Cadeirantes amargam horas nos pontos à espera de ônibus adaptado

Alessando Queiroz espera em vão subir num ônibus adaptado, na v.Metalúrgica, em Santo André / Foto:Rodrigo Lima

Encontrar ônibus adaptado é uma tormenta para quem depende de cadeira de rodas. Nesta quinta-feira (01), o tetraplégico Alessandro Queiroz Cândidos, de 38 anos, tentou embarcar na linha sentido Capuava, em Santo André, mas desistiu depois de uma hora de espera. No total, quatro ônibus passaram pelo ponto localizado na rua Sidney, vila Metalúrgica, e nenhum possuía elevador de acesso para cadeirantes. “Infelizmente essa é a realidade de muitos portadores de deficiência física”, lamenta.

Alessandro costuma utilizar os transportes coletivos em São Paulo e compara a qualidade com os de Santo André. “Todo mês faço fisioterapia intensiva no Butantã e os ônibus na Capital são adaptados com rampas e não correm o risco de falhas mecânicas como os daqui do ABC com elevadores”, aponta.

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Ao observar a frota durante uma hora no ponto de ônibus da Estação Prefeito Saladino, em Santo André, o RD verificou a circulação de 26 veículos de oito linhas. Mas apenas dois, da mesma linha, eram adaptados para cadeirantes. Em outro ponto escolhido também pelo grande fluxo de ônibus municipais, em frente à Prefeitura de São Bernardo, foram observados 53 ônibus no mesmo período de tempo. Destes, 31 eram adaptados para portadores de deficiência física.

O ABC tem uma frota superior a 1,3 mil veículos. Em cinco cidades mais de 150 ônibus municipais ainda não foram adaptados para atender pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Faltam 96 em São Bernardo, 45 em Mauá, 9 em Ribeirão e 5 em São Caetano. Apenas Diadema possui a frota, de 200 ônibus, totalmente adaptada. 

Lei da Acessibilidade

Contatadas pelo RD, as prefeituras de Santo André, com 404 veículos em 48 linhas, e Rio Grande da Serra não se manifestaram até o fechamento desta matéria. “Santo André está atrasado nisso”, diz José Carlos Bueno, presidente da Acide (Associação pela Cidadania das Pessoas com Deficiência).

São Bernardo informou, por meio de nota, que o custo estimado para a renovação da frota é de R$ 2,5 milhões. De acordo com o decreto n° 5.296/04, até dia 02 de dezembro de 2014 a frota de transporte coletivo rodoviário brasileiro, assim como a infraestrutura dos serviços na área, deverão estar totalmente acessíveis.

Para José Carlos Bueno, os municípios devem, além de adaptar a frota, adequar o funcionamento das plataformas, que nunca funcionam. “O deficiente passa muito tempo esperando e acontece de o ônibus chegar com o elevador quebrado”, diz Bueno, que estimula os deficientes a serem independentes e levarem uma vida normal. “O transporte público é a porta de entrada que viabiliza essas e outras ações”, afirma.

O presidente da Acide critica o descaso para com o deficiente que precisa atuar no mercado de trabalho. “A lei incentiva a inserção nas empresas, porém não temos como chegarmos ao trabalho, por absoluta falta de transporte adaptado”, afirma Bueno, também cadeirante. 

Transporte alternativo é desviado da função

As prefeituras disponibilizam veículos para transporte de deficientes físicos, a maioria destinada à saúde ou educação. Segundo José Carlos Bueno, Santo André possui oito vans adaptadas que transportam os cadeirantes aos hospitais locais através de agendamento, mas essa não deveria ser a única funcionalidade dos veículos. “Quando o projeto foi implantado na gestão do ex-prefeito Celso Daniel, as vans serviam como uma alternativa para o deficiente se locomover, sendo utilizado inclusive para lazer”, aponta o presidente da Acide. A Prefeitura de Santo André não respondeu também sobre este questionamento da Acide.

Ribeirão Pires segue o modelo apontado por Bueno através do Seta (Serviço de Transporte Acessível), destinado aos portadores de deficiência em saídas, como supermercado, praças, cabeleireiro e passeios diversos, além dos hospitais e rede municipal de ensino com agendamento prévio.

São Bernardo dispõe de 3 vans e 1 micro-ônibus da saúde adaptados para as pessoas com deficiência, além de vários outros veículos para os demais pacientes. O transporte sanitário se responsabiliza pelo deslocamento de pacientes que precisam de atendimento em outras cidades do ABC, da Grande São Paulo e do Interior, onde existam clínicas e hospitais especializados conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

São Bernardo também disponibiliza 39 veículos adaptados para transporte de 129 alunos cadeirantes da rede pública municipal. Em parceria com o governo federal, o município receberá mais três ônibus adaptados.

Saúde

Em São Caetano, o programa Mover disponibiliza transporte adaptado para pessoas com consultas ou tratamento agendado, e também leva os alunos para as escolas. Cerca de 120 pessoas são beneficiadas atualmente com o serviço.

Mauá também oferece veículos com função ambulatorial e escolar, com vans adaptadas para alunos da rede municipal que realizam acompanhamento terapêutico educacional no Centro Municipal de Educação Inclusiva (Cemei), na vila Magini.

Diadema conta com dois veículos grandes adaptados com capacidade para duas cadeiras de roda, que fazem transporte para hospitais e clínicas. Outro veículo transporta pacientes fora do município, além de uma van para moradores em tratamento na AACD e Lar Escola São Francisco. Na área da educação, hoje já são transportadas cerca de 200 crianças com uma frota de 26 carros (van, kombi e master bus).

Este ano, Diadema recebeu cinco micro-ônibus do Programa Caminho da Escola, do Ministério da Educação, para serem utilizados no transporte de crianças com deficiência. Os veículos entram em funcionamento neste semestre. 

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