Após três pregões seguidos de forte queda, em que acumulou desvalorização de 3,57%, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira (8/7), com leves ganhos, mas ainda abaixo do nível psicológico de R$ 5,50. Segundo operadores, houve um movimento de ajuste técnico e correção no mercado local, em dia de baixa de commodities e sinal predominante de alta da moeda americana no exterior.
A leve piora das expectativas de inflação no Boletim Focus e a redução da liquidez na véspera do feriado estadual de 9 de julho em São Paulo, que deve deprimir o volume de negócios nesta terça-feira (9), também contribuíram para posicionamento mais defensivo dos investidores em dia de agenda esvaziada aqui e lá fora.
No início da tarde desta segunda-feira (8), o dólar até operou em ligeira baixa, na esteira do anúncio de reajuste de preços da gasolina pela Petrobras, o primeiro do ano e da gestão da presidente Magda Chambriard. Houve aumento de R$ 0,20 do preço da gasolina para distribuidoras, a partir desta terça-feira (9).
Embora não resolva o problema da defasagem dos preços de combustíveis, o reajuste é positivo ao mostrar que a empresa tem certa autonomia para gerenciar sua política de preços, a despeito de eventuais pressões políticas vindas do governo. Economistas estimam que o aumento da gasolina e do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) devem acionar entre 0,16 e 0,21 ponto porcentual às próximas leituras do IPCA.
Com mínima a R$ 5,4570 e máxima a R$ 5,4951, o dólar à vista encerrou a sessão cotado a R$ 5,4766, em alta de 0,26%. No mês, ainda acumula baixa 2,00%.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, afirma que parte da alta do dólar nesta segunda-feira (8) é reflexo da liquidez mais apertada, uma vez que nesta terça-feira (9), apesar de o mercado de câmbio funcionar normalmente, muitos bancos não estarão presentes.
“Está faltando liquidez. Além disso, o desempenho de alguns pares do real não está tão benigno hoje, apesar de o peso mexicano e o colombiano se valorizarem”, diz Borsoi, que não viu impacto sobre o câmbio na piora das estimativas para o IPCA deste ano (de 4% para 4,02%) e de 2025 (de 3,87% para 3,88%). “O Focus veio com uma leitura de alta bem marginal da inflação, tanto que os DIs estão mais ou menos estáveis”.
Apesar do tropeço do real nesta segunda-feira (8), Borsoi vê espaço para uma queda adicional do dólar no mercado local, com a taxa de câmbio que passou a oscilar entre R$ 5,30 e R$ 5,40. Após o pico de estresse no início da semana passada, quando o dólar chegou a tocar R$ 5,70, houve uma importante redução da percepção de risco com a ausência de novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Banco Central e o anúncio de que foram mapeadas pelo governo cerca de R$ 26 bilhões em despesas que podem ser cortadas em 2025.
“Isso levou a uma descompressão de risco bastante grande nos ativos locais. Hoje tivemos anúncio de reajuste de combustíveis pela Petrobras. A política econômica local parece estar dando sinais de volta às boas práticas”, diz Borsoi.
Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – operou em leve alta, voltando a superar a linha dos 105,000 pontos, com recuo do euro. Apesar de afastado o risco de um governo de extrema-direita na França, após desempenho abaixo do esperado do partido de Marine Le Pen nas eleições legislativas, o ambiente ainda é de incerteza sobre o futuro político, dada a fragmentação de forças e o avanço da esquerda.
Nos EUA, investidores aguardam pronunciamentos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Congresso americano nesta terça-feira (9), e na quarta-feira (10). Na quinta-feira (11), sai o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA em junho. Por ora, as chances de corte de juros em setembro permanecem acima de 70%, segundo monitoramento do CME Group.