ABC - terça-feira , 6 de maio de 2025

Moradores de Diadema reclamam da água e Sabesp mais uma vez nega problemas

Reservatório da Sabesp na Vila Conceição, em Diadema. Companhia diz que fez manutenção na rede, mas garante que ela não comprometeu a qualidade da água. (Foto: Google)

Pela segunda vez esse mês a qualidade da água fornecida pela Sabesp aos moradores de Diadema é alvo de críticas. No início do mês moradores procuraram o RD para reclamar de gosto ruim da água e que algumas pessoas até se sentiram mal, suspeitando de que a água seria o motivo. Naquela ocasião a Sabesp negou problemas na distribuição para o município, agora a qualidade da água fornecida para a cidade é novamente criticada. Na quinta-feira (15/08) pela manhã os moradores do bairro Piraporinha viram água de cor marrom saindo das torneiras e moradores de outros bairros relataram outros tipos de problemas. Novamente a companhia de água nega problemas.

A moradora Sandra Tavares, moradora de Piraporinha, disse que na manhã desta quinta-feira (15/08) não tinha água da rua e, quando ela voltou, por volta das 10h tinha cor marrom bem forte. “Parecia barro saindo da torneira, tentei encher um balde para lavar o quintal e desisti, ia sujar mais”, relatou a moradora que disse que a coloração da água só voltou ao normal depois do meio-dia. “Mas e toda a água suja que entrou para a minha caixa de água? Vou ter que pagar para limpar”.

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A moradora do Jardim Inamar, Laila Viviane, disse que na sua casa o problema é o cheiro que, segundo ela é cheiro de barro. “A primeira água que sai da torneira é mais escura, depois clareia, o problema é que o cheiro é de barro. Aqui a gente não bebe mais água da torneira, compro água de galão, mas até no chuveiro a gente percebe que a água é diferente”.

No Centro da cidade a situação é parecida, só que o problema não é a cor ou o cheiro de barro, mas a água tem coloração branca. Segundo a moradora da rua dos Rubis, Flávia Cristina de Oliveria, parece que tem muito cloro. “Aqui no Centro o problema é que nos últimos dias o odor esta forte e tem dias que está com uma quantidade de cloro impossibilitando o uso para qualquer coisa que seja. Tem dias que só sai cloro, ai temos de deixar o copo do lado para baixar, aqui em casa não tomamos água da torneira, sempre compramos, mas mesmo para fazer a comida está complicado”, completa.

Segundo Eriane Savóia, especialista em biodiversidade vegetal e meio ambiente, e professora do Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), a Sabesp deve seguir rigoroso patrão de potabilidade da sua água. “A água para abastecimento público deve estar dentro dos padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde (portaria 888/2021). Tal portaria define padrões microbiológicos, químicos e radiológicos que devem ser atendidos para que a água seja considerada potável e segura para a saúde humana. A Sabesp, como uma das companhias responsáveis pela captação, tratamento e distribuição de água para consumo humano, tem como obrigação zelar pela qualidade da água e entregar um produto que atenda totalmente às legislações. Reservatórios com níveis mais baixos ou até mesmo grande ocorrência de chuvas e material orgânico na água, podem provocar um odor ou gosto mais terroso, mas, ainda assim, a água pode estar dentro dos padrões de potabilidade”, aponta.

A professora diz que se houvesse qualquer coisa na água capaz de causar náuseas e dores de barriga, centenas de milhares de pessoas teriam os sintomas ao mesmo tempo. “É preciso ter cautela ao associar sintomas como náuseas e dores de barriga ao consumo de água provinda do abastecimento público. Um problema na água distribuída pode gerar danos à saúde de centenas e milhares de pessoas ao mesmo tempo. É um efeito rápido e de grande disseminação. Vale salientar que a Sabesp, por exemplo, é responsável pela qualidade da água que chega até os cavaletes das residências e prédios. Do cavalete para dentro de casa, é responsabilidade do morador. Por isso, manter tubulações e caixas d´água sempre limpos é também fundamental para a saúde. Uma água de má qualidade traz danos à saúde, pois pode carregar micro-organismos patogênicos e substâncias nocivas. As companhias de abastecimento têm obrigação legal de analisar previamente a água para distribuição e, tais dados analíticos, devem ser sempre divulgados”.

No final de julho o Rio Grande, um dos afluentes da Represa Billings registrou um episódio de mortandade de peixes e o laboratório do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul) apontou que a causa da mortandade foi a presenta de resíduo industrial na água, que tinha diversas substâncias como o cromohexavalente, cobre, mercúrio e cádmio. Metais pesados que o laboratório considerou que são resíduos industriais. Para a professora da FMABC esses metais se instalam no organismo e se acumulam. “A maioria dos metais pesados tem uma propriedade bio-acumuladora, ou seja, podem se impregnar na carne do animal e chegar aos humanos por meio da alimentação. O tratamento de água convencional não é capaz de retirar todos os metais pesados da água. Temos hoje alguns poluentes emergentes na água, como hormônios. Tais poluentes chegam às nossas águas devido ao descarte incorreto de medicamentos ou por despejo de esgoto. Podemos sim ter problemas de saúde associados às estas substâncias lançadas nos corpos d ´água e que não são eliminadas com o tratamento convencional. É preciso investir em campanhas educativas e estímulo a novas tecnologias para tratamento da água para abastecimento público”, sugere Eriane Savóia.

Ferver a água, prática já adotada por algumas pessoas, pode sim ajudar a melhorar a qualidade da água. “Ferver ajuda a eliminar principalmente micro-organismos patogênicos como bactérias, vírus e fungos. Há estudos que apontam que ferver a água pode também eliminar nano e micro plásticos. Trata-se de uma boa prática, que age como medida preventiva para garantir a melhor qualidade da água que bebemos”, completa a professora.

Sabesp diz que houve manutenção na rede, mas nega contaminação da água

Em nota, a Sabesp informou que esteve nos locais apontados pela reportagem e não encontrou problemas. A companhia informou que na quarta-feira (14/08) fez uma manutenção na rede de distribuição porém esta ação não interferiu na qualidade da água. Veja nota da companhia:

“A Sabesp informa que vistoria realizada nesta sexta-feira (16/8) em diferentes pontos da rua Baibiris, em Diadema, não identificou alterações relacionadas à qualidade da água. Os moradores dos imóveis visitados também disseram à equipe que não houve alterações. Consulta feita aos sistemas corporativos da Companhia não identificou reclamações formalizadas recentemente sobre a qualidade da água ou a falta de abastecimento na rua citada.

Na noite de 14/8, a Sabesp fez uma manutenção na rede de distribuição de água da região. O serviço levou à interrupção temporária do abastecimento, que foi restabelecido na madrugada, com normalização gradativa do fornecimento de água na manhã do dia 15. A intervenção não afetou qualidade da água.

Em relação a outros bairros de Diadema, a Sabesp esclarece que também não há alteração na rede de distribuição de água ao município. As dosagens de cloro seguem rigorosamente os parâmetros exigidos e amostras coletadas em diversos pontos do município indicam que a água está dentro dos padrões de potabilidade. A Companhia monitora todas as etapas de tratamento e a qualidade da água distribuída aos clientes, sempre de acordo com os parâmetros previstos pelo Ministério da Saúde e realizando análises diárias com rigorosos controles em todo o sistema.

A Sabesp segue à disposição dos clientes pelos canais de atendimento – WhatsApp 11 3388-8000, telefone 0800 055 0195 e pela Agência Virtual no site www.sabesp.com.br – e solicita mais informações sobre endereços para que possa ser feita uma melhor avaliação.”

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