
Inaugurada na quarta-feira (19/03) a Clínica de Cannabis Medicinal de Ribeirão Pires, a primeira no país a fazer a distribuição gratuita do canabidiol, faz uma triagem para que os pacientes em maior vulnerabilidade sejam atendidos. A proposta é atender cerca de 50 pacientes ao mês, através da PPP (Parceria Público Privada) com a Associação Terapêutica Flor da Vida, entidade de Franca-SP e que já produz o óleo com diferentes concentrações para cada tipo de uso e paciente.
Para ter direito ao medicamento os pacientes precisam estar cadastrados no CadÙnico, o Cadastro Único do governo federal para repasses de verbas para populações mais carentes e também não são para todas as doenças. Pelo programa são atendidos portadores de TEA (Transtorno do Espectro Autista), quem tem alzheimer, mal de Parkinson, epilepsia ou fibromialgia. Segundo o médico Laerte Rodrigues Júnior, da rede municipal de Ribeirão Pires e um dos responsáveis por viabilizar a parceria, a clínica vai receber os pacientes da rede pública e fará uma triagem. Além do cadastro no programa do governo federal o paciente também tem que comprovar ser morador de Ribeirão Pires e ter um laudo apontando a doença. “Essa triagem é para que a gente possa atender as pessoas mais vulneráveis. Quem não se encaixa pode ter o medicamento apenas sendo associado da entidade, que hoje tem mais de 20 mil associados, mas aí é fora do programa municipal”, explica.
Segundo Rodrigues Júnior as redes municipais, por enquanto ainda não prescrevem o medicamento à base de canabidiol, mas isso deve mudar, primeiro porque Ribeirão Pires tem uma lei específica sobre o uso da cannabis medicinal, que foi um projeto do próprio Guto Volpi (PL) enquanto vereador, e depois porque haverá um treinamento para os médicos da rede. “Nós temos duas emendas parlamentares, uma foi para o Centro de Terapia Gratuita e o outro é para o treinamento da rede para receitar. Isso já chamou atenção de outras prefeituras, pelo menos de duas cidades da região”, disse o médico.
Tudo começou com uma reunião de intenções com o mesmo objetivo que acabou com a inauguração da clínica em pouco tempo. “Eu levantei esse fomento há cerca de cinco anos, falei com o então prefeito Clóvis (Volpi) e com o Guto, que se envolveram. Aí tinham o deputados Eduardo Suplicy e Caio França que já batalhavam por isso na Assembleia, e a Associação Terapêutica Flor da Vida já tinha interesse em vir para cá, porque Ribeirão estava mais adiantada nesse sentido, então foi uma questão de juntar as pontas soltas”, diz o médico.
Laerte Rodrigues Júnior explica que o medicamento é confiável, que é preparado com muito cuidado e que tem trazido a melhora na qualidade de vida de muitas pessoas. São oito concentrações diferentes do óleo para uso sublingual, um spray nasal para quem tem crises convulsivas e uma pomada. “É impossível não ter uma melhora, tem uns que tem resultados melhores que outros, depende da concentração ou da dosagem, cada pessoa é diferente da outra. Eu já tive paciente com Parkinson que não conseguia mais escovar os dentes de tanto que tremia e hoje anda de moto e toca violão. Crianças autistas que nem se sentavam à mesa para uma refeição e hoje brincam na escola com outros colegas, tem casos em que a cannabis inibiu o avanço o Alzheimer, então é um ganho de vida para o paciente, para sua família e seus cuidadores. Imagina uma mãe de criança com TEA poder deixar o filho na escola ou na creche e ter uma vida normal, poder ir trabalhar porque seu filho está bem, para ela será uma alegria indescritível”, comenta.
De acordo com o médico aos poucos se quebram barreiras, mesmo entre os médicos e da sociedade sobre o uso da cannabis medicinal. Ele diz que não é possível mensurar quantos poderiam ser beneficiados só em Ribeirão Pires, pela rede não ter esse diagnóstico e ainda não receitar. “Isso (a PPP) pode trazer um excelente resultado para o SUS porque traz uma expectativa de diminuição da busca por atendimento médico e também do uso de muitos medicamentos. 500 pacientes, que é a nossa meta, não é nada num país como o nosso, mas é muito para essas famílias, se tiver 500 atendimentos em cada cidade já vai ser uma vitória enorme. Hoje, dos cerca de 550 mil médicos no país, 60 mil são prescritores de canabidiol, mas já é alguma coisa, quando eu comecei não chegava a mil. Temos aqui o pensamento de fazer funcionar e vamos provar isso sem manipular dados, apenas com os resultados”, promete.
A iniciativa deve o apoio da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC e do Consórcio Intermunicipal. Segundo Rodrigues Júnior agora, com o ingresso de São Paulo no consórcio, como o oitavo membro do colegiado de prefeitos, a multiplicação de ações como a de Ribeirão Pires é muito possível. “Se nós aqui conseguimos atender 500, a maior cidade da América Latina consegue pelo menos umas 2 mil pessoas e vai levar isso para o resto do país”, completa.