A forte e constante variação climática que atinge o País tem influenciado no número de pessoas que contraem doenças respiratórias, e por vez, são hospitalizadas em casos mais graves para conter sintomas principalmente em decorrência da gripe e covid-19. No ABC, cerca de 112 mil pacientes deram entrada nas unidades de saúde por conta de alguma doença respiratória, sendo mais 1,3 mil internados.
Santo André lidera entre os municípios com 70.888 atendimentos, com um aumento de 28% em comparação com janeiro a agosto de 2023 (55 mil). Até o momento, a Prefeitura registra 600 internações por doenças respiratórias como pneumonia, asma, derrame pleural e covid-19, sendo que em 2023 foram 400 internações no mesmo período (aumento de 50%).
Em São Bernardo, cerca de 30% das demandas nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) se referem a queixas respiratórias, apesar de não informar o quanto de pacientes deram entrada devido às doenças. Ano passado, 1.124 munícipes foram hospitalizados em decorrência de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Já em 2024 foram 512 registros.
Diadema, Mauá e São Caetano registram queda de pacientes
Em 2024, Diadema registra 10.372 residentes sintomáticos respiratórios, correspondendo uma queda de 56% dos casos quando comparado ao mesmo período em 2023, com 23.913 registros. Também houve queda de internações na cidade relacionados às entradas de pacientes com doenças respiratórias nas unidades de saúde. De janeiro até agosto de 2024, 196 pacientes foram hospitalizados devido ao quadro sintomático de SRAG, revelando uma queda de 35% em relação a 2023, que registrou 306 internações.
Mauá segue o mesmo caminho, com 612 pessoas que deram entrada nas unidades de saúde, apresentando queda de 42% em relação a janeiro e agosto de 2023, que teve 1.057 registros. Porém, a Prefeitura não informou quantos destes foram hospitalizados nos respectivos anos.
São Caetano por sua vez tem uma queda discreta de pacientes, de 30.136 atendimentos em 2024 para 30.867 em 2023 (2,3%) registradas na Atenção Hospitalar e nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde). A cidade internou 822 pacientes ao longo de 2023 e 72 pessoas de janeiro a agosto de 2024.
Rio Grande da Serra não realiza internações, por não ter hospitais. Os pacientes ficam na UPA (Unidade de Pronto Atendimento), aguardando transferência, quando o estado físico requerer tal medida. Os pacientes ficam em observação, são medicados, e vão para casa. Ribeirão Pires não respondeu ao RD até o fechamento desta reportagem.
Mudança climática e problemas respiratórios
Ana Cláudia Bispo Araujo (47), de Ribeirão Pires, foi diagnosticada aos 14 anos com bronquite asmática, além de sofrer de outras doenças como pneumonia, rinite e sinusite. Ana fazia tratamentos quase que diários nos hospitais para minimizar as crises de asma, realizava inalações com a medicação Berotec. Até que em 2013 encontrou uma alergista que a indicou uma bombinha de ar para conter as crises e melhor a qualidade de vida.
“Quando o tempo fica seco e fica frio sofro com crises de asma, mas tomo a bombinha e resolve. Caso eu não tenha a bobinha e o tempo tiver seco tenho que ir direto para o hospital”, conta. Ana Claúdia diz que prefere comprar a bombinha. “Melhor do que pegar de graça no Mário Covas, pois é uma burocracia, assim como o SUS que demora anos e anos para marcar com um médico especialista”, afirma. Ana espera uma vaga para uma consulta com um pneumologista desde março de 2023.
Também de Ribeirão Pires, Dalton Silva Júnior (24) sofre de bronquite alérgica e diz que o pior momento é quando o chega a frente fria. “Praticamente toda vez que o clima muda de forma mais drástica, afeta diretamente minha respiração. Isso acontece mais quando esfria, no calor não tenho tantos problemas com a bronquite. Muito pelo contrário, é muito mais confortável”, afirma.
Silva Júnior também depende da bombinha para controlar as suas crises, e apesar da disponibilização gratuita de remédios que auxiliem no seu caso, prefere ir até a farmácia e comprar os medicamentos, como a bombinha Aerolin Spray.
Proporções das variações do clima
O impacto dos eventos ambientais extremos é ainda maior sobre as populações mais vulneráveis, como indivíduos em vulnerabilidade social, crianças e idosos, comunidades indígenas, quilombolas, pescadores, agricultores familiares e quem vive em áreas de risco. Para o pneumologista e integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa Respiratória na Atenção Primária à Saúde (Gepraps), da Faculdade de Medicina ABC, Italo Giovanni Bonatto, as causas vão além do sistema imunológico. “Percebemos que não é somente o aumento de temperatura ou eventos climáticos extremos que causarão as doenças, mas as próprias características socioecológicas favorecem a proliferação dessas patologias”, diz.
Além disso, as variações climáticas proporcionam um aumento considerável da poluição ambiental e microparticulado, levando ao surgimento dos casos. “Temos também a maior exposição a ácaros e poeira doméstica. Isso porque tiramos os cobertores, casacos, cachecóis do guarda-roupa, de maleiros que estavam guardados há um bom tempo, e não há uma preocupação em realizar uma higienização prévia antes do uso”, explica.
“Prevenção sempre será a melhor forma de tratamento. Atualizar a cartilha vacinal, prezar por bons hábitos, e para os asmáticos não deixar de usar as ‘bombinhas’ já ajudam a evitar o contágio das doenças respiratórias”, diz o médico.