Comando de greve diz que governo trata professores como moleques

Armando Caputi, professor e presidente da Associação dos Docentes da UFABC (Universidade Federal do ABC), afirmou em entrevista concedida ao RDtv, que assim como o governo a mídia não dá a devida atenção ao movimento de greve realizado por grande parte das instituições federais do País, paradas desde 17 de maio. Na UFABC, as aulas estão suspensas desde 5 de junho.

A principal reivindicação é a reestruturação do plano de carreira dos professores. Alegam que existem grandes diferenças salariais entre pequenas progressões na carreira e que o salário base também não está dentro do que considera justo. De acordo com o ANDES-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior ), o reajuste reivindicado é de 22,08%, referente à inflação e variação do PIB desde 2010. “O movimento é de natureza trabalhista, mas em defesa da educação pública”, ressalta.

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Caputi diz que nas instituições a estrutura é precária. Aponta que na UFABC há carência de laboratórios para alguns cursos e muitos equipamentos caros estão parados à espera para serem alocados. Diz que os professores conseguem desempenhar funções com o esforço adicional do corpo docente e técnico administrativo e com os estudantes suportando algumas dificuldades para dar conta de uma estrutura ainda não adequada.

Segundo o professor, o governo demonstra má vontade na condução das negociações, ao cancelar sem motivos claros reuniões com o comando de greve, apoiado pelos alunos. “ Há certa dose de arrogância e nos tratam como moleques, mas somos um movimento organizado e é necessário que nos levem a sério”, reclama Caputi.

Confira trechos da entrevista:

Repórter Diário: Quais são as principais reivindicações dos professores?
Armando Caputi -
 O principal ponto é a reestruturação da carreira docente no âmbito das universidades federais, mas também do ensino básico, técnico e tecnológico, junto com o segundo ponto de igual importância que é a melhoria das condições de trabalho nas diversas instituições do País.

RD: Este é um ponto que envolve a questão da infraestrutura na maior parte das universidades federais. Talvez a UFABC não sofra, por ter apenas cinco anos de existência. Pode nos dar exemplos de como isso interfere no cenário atual?
Caputi -
 A questão estrutural é um dos aspectos das condições de trabalho. Em algumas localidades do País, até próximas, como a UNIFESP de Guarulhos, talvez o caso mais retratado pela mídia, a infraestrutura é bem precária. Na UFABC, a questão estrutural não é tão grave, embora já tenha sido, pois já chegamos a dar aulas em galpões em algumas oportunidades. Das novas universidades, é uma das que estão em melhores condições, mas mesmo aqui, temos trabalhado acima da capacidade. Temos carência de laboratórios para alguns cursos e equipamentos caros e parados esperando para serem alocados, por exemplo. Conseguimos desempenhar nossas funções com o esforço adicional do corpo docente e técnico administrativo e com os estudantes suportando algumas dificuldades para dar conta de uma estrutura ainda não adequada.

RD: As negociações realmente estão estagnadas? Como se deu o cancelamento da última reunião, que aconteceria nesta terça-feira?
Caputi - 
O governo cancelou a reunião que estava prevista para acontecer neste dia 19 sem apresentar motivos claros, o que nos deixa um pouco incertos sobre a continuidade da negociação. Ela havia sido retomada no dia 12, pareceu ser um sinal positivo de que o governo finalmente havia decidido mudar de postura, mas com certa surpresa a reunião foi cancelada. O governo demonstra incerteza em assumir papel na negociação e certa de arrogância também, pois continua tratando o movimento como um bando de moleques.

RD: O cancelamento da reunião foi confirmado apenas no dia do encontro?
Caputi -
 Não me recordo se cancelaram um dia antes ou só no dia 19 mesmo, mas não houve aviso prévio. Infelizmente esta prática já vinha sendo adotada pelo governo até mesmo antes da greve, em vários momentos o governo desmarcou reuniões em cima da hora.

RD: Essa falta de comunicação faz com que se torne ainda mais difícil fazer previsão sobre o fim da greve?
Caputi -
 Sim, qualquer tipo de perspectiva seria mera especulação. O próprio governo, semana passada, anunciou a expectativa de concluir as negociações no início de julho, mas no passo seguinte, que seria apresentação das propostas, voltou atrás. Portanto, para nós fica difícil realizar qualquer tipo de previsão.

RD: A mobilização dos alunos não tem aparecido bastante em redes sociais e em manifestações.Como se dá hoje a relação entre alunos e professores na mobilização?
Caputi -
 No âmbito nacional, mais de 30 instituições também estão com alunos em greve. Na UFABC, em particular, desde o início, os estudantes se mobilizaram em torno das questões dos docentes e dos técnicos administrativos. Realizaram uma assembleia no dia 4 de junho, com mais de mim pessoas presentes, em ato bastante emocionante, e vem junto conosco desde então trabalhando, atuando, participando e discutindo. As redes sociais colaboram muito para isso com debates interessantes. Na UFABC, o clima é muito bom e com grande apoio por parte dos alunos.

RD: Existem outros atos já agendados?
Caputi - 
Ainda não, mas há uma série de atividades, de aulas públicas e de outros eventos para envolver familiares, que já estão programados. A ideia dos atos vai surgindo de acordo com o desenrolar dos fatos.

RD: Qual sua opinião sobre o espaço dado pela mídia ao movimento de greve?
Caputi -
 O espaço é pequeno, mencionam episódios isolados e talvez mais críticos e não entram muito no mérito da questão que está sendo proposta. Assim como o governo, os meios de comunicação não priorizam a educação no debate nacional. Nosso movimento é de natureza trabalhista, evidentemente, defendemos estes direitos, mas acima de tudo, nossa mobilização é feita em defesa da educação pública. Deveria ser um tema de interesse nacional tratado de maneira forte por todos os atores, inclusive a mídia, mas infelizmente isso não acontece.

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