Além do significado religioso da data, que para os cristãos representa a ressurreição de Cristo, a Páscoa é também uma importante data para o comércio. Durante a pandemia quem trabalha com chocolates sofreu muito, principalmente em 2020, pois a emergência de saúde explodiu um mês antes da data, quando a produção já estava pronta e sendo distribuída. Em 2021 não foi muito diferente, pois a pandemia estava no auge da segunda onda. Agora, a expectativa era de que em 2022, com a vacinação e os números da doença mais controlados, que o mercado estivesse mais animado, mas a aposta é conservadora, principalmente por causa dos preços.
A APAS (Associação Paulista de Supermercados) espera vender 36% mais ovos de chocolate este ano em comparação a 2020 e 2021. Segundo o economista da associação, Diego Pereira, o setor aposta mais nos produtos menores e mais baratos. “Neste ano, muitos supermercados mudam a configuração das ofertas de Páscoa, reservam espaços menores para as parreiras de ovos de chocolate, com apresentação de produtos menores (mais ovos de 250g, contra os de 500g a 1kg do ano passado), além de maior disponibilização de chocolates e bombons”, informa.
A preparação das lojas com os produtos sazonais de Páscoa visa aproveitar uma das melhores datas para o comércio do ano. “A Páscoa é a terceira melhor data para o varejo de alimentos, atrás do Natal e da Black Friday, e costuma elevar o ticket médio em 14%, em relação ao mês anterior”, estima Pereira.
Muito estoque
Para o empresário Osvaldo Nunes, fundador da Chocolândia, rede de oito lojas especializada em comercializar chocolates e outros itens para quem produz ovos de Páscoa para venda, diz que comprou 3 mil toneladas de matéria-prima, o mesmo volume do ano passado, mas o grande movimento esperado ainda não aconteceu. “Estamos bem abaixo da média, o movimento grande está atrasado, por isso estamos abrindo as lojas 24 horas para compensar, mas 50% desse volume comprado ainda está nas lojas”, comenta.
Nunes avalia que o consumidor está sem dinheiro e crédito. “Saímos de uma pandemia e entramos em outras, a da guerra (entre Rússia e Ucrânia) e a dos preços. Estamos num ponto de saturação; foram dois anos de pandemia e agora estamos numa época de preços altos e o nível de endividamento das famílias também está alto. Vendemos mais para os transformadores e muita gente está sem crédito para comprar”, analisa o empresário.
A Chocolândia contratou pessoal extra para dar conta do funcionamento 24 horas e atender ao público maior nesta época. Foram contratadas cerca de 150 pessoas, um incremento de 25% no número de funcionários.
Apesar das dificuldades, Osvaldo Nunes é otimista por considerar que o brasileiro sempre deixa tudo para a última hora. Diz que ainda dá tempo para quem faz ovo de chocolate em casa. Para contornar a dificuldade que o consumidor encontra, a Chocolândia investiu em promoções, como a produção de ovos de Páscoa de marca própria, feitos com chocolate de qualidade e preços que correspondem a 25% do custo dos ovos de marcas tradicionais. Tem também desconto na barra de chocolate ao leite Cicau de 2,1kg que sai por R$ 49,90 (preço normal era R$ 59,90). A rede ainda conta com sete variedades de barras de chocolate na promoção pague 10 e leve 11.
Compra antecipada
Priscila Ribeiro trabalha como chocolateira em Mauá e diz que conseguiu contornar os preços altos com compras fora da época e promoções. “Quando eu via uma promoção de leite condensado, por exemplo, eu já ia lá e comprava uma caixa, com o chocolate também fiz assim, tenho comprado desde janeiro”, relata. Mesmo assim a microempreendedora diz que os preços aumentaram muito, em média 60%.
Apesar dos preços elevados, Priscila diz que não tem do que reclamar. Acha que na pandemia o consumidor passou a valorizar o produto caseiro. Muita gente que comprava ovo de Páscoa no supermercado agora compra o seu chocolate, sempre tem clientes novos e todos chegam por rede social.
Uma das novidades que Priscila teve de adotar foi a entrega em domicílio combinada direto com o cliente. O negócio de produzir ovos de chocolate em casa é a continuidade de um legado deixado pela tia, que faleceu há quatro anos. “Como eu também faço embalagens personalizadas foi bom juntar as duas coisas e eu também não faço por valores absurdos, por isso é que tem dado certo. Eu não tenho o que reclamar”, completa. Um ovo de chocolate ao leite crocante de meio quilo sai por R$ 50; já o ovo de colher de 350g custa R$ 49. Priscila tem ainda um kit infantil que contém um ovo de chocolate, que vem com um copo personalizado e um presente que pode ser um fone de ouvido ou um relógio, por R$ 60. Encomendas ainda podem ser feitas pelo telefone 95777-2027.
Renata Furtado é outra empreendedora de Mauá, que recorreu aos doces para complementar a renda da família. Apesar de não produzir ovos de Páscoa, Renata faz pães de mel e nesta época as vendas ganham reforço. São cerca de 300 unidades/mês o ano todo. Mas os aumentos no preço dos insumos apertaram a margem de lucro. “As coisas aumentaram bastante principalmente o gás e a farinha. Eu não aumentei meus preços porque o vejo que o pessoal está sem dinheiro, mas vai chegar uma hora que o reajuste será inevitável”, diz Renata, que cogita revisar a tabela de preços depois da Páscoa.
As vendas dos produtos de Renata são feitas da forma mais tradicional possível, nas ruas e em roteiro que o marido Eduardo faz diariamente. Ela também aceita encomendas e faz entregas. Cada pão de mel em embalagem especial de Páscoa sai por R$ 7, mas há uma variedade grande de sabores e pacotes especiais. O casal comercializa kits que vão de R$ 15 a R$ 45. Encomendas podem ser feitas pelo telefone 98330-3616.