Crise amplia oferta de pontos comerciais

Número de salas, salões e lojas aumentou por conta do fechamento de estabelecimentos (Foto: Pedro Diogo)

Passa-se o ponto. É cada vez mais comum placas com esses dizeres na frente de estabelecimentos comerciais no ABC. Em alguns casos, os empreendimentos ainda estão até abertos. Em outros, os proprietários não suportaram os custos e fecharam as portas antes que algum interessado aparecesse. Sinal da crise econômica que afeta o Brasil inteiro.

Exemplo é a loja de instrumentos musicais Reference, localizada na rua Alvarez de Azevedo, no Centro de Santo André. Estabelecida no mesmo local há 20 anos, a empresa baixou as portas e resolveu focar esforços na filial, inaugurada há oito anos, na rua Teodoro Sampaio, em São Paulo. “As vendas estão fracas na unidade paulistana também, mas lá está melhor do que aqui porque a Teodoro Sampaio é o principal ponto de venda de instrumentos musicais do País”, diz Fábio Matavelli, gerente ao explicar que o faturamento da loja de Santo André já não era suficiente para pagar custos como aluguel.

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A empresária Josefina Mei, proprietária da loja Michelle Mei, em Santo André, também colocou placa de “passa-se o ponto em frente” à sua loja, aberta há cinco anos na rua Elisa Fláquer, também no Centro. Vendas fracas são a razão. “Não tenho vendido quase nada. Queda total nas vendas. Tenho tirado dinheiro do bolso para pagar as contas da loja”, reclama. Josefina diz não saber mais o que fazer para atrair clientes. “Se não houvesse necessidade de pagar aluguel eu até tentaria manter a loja aberta por mais tempo, mas não dá”, comenta.

O problema já atingiu o setor de locação de imóveis comerciais como explica a corretora da Ashlar Serviços Imobiliários, Camila dos Santos Garcia. “A oferta de salas, salões e lojas para locação aumentou bastante nos últimos meses. Também percebemos crescimento da rotatividade. O empreendedor aluga e pouco tempo depois entrega o imóvel porque o negócio não foi para frente”, comentou.

Macroeconomia
Flávio Martins, presidente da Sociedade Oliveira Lima (SOL), entidade que reúne lojistas da principal rua comercial de Santo André concorda que a situação está difícl e observa que a política macroeconômica com aperto do crédito e aumento das taxas de juros são os grandes responsáveis pelo cenário no comércio. “Aqui na rua Coronel Oliveira Lima a gente não vê esse problema, mas nas imediações ele é comum. A baixa rentabilidade associada à perda de capacidade de consumo dos trabalhadores contribuem para o fato”, afirma.

Martins, no entanto, ressalta que nem tudo pode ser colocado na conta da crise. Durante o período de bonança, quando a economia só crescia muitas pessoas abriram estabelecimentos sem o devido conhecimento. “Estavam preparados para vender bem, mas não para conviver com a crise. Mas nem todo mundo fecha. Há quem se muda de um ponto mais caro para outro mais barato”, explica.

Números oficiais escondem realidade
Curiosamente, os números de abertura e fechamento de empresas apresentados por cinco prefeituras da região – Diadema e Rio Grande da Serra não responderam à reportagem – não refletem a realidade que se vê nas ruas. Nos primeiros seis meses do ano, foram abertos em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires 7.471 empreendimentos (indústria, comércio e serviços). No mesmo período do ano passado foram abertas 7.580 empresas, ou seja, apenas 109 a mais, o que dá a impressão de que se há uma desaceleração, ela é bem pequena.

Quando se compara o número de fechamentos, a diferença com a realidade parece ser mais gritante. Em 2014, 3.943 empresas fecharam as portas contra 2.162 nos primeiros seis meses deste ano, ou seja, 1.781 encerramentos a menos. Com base nesses dados a impressão é de que a crise estava forte no ano passado e não agora.

O economista Sandro Maskio, da Universidade Metodista, explica que a disparidade ocorre porque não são todas as empresas que registram oficialmente o encerramento das atividades. Para fechar é preciso estar com o pagamento de impostos em dia e numa situação de crise muitos empresários estão em dívida com o fisco. A solução encontrada é deixar a empresa inativa até conseguir recursos. “Tem empresa que fica inativa por vários anos. E, claro, isso não entra nos registros das prefeituras. Na prática, o estabelecimento está fechado, mas para a Prefeitura é como se estivesse aberto”, explica.

No que diz respeito à abertura de empresas, o que ocorre é que com o desemprego, vários trabalhadores tentam empreender e abrem estabelecimentos próprios como microempreendedores individuias (MEI). Na prática, não são empresas e sim trabalhadores que passam a atuar como pessoas jurídicas.

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