Ruas de cidades do ABC voltaram a registrar alagamentos nesta semana, problemas que se repetem há décadas quando chove um pouco mais forte. Em casos de tempestades, então, são comuns enchentes e deslizamentos de terra, até com vítimas fatais. As prefeituras elencam série de ações e obras de micro e macrodrenagem destinadas a eliminar ou ao menos mitigar o drama, como construção de piscinões e piscininhas, canalização de córregos e serviços de limpeza e zeladoria.
Para Marta Marcondes, bióloga, professora e coordenadora do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) da Universidade Municipal de São Caetano), são iniciativas que até ajudam, mas não resolvem no todo, porque se trata de uma questão que exige planejamento e soluções integradas entre as sete cidades.
A especialista argumenta que rios e córregos que cortam as cidades e a região não foram colocados no planejamento urbano quando o crescimento dos municípios começou a tomar as várzeas para onde os corpos d’água extravasam em época de chuvas.
Para Marta, não dá mais para pensar em um município isolado, porque o rio Tamanduateí, por exemplo, nasce em Mauá e deságua em São Paulo, depois de passar por Santo André e São Caetano. “Então, não dá para pensar em uma solução que seja de um único município, não vai adiantar. Os municípios têm de conversar para que possamos, sim, ter uma integração de soluções para essas questões”, comenta.
Marta Marcondes lembra que é um ciclo natural e que todos os anos os rios e córregos têm cheias, e a água vai subir e ocupar as áreas de várzea que eram de seus domínios, e que o curso dos rios, na maioria dos casos, foi retificado e os mesmos colocados em linha reta, o que aumenta a velocidade da água.
Para além disso, a professora aponta que a impermeabilização do solo faz com que a água da chuva chegue mais rapidamente e com maior volume aos leitos, o que resulta no extravasamento. “Pronto, já vimos que colocar o rio em um canal e fazer piscinão não são as melhores soluções”, diz.
Questionadas sobre iniciativas voltadas ao combate às enchentes, alagamentos e inundações, Santo André, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires – Mauá, São Caetano e Rio Grande da Serra não responderam – informaram que ao longo do ano realizam série de medidas, como limpeza de bueiros, galerias e bocas de lobo, desassoreamento e limpeza das margens de rios e córregos, entre outras ações de zeladoria urbana.
Repensar a ocupação de margens
Marta Marcondes aponta medidas que poderiam ajudar a proteger os corpos d’água e minimizar os impactos causados pelo transbordamento. Explica que em uma cheia, a água vem do rio para o bueiro, e do bueiro para a rua, não ao contrário. Daí a necessidade de o poder público repensar a ocupação das margens e das marginais construídas ao longo dos rios e córregos.
Soluções imediatas, como plantar árvores de mata ciliar nas margens dos rios, porque elas seguram mais o solo e evitam que resíduos tomem os leitos desses rios, podem ajudar, segunda Marta. Diz que isso é uma solução muito importante que deveria ser pensada com mais carinho pelos municípios, e não simplesmente deixar a margem do rio ‘careca’, porque faz com que a água escorra mais rapidamente para dentro do rio.
“Uma coisa que a gente pode pensar enquanto municípios, não um, mas todos, é estabelecer novamente a questão da introdução de plantas de mata ciliar que existiam nas margens desses rios. Isso é uma solução rápida, barata, prática e que dá para fazer. Também se pode implantar jardins de chuva e parques alagáveis, que as pessoas saberiam que aquele local vai alagar quando chover, mas pode ser usado enquanto não tiver chuva”, sugere.
Marta Marcondes avalia que o tempo provou que os piscinões não são uma solução duradoura, porque difíceis no acesso e nas ações de limpeza, mas que reservatórios menores poderiam ajudar, sobretudo porque facilitariam a manutenção capaz de deixá-los sempre preparados para captar a água da chuva. “Melhor que façam coisas que a gente já falou mil vezes, como os parques alagáveis, os jardins de chuva e verticais, as escadas de absorção, o que faz com que as cidades consigam absorver a água antes que ela chegue na baixada do rio e cause alagamentos”, sugere.
Ações das prefeituras
A Prefeitura de Santo André afirma que durante todo o ano realiza trabalhos voltados ao setor de drenagem, com limpeza e desassoreamento de rios, córregos e reservatórios (piscinões), roçagem de margens de córregos e rios, varrição mecanizada, manutenção de galerias pluviais, podas e remoções de árvores. Também cita obras em andamento, como a canalização do córrego Maurício de Medeiros, melhorias nos Núcleos Missionários/Toledana, São Jorge, Portelinha e Espírito Santo, a construção de galerias na Avenida Queirós Filho, ampliação da capacidade de armazenamento do piscinão e construção de sete piscininhas na região da Vila América, entre outros serviços.
Apesar das medidas, nos últimos dias foram registrados pontos de alagamento em locais como avenida dos Estados x rua Ayrton Senna, avenida dos Estados x avenida Antônio Cardoso e rua Almirante Tamandaré, principalmente ocasionadas por obstrução das bocas de lobo, problema que informa já ter solucionado.
Santo André informou ainda que até dezembro vai receber o Plano Municipal de Redução de Risco atualizado. Que contratou o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para atualizar o plano, com o objetivo de garantir um referencial técnico e gerencial que permitirá a implementação de mais ações estruturais e não estruturais de forma organizada e eficiente.
São Bernardo
Ações preventivas semelhantes também são adotadas pela Prefeitura de São Bernardo, para prevenir acidentes e minimizar os impactos que possam ser causados em decorrência de chuvas fortes. Entre as medidas estão limpeza de piscinões, estações elevatórias, bocas de lobo e córregos.
Segundo a administração, desde 2017 já investiu em torno de R$ 500 milhões em obras estruturantes de combate aos impactos das chuvas, como construção de taludes e contenção de encostas em 30 pontos, entrega do Piscinão do Paço, canalização dos córregos Saracantan, Pindorama, dos Lima e Ribeirão dos Couros, reforma e ampliação das elevatórias e obras de micro e macrodrenagem, entre outros serviços.
Diadema
Diadema também elenca a limpeza e manutenção periódicas de bocas de lobo, galerias de águas pluviais e de pequenos canais para o combate a enchentes, alagamentos e inundações. Além disso, obteve R$ 6 milhões do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) para elaboração do Plano Diretor Municipal de Manejo de Águas Pluviais.
A implantação do plano está em andamento e será realizado o cadastro georreferenciado das redes macro e micro de todo o sistema de drenagem, para mapear o que a cidade tem de infraestrutura e no que ela pode ser melhorada e ampliada. O objetivo é diminuir os pontos de enchentes, reduzir os prejuízos causados pelas inundações e facilitar o monitoramento e a manutenção de todo o sistema.
A Prefeitura também conseguiu, em outubro, aporte de R$ 20,9 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, para canalização de córregos, entre os quais o Viela Fortaleza, no bairro Eldorado. Também obteve, junto à Caixa, verba de R$ 3 milhões para canalização do Ribeirão dos Couros, que, quando concluída, acabará com vários pontos de enchentes em Diadema.
Ribeirão Pires
A Prefeitura de Ribeirão Pires afirma que realiza ações antienchentes ao longo do ano, que são intensificadas no período mais chuvoso, que vai de novembro a março. Entre as ações, destaca o desassoreamento de rios e córregos e a limpeza das margens. Segundo a administração, até outubro o serviço de zeladoria da cidade limpou em torno de 79 quilômetros de rios. Levantamento feito pelo Instituto Geológico (IG) aponta que na cidade existem 31.136 edificações em áreas de risco.