O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado nesta quarta-feira (02/04), reforça a importância do diagnóstico precoce e do acesso a tratamentos especializados para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Segundo especialistas, identificar os sinais ainda na primeira infância faz a diferença no desenvolvimento e na qualidade de vida do autista, permite a adoção de estratégias adequadas para sua adaptação e bem-estar.
O psicólogo e analista do comportamento Carlos Almeida, colaborador do CRP (Conselho Regional de Psicologia) no ABC, explica, em entrevista ao RDtv, que o autismo tem origem multifatorial, sem um único fator genético ou ambiental que o provoque. “Sabemos haver influências que vão desde o período da gestação até fatores ambientais, mas ainda não há uma causa única que determine o TEA, tornando ainda mais importante o diagnóstico precoce”, diz.
Diagnóstico do TEA
O conceito do Transtorno do Espectro Autista engloba características antes associadas a diferentes transtornos do neurodesenvolvimento. Com isso, cada vez mais especialistas atuam no diagnóstico e no tratamento. “Hoje, psicólogos, pediatras, psiquiatras, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais trabalham juntos para realizar uma avaliação mais precisa”, aponta Almeida. Segundo ele, quanto antes o diagnóstico for realizado, melhor será o prognóstico, ao possibilitar intervenções precoces que favorecem o desenvolvimento da criança.

O TEA é identificado a partir de dois principais eixos, sendo um deles os déficits na comunicação e na interação social, dificultando a construção de relações interpessoais. Já o outro aborda comportamentos repetitivos e interesses restritos, como movimentos estereotipados e hipersensibilidade sensorial.
Segundo o especialistas, os primeiros sinais surgem a partir dos quatro ou cinco meses, mas o diagnóstico final geralmente ocorre entre um ano e meio e dois anos. A família deve observar sinais como falta de contato visual, ausência de resposta ao chamado pelo nome e pouco interesse em interações sociais. “Ao notar qualquer característica diferente, é essencial buscar um especialista para iniciar a investigação. Mesmo que não seja TEA, a intervenção precoce esclarece o quadro e garante o melhor suporte para a criança”, comenta.
SUS e autismo
Uma das questões temas de seminários e eventos do Conselho Regional de Psicologia envolve a atuação do SUS, tanto para o diagnóstico quanto o tratamento do TEA. Quando um possível caso de TEA é identificado em uma UBS (Unidade Básica de Saúde), a criança é encaminhada para especialistas ou diretamente para um CAPS Infantil (Centro de Atenção Psicossocial Infantil). No ABC, também há centros especializados que oferecem suporte a crianças e suas famílias.
Para o psicólogo, é essencial fortalecer políticas públicas para garantir o acesso ao diagnóstico e tratamento. “Ainda precisamos considerar fatores como classe social, gênero e raça para que ninguém fique sem assistência. O diagnóstico precoce não pode ser um privilégio de poucos”, destaca.
Popularização
Apesar da popularidade do TEA crescer, seja com informações verdadeiras ou falsas, Almeida destaca que a visibilidade do autismo permite que adultos que nunca compreenderam certos comportamentos finalmente se identifiquem com o espectro e busquem um diagnóstico tardio. “Muitas pessoas passaram a vida sem entender por que se comportavam de determinada maneira. Quando descobrem serem autistas, ganham uma nova perspectiva sobre si mesmas”, explica.
Mesmo que tardio, o diagnóstico pode trazer um impacto significativo. “Algumas pessoas conseguiram construir suas carreiras e famílias sem entender sua condição, enquanto outras enfrentaram dificuldades por não saberem o motivo. O diagnóstico traz um novo olhar sobre suas experiências e pode transformar sua relação com o mundo”, diz.