As eleições 2024 apresentaram propostas semelhantes para conseguir angariar votos em alguns dos municípios da região. Mas para o professor de Ciência Política da UFABC (Universidade Federal do ABC), Diego Corrêa, em entrevista ao RDtv desta quarta-feira (09/10), resultados diferentes ocorreram, principalmente nas cidades que contam com a possibilidade do segundo turno.
As estratégias são divididas em dois grupos. O primeiro é formado por Santo André e São Bernardo, dois municípios com os prefeitos buscando eleger seus sucessores. O andreense Paulo Serra apostou em Gilvan Junior (ambos do PSDB) e o são-bernardense Orlando Morando (PSDB) apostou em Flávia Morando (União Brasil). Para Corrêa, a diferença entre os dois casos ficou na ótica da escolha pela experiência política.
“O Orlando Morando optou por apoiar uma sobrinha sem muita experiência política, tentando transferir o seu capital político para alguém ainda sem muita experiência política, enquanto o Paulinho Serra, em Santo André, adotou uma estratégia totalmente diferente, que se mostrou mais acertada no contexto da sua cidade, que foi apoiar alguém que já tem alguma trajetória na política e, portanto, teria mais facilidade para transferir esse apoio que o Paulinho Serra desfrutou em Santo André para o seu candidato à sucessão. Em Santo André deu certo, em São Bernardo não deu”, iniciou.
Corrêa também aponta que Flávia encarou um “grande desafio” ao enfrentar figuras públicas com mais histórico político como o deputado federal Alex Manente (Cidadania), o deputado estadual Luiz Fernando (PT) e o ex-vice-prefeito Marcelo Lima (Podemos), o que trouxe um cenário diferente do que ocorreu na vizinha Santo André.

O segundo grupo é formado por Mauá e Diadema. Apesar do cenário de polarização, o prefeito mauaense Marcelo Oliveira (PT) conseguiu uma vantagem percentual de dois dígitos contra Atila Jacomussi (União Brasil). Corrêa considera que tanto a derrota de Atila quando tentou a reeleição em 2022, quanto o pedido de indeferimento de campanha acabou atrapalhando o ex-prefeito e beneficiando o atual chefe do Executivo.
“Eu digo isso porque sempre o prefeito tem mais, o atual prefeito tem mais chance de se reeleger do que qualquer adversário. E quando isso não acontece, isso é um sinal claro da sociedade do eleitorado de que não houve aprovação do mandato. Então, dois mil e vinte já foi um sinal de fragilidade política do Átila. E o fato da gente ter visto agora na eleição do último domingo de que a diferença é considerável entre os dois candidatos, eu acho que apenas respalda o que a gente viu em 2020”, seguiu o especialista.
Em relação a Diadema, o analista se diz “surpreso” com o fato do atual prefeito José de Filippi Jr (PT) ter saído atrás de Taka Yamauchi (MDB) no primeiro turno. Dois fatos chamam a atenção, o primeiro é que Filippi conta com a máquina do governo e outro é que Taka não teve um bom resultado eleitoral em 2022, ano em que se candidatou a deputado federal e contou com cerca de 11 mil votos em Diadema. Diego Corrêa vê que a eleição está aberta, mas considera que a população está passando um recado direto para Filippi.
“Felipe precisa ficar esperto se ele vencer essa eleição, é que esse resultado vem como um sinal de crítica. Alguma coisa deu errado, está gerando algum tipo de descontentamento e ele precisa, se ele quer fazer o sucessor daqui a quatro anos, caso ele vença, ele vai ter que ouvir mais a população e consertar o que a população está reprovando, caso ele vença. Senão ele corre o risco de não conseguir fazer o sucessor daqui a quatro anos, quando ele necessariamente não vai poder disputar a reeleição”, explicou.
Abstenção
Os números de abstenção no ABC seguiram os mesmos de 2020, com cerca de 20% da população se recusando a votar. Para Diego Corrêa, tal cenário é natural e ocorre em outros países democráticos, mas não acredita que seja o caso de reflexão sobre o fim da obrigatoriedade de voto. Mas no caso do ABC, as cidades menores com uma queda no número de faltantes, o que chamou a atenção do especialista.
“Eu fiquei curioso com os dados que você mostrou, eu fiquei surpreso pelo seguinte, a gente tende a ver taxas menores de abstenção, ainda mais de uma eleição para outra, quando a disputa se torna mais acirrada. quando você acredita que o seu voto pode fazer diferença no resultado final. E nos números que você mostrou, contradiz essa expectativa, porque a gente observa queda na taxa de abstenção justamente naqueles municípios menores onde os vencedores ganharam bem, ganharam com alta vantagem, que foi São Caetano do Sul e Rio Grande da Serra, né? Eu esperaria, por exemplo, que São Bernardo seria uma cidade onde a abstenção caiu, porque os eleitores acham que eles podem fazer a diferença. Rio Grande da Serra e São Caetano do Sul acabou sendo o oposto”, finalizou.