Deflagrada pela PF (Polícia Federal) nesta quarta-feira (9), a Operação Prato Feito, que investiga esquema de favorecimentos a empresas para os serviços de merenda escolar, resultou nas detenções do prefeito de Mauá, Atila Jacomussi (PSB), e do secretário de Governo e de Transportes, João Gaspar (PCdoB). Ambos foram encaminhados à sede da instituição, por suspeita de lavagem de dinheiro, na zona oeste de São Paulo, para prestar depoimentos.
O RD esteve presente em frente à sede da PF até a 0h desta quinta-feira (10) e teve a confirmação da detenção de Atila por meio de fontes de governo. Até um horário próximo, o pai do prefeito e presidente da Câmara de Mauá, Admir Jacomussi (PRP), falava para pessoas próximas que ainda não tinha notícias do filho. A situação gerou insegurança para integrantes do Paço e do Legislativo, que não sabiam o que ocorria.
De acordo com informações da PF, a Operação Prato Feito resultou na condução e detenção de três agentes políticos. Uma delas é o prefeito de Mongaguá, Artur Parada Prócida (PSDB), preso no litoral paulista pela apreensão de R$ 4,6 milhões e mais US$ 216,7 mil não declarados – que totalizam R$ 5,4 milhões. Já Gaspar foi flagrado com R$ 588,4 mil, enquanto informações apontam que Atila teria R$ 87 mil em espécie.
Segundo relatório de 354 páginas da delegada da PF Melissa Maximino Pastor, Gaspar teria participado em negociações de empresas que compõem um cartel nos serviços de merenda escolar, em Mauá, Peruíbe e São Sebastião em 2016, quando o prefeito mauaense exercia mandato de deputado estadual. Na ocasião, o secretário estava alocado no gabinete do socialista no Parlamento paulista.
Em São Sebastião, o braço direito de Atila teria auxiliado o empresário Carlos Zeli Carvalho, conhecido como Carlinhos, que atua em serviços de kit lanche, merenda e uniformes escolares, e limpeza, para uma contratação futura no governo do prefeito Felipe Augusto (PSDB), por meio de vantagens ilícitas.
Também quando estava junto a Atila no Legislativo estadual, Gaspar teria atuado como lobista no envolvimento no esquema da merenda para o pagamento de R$ 2 milhões a Carlinhos por parte do então candidato e posteriormente prefeito eleito de Peruíbe, Luiz Maurício (PSDB). O acordo seria mediante a uma vantagem ilícita, para quitar dívida contraída na gestão da antecessora no governo da cidade do litoral paulista Ana Preto.
Inclusive, segundo a PF, Gaspar recebeu R$ 138 mil de Carlinhos, valores que tinham Atila como destinatário final. Além do secretário, o prefeito foi beneficiado, conforme relatório da PF, por Samara Gomes Barlera, que também estava alocada no gabinete do prefeito, quando era deputado estadual, em 2016. Os recursos também vieram de Carlinhos, conforme escuta de áudios do empresário. Os pagamentos ocorreram com a finalidade de futura contratação pela Prefeitura de Mauá mediante a fraudes em procedimentos licitatórios.
De acordo com o Diário Oficial de Mauá, o governo Atila realizou licitação para fornecimento de uniformes escolares e homologou a empresa Reverson Ferraz da Silva ME como vencedora do certame, pelo valor de R$ 8,3 milhões. Segundo o relatório da PF, a terceirizada tinha como responsável Leandro de Carvalho, vulgo Bode, irmão de Carlinhos.
Apesar da detenção na sede da PF, o RD não conseguiu confirmar até o fechamento desta reportagem se Atila e Gaspar estavam encarcerados ou apenas prestando depoimento.
Nota do governo
Em nota, a Prefeitura de Mauá confirmou que a PF esteve no Paço nesta quarta-feira em busca de processos, porém, afirmou que os trabalhos foram referentes à administração passada. O governo disse que disponibilizou toda a documentação necessária e colabora com a investigação. Por último, o Paço assegurou que Atila compareceu voluntariamente à sede da instituição na Capital e o mesmo fez Gaspar.
Donisete teria viagem à Disney bancada por empresário
A PF aponta o ex-prefeito de Mauá Donisete Braga (Pros) como um dos responsáveis por possível fraude em licitações nos contratos da Le Garçon Alimentação, além da A Melhor Alimentação e Eventos, para fornecimento de kit de lanche e merenda escolar. Segundo relatório da Operação Prato Feito, o ex-chefe do Executivo e sua família receberam do empresário no ramo de fornecimento de merenda escolar, Fábio Favaretto, cerca de US$ 30 mil para despesas na viagem para Disney, nos Estados Unidos, em julho de 2015.
De acordo com as investigações, as empresas de Favaretto receberam R$ 5 milhões, na gestão Donisete, com contratos de alimentação, inclusive para fornecimento de merenda escolar. Por meio de mensagens de áudios do empresário, a PF aponta que o rompimento entre os dois se deu devido a uma dívida de R$ 2 milhões (veja trecho do diálogo abaixo). O ex-prefeito é enquadrado por corrupção passiva.
O RD procurou Donisete para entrevista e sua assessoria para propor um pronunciamento meio de nota, porém, o ex-prefeito não se manifestou em nenhuma das formas.
Orosco é citado em conversas, mas nega conhecer investigados
Ex-secretário de Obras em Mauá, José Carlos Orosco Júnior (PDT) foi alvo de preocupação em uma conversa de Favaretto com Carlinhos, pois pediria um volume abusivo em benefícios para consolidar o esquema de corrupção na merenda escolar, conforme diálogo. Orosco é citado como “vice”, pois era candidato a vice-prefeito na chapa de Atila, até ser substituído por Alaide Damo (MDB), mãe da ex-esposa e ex-deputada estadual Vanessa Damo (MDB), que ocupa hoje o comando da Secretaria de Relações Institucionais.
Na conversa, Favaretto disse que Orosco mandava em Ribeirão Pires, durante gestão do ex-prefeito Saulo Benevides (MDB), e que cobrava participação de 30% no esquema, embora publicamente, Orosco e Vanessa estivessem brigados com o ex-chefe do Executivo na ocasião. Por essa razão, o proprietário da Le Garçon recomenda a Carlinhos que procurasse diretamente Atila e dizia que com o prefeito mauaense, entrariam junto no “esquema”.
Citado por Favaretto e Carlinhos, Orosco negou conhecê-los e afirmou que tomará medidas jurídicas contra os dois. “Não conheço as pessoas. São dois bandidos que citam meu nome. Nunca tive influencia em Ribeirão Pires, até porque eu dei o partido ao prefeito (Saulo) e depois briguei com ele, tanto que nem deu apoio à Vanessa (na candidatura a deputada estadual em 2014). Vou processar todo mundo sem dó”, assegurou.
Orosco lança nota de repúdio à reportagem
O ex-secretário de Obras de Mauá José Carlos Orosco Júnior (PDT) se manifestou sobre a Operação Prato Feito, após a publicação da reportagem do RD, repudiando a ligação do seu nome com a investigação da PF (Polícia Federal), sobre desvio de recursos públicos de um cartel da merenda escolar pelo Estado. O pedetista reiterou que não conhece os empresários Carlos Zeli Carvalho, conhecido como Carlinhos, e Fábio Favaretto, integrantes do esquema, segundo apurações.
Abaixo, segue a nota do pedetista:
Repudio com veemência o erro do Jornal Repórter Diário que tenta relacionar meu nome com a denúncia de esquema de desvio de dinheiro público e fraudes da Operação Prato Feito. Reafirmo: não conheço estes dois bandidos que citaram meu nome e nunca me envolvi com nenhum ilícito. Sou cidadão de bem e vejo nesta tentativa desvairada de envolver meu nome com esta quadrilha, como um mote para desestabilizar a minha candidatura a deputado federal pela região do Grand ABC. Ressalto ainda que estes erros atrapalham demais a democracia e fazem com que as pessoas de bem se afastem cada vez mais da política, impedindo a renovação e favorecendo a manutenção dos mesmos nos cargos que ocupam, sem fazer absolutamente nada pelo povo.
Posicionamento do RD
O RD esclarece que diferentemente como atribuíram ao link da reportagem, não publicou o texto “os candidatos a Deputados Federais DONISETE BRAGA PT/PROS (tenho 2 milhoes pra esta eleição) e OROSCO JÚNIOR estão sendo denunciados em esquema de desvio de dinheiro público e fraudes”. Vale frisar que há erros textuais e noticiosos que fogem da prática jornalística, como citar que o ex-prefeito Donisete Braga ainda tem vínculo com o PT, sendo que ele está filiado apenas no Pros. Tampouco é comum a utilização de caixa alta (caps lock) em redação de um profissional de imprensa. Para finalizar, Orosco não é denunciado na Operação Prato Feito e tampouco a matéria afirmou tal situação.