
O número de matrículas em creches no ABC cresceu nos últimos quatro anos, conforme o Censo Escolar 2024, divulgado em abril. A região tem 44,5 mil crianças de 0 a 3 anos de idade matriculadas em creches, uma alta de 14,41% em relação a 2020. Porém, em São Bernardo e São Caetano houve queda de matrículas, de 17,26% e 8,34%, respectivamente. Mesmo onde o crescimento de vagas foi maior há bairros com falta de vagas, enquanto em outros sobram. Especialista em educação ouvido pelo RD, considera que essa distorção ocorre por falta de planejamento.
André Stábile, presidente fundador do Instituto Educacionista, membro efetivo do Movimento pela Base Nacional Comum Curricular e ex-secretário de Educação de Mogi das Cruzes e São Caetano, aponta que a sobra de vagas em determinada região e a falta em outra ocorre por falta de um planejamento integrado de todas as áreas da administração pública juntamente com os números do crescimento populacional.
Para Stábile, em São Caetano existe um número adequado de creches e vagas, até alguns espaços ociosos, mas em geral, no Brasil os espaços não estão adequados. “Em São Bernardo, por exemplo, no bairro Montanhão o acesso a creche é difícil porque é uma região da cidade que tem uma curva demográfica muito grande. O fato é que não atendemos 100% das crianças, na principal fase de desenvolvimento, que é de 0 a 3 anos de idade, por falta de planejamento”, analisa.
Para o especialista em educação, o planejamento educacional deve ser feito vinculado a outros planos, como os planos diretores, como o plano de habitação, planos para a saúde, entre outros. “Não adianta colocar escola no local A, se a população cresce mais para a região B, assim vamos ter vagas ociosas porque não tem crianças e crianças sem vagas. Para isso temos indicadores populacionais confiáveis, mas aí os gestores vão dizer que é melhor ter algum atendimento do que não ter nenhum; isso é fato, mas o ABC já passou dessa fase de garantir só o atendimento, precisa ter qualidade, a educação precisa ser prioridade número 1. Tudo piora se não tem uma boa educação”, completa.
Estabilidade
Enquanto a região tem crescimento de matrículas de 14,41% em quatro anos e redução de vagas em creches em duas cidades, os números mostram uma alta de 172,1% nas matrículas em Diadema. A Prefeitura não enxerga um crescimento tão grande. Considera, somadas creche e educação infantil, que a 17.164 vagas ofertadas este ano, um número estável nos últimos 10 anos. Considerando só as creches, faltam 320 vagas nas regiões norte e leste da cidade, enquanto que, na cidade inteira, sobram vagas.
Para o secretário de Educação de Diadema, Felipe Sartori Sigollo, a educação infantil na cidade, das crianças em creches e na pré-escola, não variou muito na última década. Relata que há uma diferença entre as regiões da cidade, onde alguns bairros têm sobra de vagas e há falta em outros. “Essa é uma característica da cidade. Temos uma carência de 320 vagas nas regiões norte e leste, que compreendem os bairros Campanário, Canhema, Vila Nogueira, Jardim Casa Grande, Gazuza e Promissão, enquanto sobram vagas na região sul. Este ano ofertamos 5.001 vagas e foram preenchidas 4.842, portanto temos 159 vagas de sobra”, enumera.
Para Sigollo, não foi feita análise detalhada da demanda de cada bairro de acordo com o crescimento populacional, o que gerou a discrepância. “No passado ninguém fez esse recorte e isso tem se mantido há muitos anos. A creche tem de estar perto da casa das pessoas e ao analisar a fila identificamos essa situação das zonas norte e leste, então a gente vai reforçar o trabalho nessas áreas principalmente com as creches conveniadas. Não vamos construir creches novas; temos muita confiança nas entidades parceiras, que são históricas em Diadema e vamos fortalecê-las. A primeira infância é prioridade desta gestão e vamos resolver essa fila de espera”, destaca o secretário.
São Bernardo
De acordo com os números do Censo Escolar, em quatro anos as matrículas em creches de São Bernardo caíram 17,26%, o que corresponde a 2.384, vagas, o que equivale ao número total de matriculados em Ribeirão Pires. A Prefeitura diz que faz um planejamento anual, mas que a procura diminuiu.
Para Stabile, nos últimos cinco anos, ao considerar o atendimento de crianças do Infantil III (faixa etária considerada de creche pelo Censo Escolar), é visível o aumento no número de atendimento em período integral. Em 2025 temos 15.436 matrículas de creche, enquanto que, em 2021, eram 17.356 estudantes matriculados, o que evidencia a diminuição na procura de vagas para faixa etária. “Reforçamos que a pasta tem realizado estudos de demanda e análises das estruturas prediais de nossas unidades escolares, bem como vem buscando ampliar a rede de parceiros, por meio de chamamento público na perspectiva da ampliação de oferta ao atendimento em nossa rede. Essas ações já vêm surtindo efeitos, permitindo cada vez mais aumentar a oferta de atendimento às crianças de 0 a 3 anos”, afirma.
Em Rio Grande da Serra, apesar da alta de 8% nas matrículas entre 2020 e 2024, ainda há crianças na fila de espera por vagas, sendo a cidade outro exemplo que tem creches com vagas sobrando e regiões onde não tem vaga.
“Neste ano há 840 alunos matriculados em creche, sendo que são ofertadas 1.014 vagas , restando um saldo de 174 vagas em aberto. Apesar de termos em torno de 140 crianças em lista de espera, temos 174 vagas em aberto e entendemos que a demanda pelas vagas se dá pela localidade de algumas unidades escolares”, diz Rio Grande da Serra, em nota.
Ribeirão Pires, que de 2020 até o ano passado, já tinha aumentando em 8,17% as vagas para creches, diz que neste ano se programou para atender a uma demanda crescente. “A Prefeitura ofertou mais vagas devido ao aumento da demanda em vagas para o ensino de 0 a 3 anos. Também neste ano, foi implantado o sistema de pré-inscrição online, que facilitou o pedido por parte dos responsáveis. Em caso de novos pedidos de matrículas, a secretaria atende e direciona os alunos às unidades, de acordo com a demanda”, detalha a Prefeitura, em nota.
Em Santo André o número de creches aumentou 4% em quatro anos, de acordo com o Censo Escolar, e a Prefeitura diz que para 2025 as matrículas caíram e que sobram vagas. No ano passado eram 8.709 matrículas contra 8.370 em 2020, porém para este ano a Prefeitura aponta uma redução em número de matriculados; são 8.259, ou 450 matrículas a menos. A Prefeitura diz que sobram 250 vagas no seu sistema. O município informou que desde 2017 construiu 10 novas creches e que está fazendo estudos para construir outras. Atualmente está em construção a creche Profª Maria Nilma, na Vila Guarani.
As prefeituras de São Caetano e Mauá não comentaram o assunto.