Em pesquisa realizada pela revista britânica The Lancet, até 2100, apenas seis (3%) entre 204 países terão níveis sustentáveis de nascimentos para reposição sustentável da população. A informação revela que menos pessoas buscam ter filhos e mais viverão por mais tempo. A redução de nascimentos tem relação direta com mulheres que prorrogam a gravidez, em casos até depois dos 35 anos, em que o corpo feminino já não possui a mesma vitalidade para conceber um bebê.
Em entrevista ao RDtv, o ginecologista e diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida, Raul Nakano, comenta que casos de fertilização estão cada vez mais comuns nos consultórios. Alguns fatores explicam o movimento, destacando a prioridade pela carreira profissional (deixando a gravidez de lado) e preferência pela vida “fitness”.
“Já passou pelo meu consultório algumas melhores dizendo coisas como ‘se eu me alimento bem e prático exercícios, tenho condição plena de ter um filho depois dos 35 anos’. Porém, não é verdade que se o corpo está saudável, a vida útil do útero se prorroga”, explica Nakano.
Por dúvidas como esta, destaca que graças a um comportamento voltado a saúde e bem-estar, mulheres de hoje com 30 anos podem ter o físico mais preparado e resiliente do que mulheres de 20 a 30 anos, mas, a melhor fase do útero está até os 35 anos, independente de hábitos saudáveis e prática de atividades físicas.
Nakano comenta haver uma alta demanda voltada a fertilização, sendo esta uma técnica na qual a mulher tem seus ovários estimulados com medicações hormonais, cujo objetivo é fazer com que o ovário libere mais óvulos e fiquem dispostos para utilização após um tempo. Porém, o especialista reforça que não existe garantia de gravidez em casos após os 35 anos, devido ao estado do corpo da mulher depois da idade, além da possibilidade do desenvolvimento de comorbidades como hipertensão e diabetes.
“Existe o que chamamos de alteração cromossômica no útero, na qual com o passar dos anos ele se desgasta e chega em um ponto que entra em estado de complicações para gravidez. Mesmo que os óvulos se congelem por décadas, com o corpo humano não funciona da mesma maneira”. Além dos problemas da gestação, Nakano destaca a posteriori, ou seja, o tempo para cuidar e planejar um futuro para o filho ou filha em relação a idade da mãe.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em 2021, os procedimentos de fertilização voltaram a crescer, com a realização de 45.952 ciclos no país. O documento aponta também que, em 2020 e 2021, foram congelados mais de 202 mil embriões. “Cada vez mais é um procedimento aderido pela população. Em comparação com 15 anos atrás, em que somente a classe alta tinha acesso a esse tipo de abordagem, hoje esta ‘mais acessível’, na média de R$ 20 mil. Porém, a viabilidade tem que ser acompanhada da conscientização de que existem riscos de deixar a gravidez para última hora”, diz Nakano