São Bernardo (5,6%), Ribeirão Pires (3,3%) e Diadema (1,1%). Quanto ao nível de escolaridade 44% dos entrevistados têm curso superior o que demonstra alto nível de instrução. A amostra tem presença principalmente de mulheres, que correspondem a 88%.
Os pesquisadores da USCS apontam a maior vulnerabilidade dos idosos às mudanças climáticas, principalmente às ondas de calor. Praticamente todos os 115 entrevistados demonstram conhecer a situação; 99,1% deles já escutaram falar sobre as mudanças climáticas e reconhecem a ação humana como sua principal causa, porém a maioria relata não se sentir preparada para eventos climáticos. Também foram observadas práticas variáveis de hábitos sustentáveis e baixo conhecimento sobre ações de adaptação governamentais e comunitárias (82,6% desconheciam essas medidas).
Para o professor Daniel Vaz, coordenador do projeto “Fortalecimento de Capacidades para a Resiliência Local” na USCS, o resultado sobre o conhecimento dos idosos em relação às mudanças climáticas surpreendeu. “O idoso de hoje não é igual ao idoso do passado, hoje ele é mais informado, adoece menos e tem uma expectativa de vida mais alta. Isso aumenta a capacidade de enfrentar as mudanças. Mesmo assim esses números nos surpreenderam”, comenta.
“O idoso ocupa hoje um lugar de maior respeito na família que dialoga com ele e o impacto da informação (sobre sustentabilidade) é mais disseminado para outras faixas de idade”, diz o professor da USCS. Já quanto à aplicação do conhecimento na prática, ou seja, de uma atuação deste idoso em ações sustentáveis o resultado indica que ele precisa ainda de informação. “Em São Caetano, por exemplo, temos os ônibus gratuitos, que tem um aspecto de sustentabilidade quando a gente deixa o carro em casa para usar o transporte público, porém o idoso entendem essa situação mais como uma questão econômica do que sustentável. Outra coisa que afeta diretamente a vida do idoso, que é o preço dos alimentos, que o idoso precisa estar informado de que isso acontece por conta da produção, do clima, da falta de água”, comenta Vaz.
A pesquisa sobre mudanças climáticas com os idosos foi um desdobramento da primeira pesquisa feita no ano passado com público de outras idades. Segundo Daniel Vaz, essa pesquisa reunindo sustentabilidade e população idosa pode ser considerada inovadora. “Não tem outras pesquisas relacionadas a isso”, destaca. O professor diz ainda que mudanças já ocorreram na Unisênior da USCS à partir deste resultado, como a criação de um curso de artesanato usando materiais recicláveis.
O estudo conclui que, embora os idosos apresentem alto nível de consciência ambiental, é necessário fortalecer sua preparação e participação em estratégias de mitigação e adaptação climática, bem como melhorar a divulgação de políticas públicas nessa área. Para a professora Juliana Aparecida Boaretto, gestora do curso de graduação em fisioterapia da USCS e coordenadora da Unisênior, a comunicação do poder público pode ser mais dirigida aos idosos.
“A região tem uma ação diferenciada em ações voltadas para a sustentabilidade, mas falta uma comunicação mais esclarecedora. O ônibus gratuito ele (idoso) vê como uma questão mais econômica do que sustentável. O idoso já conhece a distribuição de sacolas para acondicionar o resíduo reciclável, mas as questões de sustentabilidade têm que ser mais aprofundadas, de uma forma mais aplicada na vida do idoso”, diz a fisioterapeuta.
Juliana diz que os idosos podem receber mais informações sobre os males do consumismo, sobre alimentação mais saudável. “Uma comunicação clara que fazça uma ponte entre o conhecimento e a ação, dá resultado uma vez que o idoso tem consciência de ações que impactam a sociedade. Quanto mais clareza, implicidade e objetividade essa informação chegar, e com exemplo palpáveis, melhor será o resultado. O idoso tem uma resistência em mudar de hábitos, mas isso é do ser humano de se manter na zona de conforto e isso vaise reforçando ao longo da vida e o idoso tem mais vivência, por isso a resistência maior. Importante ele saber que o clima o afeta e que ele pode viver, se proteger e proteger sua comunidade”, sustenta a professora.
A coordenadora da Unisênior diz que o tema está já na rotina dos idosos e é preciso só mais informação. “Eles comentam sobre qualidade do ar, das estações do ano que antes eram bem mais definidas, das temperaturas altas em pleno inverno, o ar seco e as inundações. Tudo isso faz com que o idoso sofra mais com doenças respiratórias e ele demora mais para se curar”, completa.
O professor Daniel Vaz concorda com a necessidade de informação. “Há uma necessidade de informação para esse público para que ele saiba que essa situação de mudanças climáticas não é temporária, isso é fundamental para que ele se proteja”, finaliza. Além de Juliana e Vaz, assinam a nota técnica da carta de conjuntura, Silbeth Arenas Cantillo, Miguel Ángel Navarro Domínguez, Flávio Lima Ramos, Lucas Almeida Oliveira dos Santos e Giovanna Fortunato.