O ABC tem se consolidado como um importante espaço para o surgimento de novos talentos literários. Entre eles estão Josy Asca, autora de Lute como uma Professora Negra, e Mariana Higa, que estreia com o romance Cavala. Ambas participaram de uma entrevista ao RDtv, onde compartilharam detalhes sobre suas obras, trajetórias e os desafios enfrentados no mercado editorial, além de abordarem as temáticas sensíveis que permeiam suas narrativas.
Josy Asca, professora da rede municipal de São Paulo, utiliza a literatura como extensão de sua luta antirracista e como uma poderosa ferramenta pedagógica. Com um repertório que inclui O Amor Não Tem Cor, Akin e Sua Cor Preciosa e sua participação na coletânea infantil Pretinhas e Pretinhos Incríveis, Josy dedica sua produção literária à reflexão sobre o racismo estrutural e à promoção de uma educação antirracista. Seu mais recente livro, Lute como uma Professora Negra, apresenta métodos práticos para que educadores abordem o tema em sala de aula, além de destacar os desafios enfrentados por professores e estudantes no combate às desigualdades sociais.
“Eu escrevo as histórias que queria ter lido na infância”, afirmou Josy Asca ao comentar sobre a falta de representatividade negra na literatura durante sua juventude.
Já Mariana Higa, formada em Letras e com uma trajetória anterior no setor de Recursos Humanos, estreia na literatura com Cavala, lançado recentemente na FLIP. O romance aborda temas como o abuso infantil e as dificuldades enfrentadas por vítimas ao buscar um aborto legal, ambientando a narrativa durante a ditadura militar no Brasil. Mariana também traz a escritora Clarice Lispector como personagem na obra, explorando um possível convívio entre a protagonista e a icônica autora.
“A ideia de inserir Clarice foi mostrar como a literatura pode transformar vidas, especialmente em momentos de crise”, explicou Mariana, que também destacou a influência de Toni Morrison na construção de sua narrativa.
Ambas as autoras discutiram os desafios enfrentados por mulheres no mercado editorial brasileiro, com destaque para as dificuldades vividas por mulheres negras. Josy enfatizou que as grandes editoras ainda oferecem poucas oportunidades para escritoras negras. Mariana, por outro lado, destacou o papel das editoras independentes, que vêm abrindo espaço para novos talentos.
“Ainda temos um mercado injusto, mas as mulheres estão ganhando mais visibilidade, o que nos dá esperança de um futuro mais inclusivo”, afirmou Josy.
A inclusão de obras de autoras mulheres e negras nos currículos escolares, como nas listas de vestibulares, também foi debatida durante a entrevista. Ambas acreditam que iniciativas como essa podem refletir positivamente na sociedade, ampliando o acesso a narrativas diversas e contribuindo para uma mudança cultural significativa.