
As prefeituras do ABC relatam o aumento de demanda por atendimento em oftalmologia, que chega a 409% no caso de Santo André. As cidades também informam investimentos nesta especialidade médica e o encaminhamento via Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde) para ambulatórios e hospitais de referência do Estado, mesmo assim há casos de pacientes que ficam meses a espera de cirurgia e vendo seus casos se agravarem, como é a situação do motociclista Wellington Rodrigues, que mora em Ribeirão Pires e há pelo menos cinco meses aguarda para passar com um cirurgião para cuidar do seu problema de catarata e descolamento de retina.
A prefeitura de Santo André detectou um aumento de 409% na demanda por procedimentos oftalmológicos no último ano. Em nota a prefeitura explica que não faltam profissionais e que o município tem 86 oftalmologistas contratados para esse atendimento. A prefeitura diz que não há filas e que a espera por consultas e exames é de até 30 dias. “Somando os atendimentos das duas antigas unidades do município, este ano, após inauguração do Poupatempo da Saúde, em fevereiro, tivemos um aumento de 409% (nos procedimentos)”, diz a prefeitura. O município diz ainda que tem especialistas em retina, por exemplo e que faz cerca de 250 atendimentos por mês.
Em São Caetano também houve aumento de demanda, que foi de 21% do ano passado para cá e, mesmo não tendo falta de oftalmologistas, há uma pequena fila, mas a prefeitura garante que os atendimentos acontecem em até 30 dias. “Não temos falta de especialistas em oftalmologia. Hoje, São Caetano conta com 33 profissionais que atendem além de oftalmologia geral, especialidades como glaucoma, retina, córnea, estrabismo, pediatria e neonatologia. Além disso, oferece todos os exames oftalmológicos. Em até 30 dias os pacientes são atendidos. Hoje temos 130 pacientes aguardando”, diz nota da prefeitura. Só especializados em retina a prefeitura de São Caetano tem cinco médicos que atendem cerca de 600 pacientes ao mês.
A prefeitura de São Bernardo não informou se houve aumento de demanda nesta especialidade, mas garante o atendimento inicial e os exames e atendimentos mais especializados são feitos pela Faculdade de Medicina do ABC. “As consultas são realizadas nas duas Policlínicas Municipais (Centro e Alvarenga) e os exames e procedimentos cirúrgicos no Ambulatório da Faculdade. O tempo médio entre encaminhamento e consulta com o especialista é de, no máximo, 90 dias”, diz informe da prefeitura.
Diadema informa que conseguiu reduzir em 30% a fila de espera na especialidade de oftalmologia, mas não falou o tamanho desta fila. A medida tomada foi aumentar a carga horária de trabalho dos oftalmologistas. “Diadema conta com 21 médicos oftalmologistas na rede municipal, entre especialidades e oftalmologia geral. Não há falta de profissionais. O Quarteirão da Saúde atende todas as especialidades oftalmológicas, inclusive especialistas em retina, e, quando necessário, o paciente é encaminhado a serviços de referência do Estado, via regulação”, diz o paço diademense, em nota.
Ainda de acordo com a prefeitura de Diadema, muitos dos pacientes precisam de um atendimento multiprofissional para tratar também de outras comorbidades, por esse motivo não estimou um tempo médio de espera pelos atendimentos e procedimentos. “Pacientes atendidos pela especialidade de retina, geralmente, possuem outras comorbidades importantes, que necessitam de acompanhamento conjunto com outros médicos clínicos e especialistas, para melhor tratamento efetivo. O tempo de espera pode variar de acordo com a especialidade e prioridade de cada caso. Com a ampliação de carga horária de profissionais de oftalmologia geral, em 2022, houve redução de aproximadamente 30% da fila de espera dessa especialidade.
Mauá e Rio Grande da Serra não responderam aos questionamentos do RD.
Já em Ribeirão Pires, onde Rodrigues mora, a prefeitura não relatou aumento de demanda e que os atendimentos são feitos no Centro de Especialidades Oftalmológicas que, contudo, não realiza cirurgias. “Casos que demandem cirurgia, como é o caso do senhor Wellington Rodrigues, são referenciados para unidades de saúde estaduais, e o encaminhamento é feito via CROSS”, explica a prefeitura.
Vítima de um acidente de moto, ocorrido há dois anos, Rodrigues tem assistido o seu estado de saúde piorar. Primeiro o trauma trouxe problemas na retina que foram seguidos e uma catarata. Ele conta que tentou ser atendido na prefeitura, onde apenas recebeu um encaminhamento para especialista em retina para cirurgia, porém nada mais responderam. “Perdi praticamente toda a visão do olho direito e eu trabalho como motoboy. Agora que fui tentar renovar a minha carteira, não passei no exame de visão. Estou sem trabalhar, fiz alguns trabalhos em comércio aqui perto de casa, mas a minha vida parou totalmente, preciso retomar, mas não consigo fazer a cirurgia para voltar a enxergar do olho direito”, lamenta o morador de Ribeirão Pires que precisa trabalhar para sustentar três filhos, um do primeiro casamento e dois que vivem com ele e a esposa.
Além do trabalho que faz falta para o sustento da família, Rodrigues reclama do medo de ficar sem enxergar e da dor. “Arde, é como se tivesse areia ou sabão no olho o tempo todo. Não consigo trabalhar, qualquer poeira ou luz muito forte incomoda”, lamenta o morador de Ribeirão Pires.
O motoboy disse que já foi a outras cidades a equipamentos de saúde do Estado e não conseguiu agendar a cirurgia. Contatada pelo RD, a Secretaria Estadual de Saúde, prometeu um avanço no atendimento de Rodrigues já no próximo mês de dezembro. “O Ambulatório Médico de Especialidades (AME) Barradas informa que o paciente W.R. é acompanhado pela equipe de oftalmologia da unidade, com exames pré-operatórios agendados para o dia 2 de dezembro e consulta com anestesiologista para o dia 13 do mesmo mês. Após esta última consulta, o paciente será avaliado por especialista em cirurgia oftalmológica para análise de possível procedimento cirúrgico”, informa a pasta estadual.