ABC - segunda-feira , 5 de maio de 2025

Feira debate uso da cannabis para fins medicinais e industriais

Entre 15 e 17 de novembro, no São Paulo Expo, aconteceu a segunda edição da Expocannabis, a maior feira do setor na América Latina. O evento reuniu mais de 35 mil visitantes e contou com 300 expositores para discutir o uso medicinal da planta, mas também o potencial agregado em diversas indústrias, além de combater estereótipos sobre seu uso medicinal, que já beneficia 600 mil brasileiros, segundo estudos da Kaya Mind.

Em entrevista ao RDtv, Larissa Uchida, CEO da Expocannabis, ressalta a importância de romper tabus e ampliar o conhecimento sobre os diversos usos da planta. Segundo ela, ainda existem preconceitos associados à cannabis no Brasil, e, com isso, o evento tem como objetivo mostrar que a planta vai além do uso medicinal, sendo aplicada em setores como alimentos, biocombustíveis, tecidos e até materiais de construção. Apesar de mais de meio milhão de brasileiros utilizarem a erva para fins medicinais, o acesso aos tratamentos ainda é restrito, devido ao alto custo dos medicamentos e à falta de conhecimento tanto entre profissionais da saúde quanto na sociedade em geral.

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(Foto: Reprodução/RDtv)

Segundo Larissa, um dos principais desafios para a expansão do uso da cannabis medicinal no Brasil é a ausência do tema nas grades curriculares de cursos da área de saúde. “O sistema endocanabinoide, essencial para entender como a cannabis atua no organismo, não é ensinado nas universidades. Isso dificulta a prescrição de medicamentos e limita o acesso dos pacientes”, explica.

Para preencher essa lacuna, a Expocannabis promoveu conferências voltadas a médicos, dentistas, farmacêuticos e outros profissionais da saúde. Para a executiva, sem formação adequada, não será possível avançar na promoção da cannabis medicinal, e por isso, o evento foi oportunidade para educar profissionais e capacitar novos prescritores, ampliando o alcance dos tratamentos.

Acesso

Atualmente, o custo elevado é um dos principais entraves para o uso da cannabis medicinal no Brasil. Medicamentos disponíveis em farmácias chegam a R$ 2.500 por mês, enquanto produtos importados têm preços a partir de R$ 800. Alternativas mais econômicas incluem o autocultivo, com sementes custando entre R$ 30 e R$ 50, e associações especializadas que oferecem suporte aos pacientes.

A Primeira Seção do STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu, no dia 13 de novembro, por unanimidade, permitir o cultivo de uma variedade da planta Cannabis sativa com baixo teor de substância psicoativa, desde que exclusivamente para fins medicinais. Para isso, estabeleceu um prazo de seis meses para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamentar o cultivo da planta, representando um marco para o setor. “Com a regulamentação do cultivo, teremos condições de produzir medicamentos no Brasil, reduzindo custos e tornando os tratamentos mais acessíveis”, comenta.

Evento reuniu mais de 35 mil pessoas em três dias de evento, além de 300 expositores (Foto: Divulgação/ExpoCannabis)

Além desse avanço, a CEO também destaca a importância da inclusão de medicamentos à base de cannabis nos programas do SUS (Sistema Único de Saúde), representando um passo significativo para democratizar o acesso e beneficiar pacientes que precisam dos medicamentos.

Economia e sustentabilidade

Além do impacto na saúde, segundo Larissa, a regulamentação da cannabis tem potencial de transformar a economia brasileira. Em sua previsão, o setor movimentaria até R$ 26 bilhões por ano, gerando 389 mil empregos. “O Brasil tem terra, clima e uma população numerosa, com um mercado consumidor crescente. Quem sabe até se tornar um dos líderes globais no setor”, comenta.

A sustentabilidade também é um diferencial importante. A planta é carbono positivo, eliminando CO2 da atmosfera durante o cultivo, além de regenerar o solo e utilizar menos água do que outras commodities. Além disso, a cannabis é 100% aproveitável, portanto suas sementes, fibras, folhas e flores são usadas em diferentes indústrias, sem gerar desperdício.

Durante o evento, a Expocannabis promoveu ações voltadas à sustentabilidade, como a compensação do carbono gerado pela feira, destacando o papel da planta na redução de problemas ambientais.

“O mercado já existe e está em expansão, mesmo sem regulamentação plena. A feira mostra como a cannabis transforma não só a saúde, mas também a economia e a sustentabilidade do país. Com tantas pessoas que compareceram no evento, a Expocannabis se mostra como um termômetro do potencial da cannabis no Brasil”, explica Larissa.

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