As chuvas de verão não são mais aquelas que nos acostumamos. As mudanças no planeta fizeram com que os temporais fossem cada vez mais frequentes e assim, apresentam uma maior incidência de alagamentos e enchentes na região. Especialistas ouvidos pelo RDtv nesta quarta-feira (14/02) apontam a necessidade dos municípios em ouvir especialistas e assim levar a sério a emergência climática, fator que mudou completamente o clima.
O próprio uso da expressão “emergência climática”, substituindo a anterior “mudança climática”, é uma forma da ciência chamar a atenção do planeta para os extremos causados pela poluição e pela falta de cuidado com o próprio planeta. Passando por um clima de extremo frio ao extremo quente, e pelos períodos de seca e as tempestades que causam estragos em diversos locais.
“Uma chuva de 100mm, 110mm, uma coisa que não é mais nova, ela está dentro de todo esse pacote, todo esse contexto de uma mudança climática real, dentro dessa emergência climática que pouco se está levando a sério”, aponta a professora doutora na área de Climatologia e Mudanças Climáticas da UFABC (Universidade Federal do ABC), Maria Valverde.
A especialista aponta que tal fenômeno climático precisa ser levado em conta quando os governantes realizam seus planos emergências ou mesmo de longo prazo para o combate aos alagamentos e enchentes. As causas destes problemas na região já foram alvo de um Inventário Regional sobre Emissões de Gases de Efeito Estufa, em 2016. Apesar de recentes movimentações dos municípios para a atualização dos dados, como no caso de Santo André, existe a necessidade de um estudo mais amplo que possa reforçar as ações para mitigar o problema e melhorar os planos municipais em períodos de fortes chuvas.
“Nossas cidades não têm uma reação rápida e emergencial para problemas de alta concentração de chuvas em um período. E temos que nos acostumar a ideia de que soluções seriam paliativas até agora. À medida que nossas cidades foram crescendo, e foram crescendo a beira de córregos, esses córregos e rios foram dividindo os municípios, as decisões (sobre a drenagem) devem ser conhecidas entre todos. E temos que imaginar que o tempo de resposta não é igual para todos os municípios”, comenta Enrique Staschower, professor e coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Santo André.
O que está claro para os especialistas é a necessidade de deixar de lado a ideia de que os piscinões ou a limpeza de bueiros são os únicos pontos de solução possíveis para combater uma enchente. A necessidade de soluções mais modernas e a inclusão de projetos que possam impedir o prosseguimento da impermeabilização do solo são detalhes que devem ser levados em conta pelos gestores públicos. Além da escuta de especialistas das mais diversas áreas.
“Passamos um pouquinho do tempo. Essa solução, que de alguma maneira foi eternizada, que é o piscinão, é um erro histórico que estamos insistindo. Em primeiro lugar o piscinão acaba destruindo uma área muito grande da cidade, que poderia ser um parque, que poderia ter uma outra função para um local que vai receber a água por cinco dias, sete dias por ano, e que no resto do ano ele serve como um buraco impermeabilizado, um local extremamente insalubre para toda a cidade”, diz Enio Moro Jr., gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).