Fundação Santo André completa 50 anos com planos de se tornar universidade

Oduvaldo Cacalano, reitor da instituição desde junho de 2008

O Centro Universitário Fundação Santo André completa nesta terça-feira (19/06) meio século de história. A data será celebrada com dois eventos: um na sede da instituição, a partir das 10h, e outro a partir das 19h, no Teatro Municipal de Santo André. Além da expectativa de criar o curso de Arquitetura e Urbanismo a partir de 2013, a instituição pretende solicitar dentro de dois anos o credenciamento para se tornar universidade pública.

Oduvaldo Cacalano, reitor da instituição desde junho de 2008, participou nesta segunda-feira (18/06) do RDtv e falou sobre as conquistas de meio século de história e dos desafios a serem vencidos. “Estamos trabalhando para conseguirmos pedir nos próximos dois anos o credenciamento para nos tornarmos universidade. Isso nos dará maior autonomia e reforçará nossos trabalhos junto às instituições”, explica.

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O reitor também acredita que ainda é necessário articulação para conseguir repasses dos governos federal, estadual e municipal para que as mensalidades cobradas dos alunos sejam reduzidas. “Somos uma entidade pública, mas como não recebemos repasses, precisamos cobrar mensalidades. Mesmo assim, em alguns cursos, como os de engenharia, os valores são quase a metade dos cobrados em outras faculdades, isso tudo sem perder a qualidade”, alega.

Quanto à abertura do curso de Arquitetura e Urbanismo, o reitor explica que a intenção é que a primeira turma tenha início já no próximo ano. “É uma demanda da região, mas o início das aulas no começo de 2013 ainda não está completamente certo”, diz.

Veja trechos da entrevista:

Repórter Diário: A Fundação Santo André completa nesta terça-feira (19/06) 50 anos. Gostaria que o senhor nos falasse sobre a programação das comemorações desta data.

Oduvaldo Cacalano: Na terça-feira pela manhã, no auditório do Colégio, teremos a partir das 10h um culto religioso onde várias instituições participarão para nos abençoar de manhã. No período da noite, às 19h, teremos uma cerimônia no Teatro Municipal de Santo André onde estarão convidados todos professores, presidente do Conselho Estadual, nosso prefeito, o governador Geraldo Alckmin, secretários de educação, reitores e todas as pessoas que contribuíram para que a Fundação tivesse estes 50 anos bem vividos.

RD: A Fundação Santo André surgiu em 1962. Gostaria que o senhor contasse como surgiu a Fundação e quais os fatos mais marcantes.

Cacalano: Vou tentar fazer uma retrospectiva daquilo que vivi, pois estou lá só há 40 anos. Vivi cinco anos como aluno e como aluno não observamos muita coisa, e como professor há 35 anos, que foi a partir daí que comecei a prestar atenção nas coisas. A Fundação foi idealizada pelo saudoso prefeito Fioravante Zampol junto com o professor Nelson Zanotti, que foi o primeiro diretor da Fundação. Deu certo porque o que eles idealizaram está aí, primeiro tínhamos uma faculdade, que era a Faculdade de Economia e Ciências Administrativas, e depois foi criada a Faculdade de Filosofia. No começo tudo funcionada no Julio de Mesquita, no centro de Santo André, depois foram construídos galpões no Paço municipal e nós estudávamos lá. Eram poucos alunos, mas os professores eram da melhor casta, da USP, da PUC, da FGV, éramos privilegiados. Éramos acanhados, mas sempre formamos bons profissionais. Agradeço todo dia pelo que vislumbrou, pela visualização desta grande instituição.

RD: A Faeco (Faculdade de Economia) foi a primeira instituição de ensino superior do ABC.

Cacalano: Isso, foi a primeira. É um marco. A Faculdade de Economia tem mais tempo que a Fundação. Com a Fundação, ela a incorporou e depois a Faculdade de Filosofia. Em 1969 saímos daqui do Paço e fomos para onde estamos agora, no Sítio Tangará, área que a Prefeitura comprou e construiu os prédios da Faeco e da Fafil.

RD: Depois da Faeco veio a Fafil?

Cacalano: Três ou quatro anos depois foi criada a Faculdade de Filosofia. Na época tínhamos uma dezena de cursos e hoje temos quase 30, além de quase 40 cursos de pós-graduação.

RD: Na época do prefeito Celso Daniel também foi implantada a Faculdade de Engenharia.

Cacalano: Exato, a Faeng. A Prefeitura construiu um dos prédios da Faeng. Temos engenheiros no exterior, alunos fazendo mestrado na Inglaterra, ela já nasceu estruturada.

RD: Hoje a Fundação Santo André é um centro universitário, certo?

Cacalano: Somos Centro Universitário desde 2002 e agora estamos buscando o título de
Universidade.

RD: Quantos alunos o Centro Universitário tem?

Cacalano: Aproximadamente 9 mil.

RD: Quando surgiu o Colégio?

Cacalano: O primeiro Colégio era de aplicação, apareceu na década de 1970. Depois ele parou de funcionar e depois novamente o refundamos, na década de 1980. Ele chegou a ter 1,2 mil alunos. Tivemos o Colégio quase sem alunos, mas o revigoramos. Quando entramos, tínhamos apenas 33 alunos, era a última turma, o revigoramos e agora o Colégio está com quase 300 alunos e já temos procura de mais alunos.

RD: Quais são os novos cursos da Fundação Santo André?

Cacalano: Considero novos os cursos que ainda não formaram turmas, como o de Engenharia Civil, Direito (que surgiu este ano e já está bem), curso de Psicologia e temos cursos tecnólogos de gestão, como Gestão de Logística, Gestão Financeira e Gestão de Qualidade. Estes cursos são novos, mas já deram certo, pois estão com um número razoável de alunos. É uma luta, o mercado hoje está um pouco selvagem, então lutamos com qualidade. É um instituto de alvenaria, com amplas salas e professores de qualidade, 70% têm nível de mestrado e doutorado. A diversidade de curso que temos, não vemos em nenhuma instituição na região.

RD: Outro desafio é ser transformado em universidade. Qual o cronograma disso?

Cacalano: A maioria das condições necessárias para que a Fundação se torne uma universidade nós já temos, como profissionais, laboratórios, bibliotecas, campus. O que falta é instituirmos um programa de pós-graduação stricto sensu, como mestrados e doutorados. Precisamos de dois mestrados e dois doutorados reconhecido pelo Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior). Isso nos dará know-how para pedirmos credenciamento como universidade. Estamos assentando bem o primeiro degrau para que o segundo seja mais tranquilo. O Centro Universitário está bem sedimentado, estamos bem firmes, então o próximo degrau se torna bem mais firme.

RD: Qual o prazo para que isso aconteça?

Cacalano: Espero que em dois anos já tenhamos condições de pedir o credenciamento.

RD: Ter o status de Universidade muda o que na prática?

Cacalano: Traz muito mais autonomia, pode ousar mais, galgar mais passos dentro do âmbito público, dentro da academia, pesquisas, trabalhos com universidades internacionais. Tudo isso fica mais fácil. Entramos na Capes com um projeto de bolsa-sanduíche em Portugal e fomos aprovados, onde nosso aluno estuda um pouco aqui e um pouco em Portugal e volta com dupla titulação, uma da Universidade do Porto. Isso já está abrindo portas para nós. Como universidade estas coisas se tornam um pouco mais rápidas, mais fáceis. Como Centro Universitário estamos lutando há muito tempo para dizermos que somos públicos, não há mais dúvidas que somos públicos, e se formos instalados como universidade pública, vai reforçar ainda mais este processo. Há vários argumentos de que somos uma instituição pública, mas cobramos mensalidade porque não temos condições, não recebemos ainda o suficiente para manter o aluno, mas acho que futuramente sim, estamos trabalhando com diversas entidades em nível da União e estadual e com a Prefeitura. É perfeitamente possível estabelecer conexão financeira onde consigamos obter recursos para que as mensalidades praticadas sejam acessíveis e que estejamos cada vez mais próximos do público na questão financeira, porque na questão acadêmicas já somos.

RD: Qual a relação da Fundação Santo André com a Prefeitura de Santo André?

Cacalano: Nossa relação é muito boa. Temos três projetos grandes:

Academia do Conhecimento, que é um sucesso, onde a Fundação oferece profissionais para ministrar aulas para funcionários da Prefeitura em todos os níveis, desde gerentes até pedreiros; Formadores do Saber, que é o livro que colocamos nas escolas municipais, ganhamos o prêmio Santander Universidades como sendo o instituto de ensino superior do Brasil que ofereceu o melhor projeto em apoio ao ensino básico; e tem também o Sabina, onde temos cerca de 160 monitores que trabalham lá no local ganhando R$ 750, valor superior ao da mensalidade. Fora as 500 bolsas de R$ 200. Ao todo, contando também com as monitorias (os alunos que vão bem em uma matéria podem se tornar monitores a partir do segundo ano para aulas de reforço e ganham parte da mensalidade), temos quase 1,3 mil bolsas. Isso, atrelado junto à qualidade de ensino, então mostra um pouco do que nós somos.

RD: Gostaria que o senhor explicasse um pouco da trajetória do senhor dentro da Fundação, que fizesse uma análise da sua gestão.

Cacalano: Quando eu assumi, que foi por meio judicial, já que o outro reitor foi deposto, estávamos em uma situação complicada. Nossa projeção no lado de fora não era boa e isso nos fez perder alunos. Nunca perdemos qualidade, o que aconteceu foi que o público se impressionou com a situação administrativa que tínhamos, e não era para menos, e isso afastou um pouco nosso aluno. Junto com isso tínhamos as outras faculdades aqui na região para dividir o bolo. Ou seja, duas situações contra a Fundação. Então a partir de junho de 2008 tivemos de tomar medidas drásticas. A primeira foi afastar todos os cargos comissionados, tínhamos quase 50. Tínhamos um instituto lá dentro, o Incefusa, que deu um prejuízo de R$ 2,5 milhões. Ele não trouxe nada para a Fundação, só prejuízo, então acabamos com ele. Os cursos de licenciatura entramos com a cara e com a coragem. A vontade anterior era para acabar com a licenciatura. Isso não seria muito difícil porque a busca pela licenciatura no País é pouco buscado, é um horizonte que não está sendo buscado porque não há incentivo financeiro. Isso veio dificultar ainda mais a situação na época, mas buscamos manter estes cursos. Temos dívidas, mas são pagáveis. Não vamos liquidar amanhã, mas temos condições de pagar. Então naquela condição fizemos contenção de despesas para segurar os cursos de licenciatura. Se o professor for valorizado, teremos pessoas para fazer os cursos.

RD: Hoje as mensalidades da Fundação Santo André são competitivas no mercado?

Cacalano: Claro que é. A Fundação era para ser onde os valores fossem pequenos, mais baixos, para atender o trabalhador, que era o que foi idealizado. Mas a Fundação teve de andar com as próprias pernas. Veio a lei que diz que a Prefeitura tem de atender primeiro o ensino básico para depois, se sobrar dinheiro, atender outras ações dentro da Educação. Não culpo a Prefeitura, é a lei. Mas eu acho que deveria haver esforço mútuo porque o munícipe também contribui para o Estado e para a União, então acho que a União e o Estado deveriam, não sei por qual caminho, criar mecanismos que permitissem repasses para instituições como a nossa.

RD: A gestão do senhor vai até quando?

Cacalano: Vai até dia 31 de março de 2014.

RD: O senhor vai tentar a reeleição?

Cacalano: Preciso pensar nisso. Gosto muito da Fundação, continuando ou não, vou continuar lutando pela Fundação. Mas gostaria muito que isso fosse continuado, fazemos uma economia de 20% a 30% de água e luz. Só viajamos em casos especiais, tudo que fazemos é com nosso próprio carro, estamos fazendo campanha para a reciclagem e para evitar o desperdício. Uma faculdade de engenharia custa, em média, R$ 1,8 mil, R$ 2 mil. Na Fundação não chega aos R$ 1 mil. Se o aluno conseguir bolsa, pagará R$ 800. Então, no caso da engenharia, é completamente competitivo. Então acho que, apesar de tudo, ainda praticamos um nível razoável de anuidade. Temos profissionais que passaram pela Fundação que estão em boas posições do mercado.

RD: Eles serão homenageados?

Cacalano: Estamos tentando fazer uma homenagem que não escape ninguém.

RD: Quantos alunos já passaram pela Fundação?

Cacalano: Creio que esteja perto dos 100 mil alunos nestes 50 anos. Quando fui diretor da Fafil, há sete anos, já tinha aluno com matrícula de número 90 mil. Aproveito para alertar para que os interessados fiquem de olho nas datas dos vestibulares e do Colégio.

RD: Quem quiser saber mais informações da Fundação Santo André, o que deve fazer?

Cacalano: Basta acessar o site www.fsa.br. 

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