A tecnologia da eletrificação nos veículos já está por aqui, mas nós não estamos ainda capacitados. O alerta é de Ricardo Pereira Trefiglio, professor e coordenador de Inovação no Conjuscs/USCS, um dos autores do livro ‘Da Bomba ao Plug: o Brasil, a descarbonização e a indústria automotiva’’, a ser lançado no próximo dia 26 de novembro. A obra tem como objetivo lançar luz sobre os desafios que a cadeia produtiva instalada no Brasil precisa superar para também ser ponta de lança na transição para as chamadas tecnologias limpas, processo que já está alguns passos à frente em outras partes do mundo.
A publicação, que reúne artigos de 31 especialistas das mais diferentes áreas, também se propõe a provocar a discussão e a união do poder público, das universidades, das empresas, associações e sindicatos em torno do futuro da própria indústria automotiva, em face da urgência de medidas voltadas ao enfrentamento de modelos que afetam o meio ambiente.
Para tratar do tema, o RDTv recebeu nesta semana três dos quatros organizadores da coletânea para falar sobre alguns pontos tratados no livro, que tem prefácio assinado pelo vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Além de Trefilio, participaram da entrevista Simona Adriana Banacu dos Santos, doutora e mestra administração pela USCS; e Wellington Messias Damasceno, diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
‘Da Bomba ao Plug’ traz artigos de dirigentes de associações empresariais, montadoras, fornecedoras, startups, consultores acadêmicos, gestores públicos, jornalistas e sindicalistas que, para além dos modelos de motorização (combustíveis), debate a necessidade do desenvolvimento tecnológico. Também aponta que é fundamental a integração dessas plataformas com sistemas e ecossistemas de inovação regional e internacional.
Simona diz que é necessário superar barreiras colocadas na infraestrutura urbana, a urgência em encontrar soluções para o forte impacto que a mudança poderá ter sobre empregos, qualificação e renda, para a disputa pela distribuição regional de investimentos e as políticas públicas e privadas orientadoras desse processo. “É uma abordagem muito ampla e multifacetada, porque hoje é uma realidade que a gente está vivendo, a eletrificação dos automóveis está com tudo, está aqui, e vários debates são gerados a partir dessas novas tecnologias”, pondera.
Para Ricardo Trefligio, a discussão em torno da adoção de energia limpa nos veículos tem sido debatida por todos, porque existe a preocupação de como o setor vai se projetar para os próximos anos no que tange à nova tecnologia. Assim como Simona, cita a geração de emprego e a qualificação, que vai além do ‘chão de fábrica’ e envolve mecânicos e prestadores de serviços, como frentistas.
Caminhões e ônibus
Trefiglio afirma que a nova tecnologia já está por aqui, mas não estamos ainda capacitados. Tem todo um trabalho do ente público para fazer essa participação, junto ao setor privado, de capacitar e conscientizar sobre essa mudança que está tendo, e que já é real. “Hoje nós vemos uma quantidade enorme de veículos elétricos, como carros pequenos, mas também já se fala bastante em eletrificação de caminhões e ônibus. Então a gente tem de estar preparado, ter preocupação quanto à infraestrutura que vai ser afetada, como nos condomínios, nos shoppings, e até mesmo nas ruas. Portanto, é preciso oferecer acessibilidade ao usuário dessa nova tecnologia, a essa eletrificação”, aponta.
Para o dirigente sindical Wellington Damasceno, qualquer mudança de paradigma, como já ocorreu quando da robotização de parte do processo produtivo de veículos, assusta e causa forte preocupação entre os trabalhadores e sindicalistas, sobretudo quando se pensa no emprego e geração ou corte de postos de trabalho.
Segundo Damasceno, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC já tinha iniciado discussões com associações empresariais em relação ao futuro do setor, principalmente no ABC.
“Essa é uma coletânea de vários artigos que apontam que o Brasil pode percorrer caminhos que não são um só caminho, são vários caminhos que podem levar a gente à descarbonização, aproveitar potenciais brasileiros, como o etanol, o desenvolvimento do hidrogênio”, comenta o metalúrgico.
Desafios às claras
“Mantendo nosso hub de motor a combustão para fazer uma transição, principalmente no caso dos híbridos, mas também pode desenvolver, do ponto de vista tecnológico, preparar e capacitar os nossos trabalhadores e trabalhadoras, inclusive as redes de serviço, para a gente também caminhar para a eletrificação. Então, acho que esse livro traz alguns caminhos e, principalmente, coloca os desafios às claras para a gente também pensar políticas públicas que podem dar conta desses desafios”, completa Damasceno.
‘Da Bomba ao Plug’ aborda o tema das novas plataformas de motorização veicular, como os veículos elétricos, híbridos, a biocombustível e a hidrogênio, cujas tecnologias buscam substituir integral ou parcialmente os motores a combustão. Os últimos, inclusive, estão entre os principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, em especial o dióxido de carbono, o CO2.
Segundo Ricardo Trefligio, pesquisa divulgada recentemente aponta que os carros respondem por cerca de 30% da poluição de CO2 gerada no mundo.
Publicado pela editora Papagaio (https://editorapapagaio.com.br), o livro é organizado também por Jefferson José da Conceição, professor coordenador do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo, Inovação e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano (Conjuscs/USCS). O livro tem lançamento previsto para o dia 26 de novembro, das 18h às 22h, na Escola Senai Mário Amato, em São Bernardo.