Ranking da Saúde mostra que o ABC falha na atenção a hipertensos e diabéticos

Agentes de saúde da prefeitura de Mauá, cidade que teve o segundo melhor resultado os últimos quatro meses do ano passado. (Foto: Evandro Oliveira/PMM)

O ranking Previne Brasil, do Ministério da Saúde, mostra que a região precisa investir mais na atenção básica para melhorar os índices de atendimento principalmente de moradores que sofrem de pressão alta e diabetes. Os números servem de referência para o ministério encaminhar verbas para a Atenção Primária dos municípios.

No terceiro quadrimestre de 2023, Ribeirão Pires alcançou a melhor colocação dentre as cidades do ABC na média dos sete indicadores do ranking , com nota 7,79. A cidade superou Mauá liderava na média geral nos dois primeiros quadrimestres do ano passado.

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Em nota, Ribeirão Pires destaca os índices de vacinação de crianças que contribuíram para a nota geral. “Entre os destaques, também está a cobertura vacinal para crianças de até um ano de idade. O município alcançou proporção de 90% de imunização desta população no terceiro quadrimestre de 2023, também sendo o maior índice do ABC. A cobertura vacinal para crianças de um ano de idade supera a meta para doses de imunizantes como rotavírus, com 96,56% (meta é de 90%), pneumo 10, com 98,33% (meta 95%), entre outras vacinas que o município elevou a cobertura na Atenção Primária em parceria com a Vigilância em Saúde do município”, diz

Os quesitos avaliados são: I1 (proporção de gestantes com pelo menos seis consultas pré-natal) I2 (proporção de gestantes com exames de síflis e HIV), I3 (gestantes com atendimento odontológico), I4 (mulheres com coleta de cipatológico- detecção de câncer no colo do útero), I5 (proporção de crianças vacinadas contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, infecções causadas por haemophilus, influenza tipo B e poliomielite), I6 (pessoas com hipertensão com consultas e medição de pressão arterial no semestre) e I7 (proporção de pessoas com diabetes com consulta e hemoglobina glicada solicitada no semestre).

Ribeirão Pires foi a única que não teve nenhuma mancha vermelha nos últimos quatro meses de 2023, o que contribuiu para a nota geral melhor. As manchas vermelhas, que apontam a necessidade de maior investimento na área, são mais frequentes nos indicadores I6 e I7 que tratam do acompanhamento de pacientes diabéticos e hipertensos.

Falta investimento

Para o médico de família e comunidade e professor da disciplina de Atenção Primária do Centro Universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Murilo Moura Sarno, falta investimento. Segundo o médico, os números do ranking podem ainda estar influenciados pela pandemia da covid-19, que forçou isolamento e afastou muitos pacientes dos tratamentos. “Se a gente olha para os outros indicadores, aqueles relacionados aos jovens, os índices são bons, mas é mais difícil controlar as doenças crônicas e silenciosas, como o diabetes e a hipertensão. Em geral, o paciente só procura ajuda quando começa a sentir mal estar. Pode passar meses e até um ano, porque essas doenças são assintomáticas. Por isso, é preciso investir mais na Atenção Primária e Saúde da Família, fazer com que os agentes de saúde passem ao menos uma vez por mês em visita aos pacientes para garantir que tenham garantida a consulta e exames”, diz o médico.

Sarno não imaginava indicadores tão ruins para o ABC. “Eu esperava uma cobertura maior. Ferramentas existem e há financiamento tripartite, dos municípios, estadual e federal, mas depende da vontade política de priorizar a saúde preventiva. Um hipertenso, por exemplo, não se tem cura, mas pode-se controlar e evitar um infarto. É só fazer um bom serviço com equipes bem treinadas”, comenta.

São Caetano
São Caetano também manteve índices em azul, verde e amarelo em, praticamente, todo o ano. A única mancha vermelha foi no último quadrimestre na vacinação de crianças (I5). Em nota, a Prefeitura defende mudanças na avaliação. “Em 2022, o Ministério da Saúde alterou a forma de cálculo dos indicadores e passou a considerar usuários vinculados a equipes que auto referissem doenças, como hipertensão e diabetes, fazendo com que os denominadores se elevassem e, consequentemente, queda dos indicadores. Por outro lado, é importante considerar a necessidade de revisão dos Indicadores do Previne Brasil, buscar algo que avalie cadastramento da população vulnerável, monitoramento de aspectos nutricionais em gestantes, crianças com medição de peso e crescimento, frequência escola. Estratégias que são acompanhadas pelo município e que não refletem nestes indicadores. Buscando, assim, dados mais robustos”, sustenta a administração.

A Prefeitura diz, ainda, que os números podem ter problemas de cadastro. “Sugere-se, diante de uma análise isolada do Previne Brasil, que o número aparece como alto devido uma condição autorreferida dos usuários e ainda não confirmada pela equipe técnica e prováveis não mais residentes, que ainda aparecem em nossa base de cálculo e não pertencem mais ao município. São Caetano tem adotado medidas de higiene do sistema municipal. Com diagnósticos confirmados e pacientes do território. Outras estratégias foram a ampliação dos atendimentos coletivos, buscas ativa de hipertensos, diabéticos, gestantes e crianças. Constantes campanhas e palestra extramuro (ONG’s, Associações de bairro, feiras, igrejas etc) para captar estes pacientes. Bem como o aumento no número de visitas domiciliares para ampliar o atendimento dos usuários”, diz o comunicado.

Diadema
A Prefeitura de Diadema manteve a média de nota em torno de 6, durante os três quadrimestres de 2023. E também não conseguiu melhorar os indicadores em relação à hipertensão e diabetes. Diz que os dados do ranking podem não corresponder à realidade. “Diadema tem reforçado a linha de cuidado para hipertensos e diabéticos, conta com apoio das equipes multiprofissionais que incluem nutricionista, educador físico, fisioterapeuta e psicólogo. O objetivo é, para além das consultas, acompanhamento e dispensação de medicamentos, incentivar a alimentação saudável, a atividade física e práticas alternativas e complementares de saúde. O cálculo do ranking utiliza o número estimado de pessoas hipertensas, diabéticas e gestantes, o que pode interferir no indicador e não necessariamente corresponder à realidade existente no município”, diz.

São Bernardo

São Bernardo variou alguns décimos em relação à média, perto dos seis pontos. A cidade só não conseguiu melhorar a sua pontuação no que se refere ao acompanhamento de pacientes com diabetes. “O município fez avanços significativos e progressivos em todos os quadrimestres. A exceção ocorreu no último quadrimestre de 2023, em decorrência de inconsistência no sistema para envio de dados de atualização no Ministério da Saúde. O número elevado de hipertensos e diabéticos em São Bernardo se dá em decorrência do envelhecimento populacional, com aumento da incidência de doenças crônicas, aumento da migração de pessoas que perderam convênios e passam a procurar assistência no SUS, alta rotatividade de profissionais que compõem as equipes de Estratégia de Saúde da Família, dificuldades no envio de dados para o sistema de informação do Ministério da Saúde”, justifica a administração.

A Prefeitura diz ainda que faz busca ativa dos pacientes para tratamento. “A administração trabalha na melhoria destes números. Implantou na rede a Linha de Cuidado Diabetes mellitus e Hipertensão Arterial. Investe continuamente em RH intensificando os encontros de educação permanente a todas categorias profissionais. Intensificou a busca ativa aos faltosos nas consultas de rotina, entre outras ações que promovem a melhoria do atendimento aos portadores de doenças crônicas, de modo geral e melhoram os indicadores municipais a curto, médio e longo prazos”.

Santo André

Durante todo o ano passado Santo André ficou perto da média 5. Porém, manteve indicadores negativos em atenção aos diabéticos e hipertensos. “Santo André possui o Hospital da Mulher, fundado há 16 anos, que é um equipamento de referência no cuidado integral da saúde da mulher e que acompanha as gestantes desde os primeiros dias de gestação, oferecendo todo o suporte como consultas de rotina, ultrassons e todos os outros exames necessários para que o parto ocorra da melhor maneira possível. Com relação aos munícipes portadores de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, o município oferece acompanhamento por meio de 34 unidades básicas de saúde. Todas elas contam com apoio do Nasf (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), que organiza grupos para pacientes de doenças crônicas oferecendo atividades coletivas e monitoramento dos pacientes. A cidade ainda dispõe de equipes de saúde da família, que faz acompanhamento individualizado e nas residências por meio dos ACSs (Agentes Comunitários de Saúde) e os médicos da família”, informa a prefeitura, em nota.

Mauá e Rio Grande da Serra não responderam até o fechamento desta edição. A primeira teve o segundo melhor desempenho na nota média da região, 7,24, porém também tem o atendimento a diabéticos e hipertensos como pontos a melhorar segundo o ranking Previna Brasil. Rio Grande da Serra teve a pior nota da região, 0,87. A cidade zerou nos indicadores I1, I3, I5 e I7. Segundo o especialista em Atenção Primária da FMABC, Murilo Sarno, esse número pode significar problemas de cadastro.

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