Cada vez mais apreciados pelos consumidores, os brechós têm se destacado no mercado e desempenhado papel crucial na economia circular, que valoriza o máximo aproveitamento dos recursos e a redução do desperdício. Para se ter ideia, no ABC, há mais de 1 mil brechós ativos, enquanto na capital paulista são cerca de 1,8 mil estabelecimentos, conforme aponta o Sebrae-SP.
Os números indicam aumento entre 45% e 50% no número de brechós ativos, se comparado o período pré-pandemia, em 2019, com o cenário atual. Foi a crescente popularidade dos brechós aliado à maior conscientização sobre economia circular e consumo sustentável que fizeram com que as roupas seminovas ganhassem destaque. Hoje, elas representam 12% dos guarda-roupas brasileiros, e essa proporção deve subir para 20% até o próximo ano, conforme estudo do Boston Consulting Group.
Expansão da Rede
No ABC, a Peça Rara Brechó, que começou há 17 anos, é uma das principais redes de brechós do país. Com 180 lojas espalhadas pelo Brasil, a marca expande sua presença na região, com abertura de dez novas unidades, sob investimento de R$ 8 milhões.
No hall de negócios, o primeiro da região está localizado em Santo André, na av. Portugal, 1702, Jardim Bela Vista, com 330m² de área e um investimento de R$ 2 milhões. Outra loja que já está em operação na cidade é da Alameda São Caetano, 130 – no bairro Jardim, e em São Bernardo, a unidade da Avenida Kennedy, 285 – Jardim do Mar.
Bruna Vasconi, fundadora e CEO da Peça Rara Brechó, planeja abrir as demais lojas até o primeiro semestre de 2025. As novas lojas continuarão a oferecer produtos nas categorias feminina, masculina, infantil e decoração. “São boas oportunidades para os consumidores adquirirem artigos especiais a preços muito mais atraentes”, diz Vasconi. Os preços das peças, segundo a CEO, podem ser um terço do valor praticado em lojas de grife ou mercados tradicionais.
Até o momento, a expansão da marca no ABC gerou 150 novos postos de trabalho diretos e indiretos.

Atuação online
O Alfinete Vintage (@alfinetevintage) e o Z Camaleão @zcamaleao são exemplos de negócios que nasceram no ABC, especificamente em Santo André, e que hoje têm forte atuação no mercado de brechós online e também na participação de feiras presenciais, como a Feira de Brechós do ABC, que reúne mensalmente mais de 70 expositores em um só lugar para venda de produtos.
O brechó Alfinete Vintage está em funcionamento desde 2017, e embora tenha “nascido” em Santo André, a maior parte das vendas ainda ocorre em plataformas online, alcançando todo o Brasil. Mayara Lins Novaes, responsável e idealizadora do negócio, observa que embora o virtual fure a bolha de vendas na região, é nítido que o público do ABC tem se interessado cada vez mais por brechós e moda circular, contribuindo para o sucesso das marcas e fortalecendo o mercado regional.
“Por um tempo, só havia retorno vendendo e divulgando nosso trabalho em São Paulo, então ver o ABC se fortalecer nesse mercado é muito gratificante para quem é da região”, afirma a empreendedora. Segundo ela, o brechó Alfinete Vintage não se concentra apenas em marcas de grife, mas busca oferecer mistura diversificada e interessante para os consumidores, com foco na qualidade.
Hoje, embora as roupas ainda sejam o principal foco dos clientes, com demanda especial por peças masculinas, Mayara observa alta na procura por acessórios. E em meio a um mercado competitivo, a empreendedora conta qual sua estratégia de vendas. “Mostro todo o processo do meu trabalho nas redes sociais, onde crio um vínculo com os clientes. Muitos se tornam amigos e seguem fiéis nas compras e na participação de eventos de brechós também”, diz.
Reciclagem e Customização
Na Z Camaleão (@zcamaleao), a ressignificação de roupas de segunda mão através de interferências artísticas, reciclagem e customização faz a diferença. Carolina Zarantini, designer de moda e proprietária da marca, explica que o processo inclui curadoria dos produtos para estender seu uso e garantir a satisfação do cliente. “Nosso objetivo é fazer com que o consumidor se conecte com o produto e crie histórias a partir do que está usando”, diz.
Consumidora desde sempre das roupas de segunda mão, Carolina conta que o sonho do brechó nasceu ainda na faculdade, em 2019, como projeto de TCC no curso de Design de Moda. Hoje, o brechó virou oficialmente seu trabalho, e opera majoritariamente (90%) online, mas também em feiras presenciais.

A especialidade é a customização de itens, além do trabalho de garimpo e curadoria, com adicional de interferências artísticas como pintura manual, bordado, e upcycling (reciclagem), o que transforma cada peça em única. “Geralmente não busco nenhuma marca em especial, mas buscamos incentivar a forma de consumo circular com grande variedade de produtos customizados”, diz. Neste quesito, as bolsas e as peças vintage são as favoritas dos consumidores.
Curadoria e Vendas
Em ambos os negócios, as redes sociais são a principal vitrine, mostrando não apenas as peças, mas também os bastidores do trabalho, curadoria, customização e o processo de vendas até a chegada da peça ao cliente. No entanto, para criar conteúdo, as empreendedoras muitas vezes precisam desempenhar papéis de: garimpeira, costumizadora, vendedora e especialista em edição e postagem nas redes sociais.
Na Alfinete Vintage, Mayara diz realizar todo o trabalho sozinha, desde o garimpo até o gerenciamento financeiro e redes sociais, enquanto na Z Camaleão, Carolina diz ter ajuda da mãe, que auxilia tanto nos garimpos quanto na curadoria e vendas presenciais.
Dicas para Empreender
Para quem deseja empreender em brechós, as empreendedoras destacam a importância do foco, disciplina e paixão pelo trabalho. A seleção cuidadosa das peças também é fundamental, pois, muitas vezes, roupas de segunda mão necessitam de reparos, o que demanda trabalho e dedicação.
“Os clientes percebem o zelo que temos com as peças, e isso se torna nosso maior aliado na construção de uma história com o consumidor. Oferecer produtos em excelente estado também ajuda a combater o estigma de preconceito que ainda existe em relação a esse tipo de consumo”, orienta Carolina.