Em carta enviada ao Consórcio Intermunicipal do ABC, às secretarias de Saúde e de Assistência Social do ABC e ao Ministério Público Federal, Jaqueline Cardoso de Carvalho, cacica do povo Pataxó Hã Hã Hãe da etnia Kariri Sapuyá, pede em nome dos indígenas que vivem na região para que os representantes de cada cidade sejam formalmente reconhecidos e que possam auxiliar na organização dos planos de ação para o cadastramento dos mais de 3 mil indígenas da região, assim, incluindo-as nas discussões públicas.
Em entrevista ao RDtv, Jaqueline afirma que todas as cidades da região possuem indígenas distribuídos da seguinte maneira: Santo André: 630; São Bernardo: 1.300; São Caetano: 186; Diadema: 288; Mauá: 380; Ribeirão Pires: 201; Rio Grande da Serra: 46, totalizando 3.031. Para a cacica, o número mostra que o povo Pataxó não está sozinho no ABC e que, por conta do grande número de pessoas, a representatividade é extremamente necessária.
“Para que o governo nos vejam como indígenas, precisamos realizar um cadastro dentro do município e levar isso para as autoridades como a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Quando realizei o meu cadastro, também entreguei um documento para a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, pedindo para que todos os indígenas que estivessem no contexto urbano pudessem ter esse cadastro realizado e, assim, que fossemos vistos dentro das cidades”, explica.

A líder do Povo Pataxó em Santo André e professora de História, Filosofia e Sociologia do Sesi São Bernardo, Tânia Pataxó, comenta que apesar dos questionamentos sobre a importância das políticas públicas voltadas exclusivamente para a pessoa indígena, é importante que entendam que o povo indígena é extremamente invisibilizado dentro do contexto urbano.
“Como educadora, vejo que lutar por essas políticas dentro das cidades é uma maneira de não apagar nossa cultura e, principalmente fazer valer a Lei 11.645, que aborda o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena, mas desta vez pelo nosso ponto de vista”, explica.
Jaqueline acrescenta que iniciativas como a feita em Santo André com a criação de uma unidade de saúde com atendimento especial a povos indígenas, deveriam ser espalhadas nas demais cidades, mas ainda há muito o que fazer. “Passei por todos os municípios da região e pude perceber como foi criado um estereótipo em relação ao povo indígena e de que vivemos apenas na mata. O que queremos fazer é uma busca ativa de todos aqueles que vivem na cidade, garantir que eles estejam cadastrados no sistema do seu respectivo município e garantir os direitos de saúde, educação, habitação assim como todos os outros cidadãos”, ressalta.
Tânia diz ainda que a melhor maneira de visibilizar o povo indígena e evitar que estereótipos sejam criados é por meio da educação. “Durante muitos anos, a nossa história foi contada pelo colonizador, que criou esse imaginário de que todos nós estamos na aldeia. Mesmo tendo irmãos que vivem sim em matas como os Yanomami, também temos aqueles que vieram para as cidades para poder sobreviver, e é apenas com a educação e contando a história pelo nosso viés que as pessoas irão entender porque viemos para cá e porque merecemos ter os mesmo direitos que as demais pessoas que vivem no meio urbano”, finaliza.