Além dos impactos econômicos e sociais, a pandemia do coronavírus também trouxe prejuízos à saúde mental, principalmente dos mais jovens. É preciso que escolas, pais e responsáveis fiquem atentos às crianças e adolescentes, que também viveram o momento do isolamento social e apresentam sintomas de sofrimento mental, como alerta a pediatra Maria Aparecida Dix Chehab, professora de medicina do Centro Universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), em entrevista ao RDtv.
Segundo a especialista, no Ambulatório de Medicina do Adolescente da FMABC houve aumento de casos de jovens com transtornos mentais, emocionais e de comportamento. “Observamos aumento nos casos de transtorno alimentar no sexo feminino e transtorno de comportamento e agressividade no sexo masculino, e com maior incidência na faixa etária entre 13 e 16 anos. Cerca de 80% dos nossos pacientes apresentam sofrimento emocional, causados pela pandemia”, aponta Maria.
A adolescência é um período de muitas transformações físicas e mentais e, para a pediatra, a pandemia trouxe impactos por conta do isolamento, das perdas de entes queridos, mudança de nível socioeconômico, entre outros. “Muitos adolescentes foram transferidos de escola particular para pública. Foram muitos fatores que trouxeram prejuízo à saúde mental desses pacientes, pois a adolescência já é um período que naturalmente traz muitas mudanças”, explica.
O Ambulatório atende pacientes entre 10 e 20 anos e conta com equipe composta por cerca de 30 profissionais de psiquiatria, ginecologia, psicologia, nutrição, fisioterapia, entre outras especialidades oferecidas pela FMABC. O atendimento é aberto a moradores de toda região, de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, na avenida Príncipe de Gales, 821, Vila Palmares.
Uso de Internet
A médica alerta sobre o tempo de tela em smartphones, computadores e tablets, que também registrou aumento durante a pandemia. “Estudos mostram que houve uma elevação de até 70% do tempo em que as crianças e adolescentes ficam em frente às telas. Nesse período desafiador para todos nós, as crianças e jovens tiveram que ficar mais tempo na internet por conta das aulas remotas, mas é preciso monitorar”, afirma Maria.
Para a especialista, a criança e o adolescente não têm maturidade suficiente para filtrar os conteúdos disponíveis na internet. “Muitas vezes os jovens estão na internet e os pais acham que eles estão estudando, mas eles podem acessar conteúdos inadequados à idade”, alerta Maria. “É fundamental dar orientação, inicialmente aos pais e responsáveis, pois os jovens entendem de informática muito mais que os pais e avós”, aponta e reforça que o uso de tela não deve ser consumido por crianças com idades abaixo de 5 anos, que ainda estão em desenvolvimento.
Ameaças de massacre nas escolas
Para a pediatra, a criança e o adolescente precisam de convivívio social para terem noção de respeito, limites, responsabilidade, cidadania e educação. “Esses jovens voltaram ao convívio social sem esses parâmetros. O Estatuto da Criança e do Adolescente descreve os direitos e deveres desses jovens, eles têm que entender o que é limite. Essa epidemia de ameaças deve ser observada de perto”, afirma Maria e ressalta que é preciso entender se é modismo e o adolescente quer se tornar popular ou se há algum trantorno mental.
A pediatra defende que sejam realizadas capacitações e orientações para pais, responsáveis e profissionais das unidades escolares, para que os casos de sofrimento mental sejam identificados e tratados. “A equipe da FMABC está de portas abertas às escolas que necessitem de ajuda com algum caso”, afirma.