Pó branco que sai do Polo Petroquímico invade casas e Cetesb estuda punir Recap

Pó branco ficou sobre os telhados e lajes. População está preocupada com a saúde. (Foto: Reprodução)

Na quarta-feira (20/03) um pó branco cobriu as casas dos bairros Homero Thon, Centreville e Parque Marajoara, todos em Santo André, e deixou os moradores preocupados em relação à saúde. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) apontou que o pó vem da Refinaria de Capuava (Recap), uma das empresas do Polo Petroquímico. Apesar da companhia sustentar que o material não faz mal à saúde, o órgão estadual diz estudar punições à empresa da Petrobras.

Para a médica endocrinologista Maria Angela Zaccarelli Marino, autora de diversos estudos sobre doenças em populações vizinhas ao Polo Petroquímico, esse pó está relacionado a vários problemas de saúde.

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Os moradores dizem que o pó começou a ser expelido na madrugada de quarta-feira (20/03) e ao longo do dia continuou caindo sobre as casas. Segundo Genivaldo Araújo Pereira, o pó atingiu vários bairros em todo o entorno do Polo Petroquímico. “A gente fica até com medo de respirar, com a gente ainda sabemos nos virar, mas e as crianças?”, indaga o morador do Parque Marajoara que mora no bairro há 17 anos. “Aquele pó ficou caindo a noite e o dia todo e naquela madrugada a gente ouviu muito barulho vindo do Polo Petroquímico. A gente cobra providências, mas até agora não veio ninguém aqui na minha rua, da Cetesb ou do Polo para explicar o que aconteceu. Aqui a gente fica da Deus dará”, diz o morador.

A Cetesb informou em nota que na madrugada do dia 20 foram duas situações que atingiram diretamente a população destes bairros, uma externa ao Polo Petroquímico e outra, aquela relacionada ao pó branco, foi comprovadamente originada da Recap. “Técnicos da Cetesb, da Agência Ambiental do ABC 1, em 21/03, estiveram em vistoria no crematório de Santo André e constataram uma falha no ventilador da unidade. O fato provocou a emissão de fumaça preta para atmosfera, em 20/03. O pó branco, que é um catalisador utilizado no processo de craqueamento do petróleo, foi causado por uma falha no equipamento de controle de poluição da Recap – Refinaria de Capuava/Mauá, em 20/03, às 03h00 da manhã. A Cetesb avalia as medidas administrativas a serem tomadas em relação as ocorrências”, informou a agência ambiental do Estado.

Em curta nota de imprensa o Cofip ABC (Comitê de Fomento Industrial do Polo Petroquímico do ABC) diz que nada tem a ver com o ocorrido já que ele não se relaciona com nenhuma das empresas associadas, mesmo que os funcionários das empresas ligadas ao comitê possam ter respirado esse resíduo que estava no ar. “O Cofip ABC e as empresas associadas informam que não foram identificadas intercorrências em seus processos industriais que pudessem originar a emissão de pó branco”.

A endocrinologista Maria Angela Zaccareli Marino já fez vários estudos sobre a poluição do Polo Petroquímico de Capuava. (Foto: Reprodução RDTv)

A Petrobras, responsável pela Recap, também se manifestou através de nota em que admite o problema, mas diz que o pó branco não faz mal à saúde. “A Petrobras informa que na madrugada da última quarta-feira, dia 20 de março, houve a emissão de material particulado, devido a falha pontual em um equipamento, na Refinaria de Capuava, localizada em Mauá. O problema foi corrigido prontamente e a unidade opera normalmente. A Cetesb foi comunicada da ocorrência. A Petrobras destaca ainda que o material particulado é um catalisador, de cor branca, utilizado em seu processo operacional. Esse produto não causa danos à saúde e ao meio ambiente”, sustenta a companhia de petróleo.

‘Esse pó branco é algo mais novo’

Para a médica Maria Ângela Zaccarelli Marino, professora de Endocrinologia do Centro Universitário Faculdade de Medicina ABC e doutora em Endocrinologia pela USP (Universidade de São Paulo), a sustentação da Petrobras não é verdadeira. “A questão da fuligem preta já é absurda, agora vem esse pó branco que é prejudicial às vias aéreas superiores e inferiores. Desde a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Polos Petroquímicos da Câmara Municipal de São Paulo, já se fala desse pó branco. Sobre o pó preto já se tem muitos estudos, agora esse é algo mais novo, mas tudo que se inspira junto com o ar, ainda mais elementos químicos, pode causar rinites, sinusite, asma, bronquite e o que temos estudado bastante, que são os problemas com a tireoide”, sustenta.

A médica que fez parte do estudo epidemiológico que fez parte os trabalhos da CPI, disse que o caso do Polo Petroquímico de Capuava é único no País porque fica muito próximo a moradias, comércio e outras indústrias. “Sempre falamos que não somos contra as empresas, nem contra o desenvolvimento e muito menos contra os empregos que são gerados nos polos petroquímicos, mas somos a favor da saúde e as empresas precisam ter respeito com a população. Em geral esses polos ficam distantes, cerca de 50 quilômetros, no ABC tem casas a menos de 500 metros, por isso os moradores sofrem, nos contam que não vencem limpar a casa”, diz.

Para endocrinologista da FMABC, as empresas devem ser responsabilizadas por todos os problemas de saúde que sua atividade causa à população. “A gente não pode escolher o ar que a gente respira. Essas substâncias penetram nas vias aéreas e causam também anos oftalmológicos, na pele e até no sistema reprodutor. Eles (empresas) não querem aceitar isso. Verificamos em testes com animais submetidos a essas substâncias que os filhotes nascem com baixo peso, com baixo desenvolvimento e é alta a taxa de mortalidade no primeiro ano de vida e isso pode ocorrer também em humanos. Esse estudo nós acabamos de produzir e foi feito com recursos de compensação ambiental, que foi negociado com o Ministério Público. O estudo mostra imagens da tireóide comprometidas, bem como pulmões, pâncreas, fígado e testículos. Vamos publicar esse estudo nos próximos 20 dias”, completa a especialista.

Veja vídeos de moradores vizinhos ao Polo Petroquímico que mostram quanto o pó branco afetou os bairros:

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