
A Inteligência Artificial, ou simplesmente IA, já é realidade na vida da maioria das pessoas, desde quando se busca informações até sistemas de atendimento em que o usuário nem sequer sabe diferenciar se está falando com um ser humano ou um robô. Seus usos são ilimitados e os cursos superiores já colocam a matéria na grade de disciplinas para que os novos profissionais já saiam dos bancos escolares com conhecimento suficiente do assunto para aplicação no trabalho. Futuros engenheiros, advogados, jornalistas, profissionais de saúde, entre outras carreiras terão de ter conhecimento ou estarão em desvantagem no mercado de trabalho.
Para a juíza do trabalho e professora da FDSBC (Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo), Erotilde Minharro, não há como pensar o mercado de trabalho no futuro sem ensinar os profissionais a terem familiaridade com os diferentes mecanismos da IA, para desenvolver imagens, vídeos, estatísticas, ensaios e até mesmo fazer petições judiciais.
“Desde 2022 a Inteligência Artificial já era muito usada para o levantamento de dados estatísticos, alguns advogados até já usam como forma de avaliar como os juízes julgam determinadas causas. A partir de 2023 com a IA Generativa, a tecnologia ficou mais disruptiva e quase não se consegue distinguir mais se estamos ligando com uma máquina ou um ser humano. O ChatGPT, por exemplo, já é muito usado pelos escritórios de advocacia para elaborar petições que são validadas depois por um ser humano. O Poder Judiciário já usa para separar assuntos e ficar mais fácil localizar processos e fazer o julgamento, mas ainda não usa a Generativa por causa da proteção de dados. O ministro Luís Roberto Barroso (presidente do Supremo Tribunal Federal) já disse que é preciso ajustar a IA à Lei Geral de Proteção de Dados”, aponta a juíza.
Os estudantes precisam entender que o funcionamento da IA e seu uso não significam que precisarão ter um conhecimento menor, já que a máquina faria parte do trabalho. A juíza diz que é preciso saber usar os vieses porque, dependendo como for feito a IA pode inventar dados e um profissional do Direito não pode usar dados falsos. Tem que saber utilizar e conhecer como funciona e quais os perigos. Tem que saber usar a ferramenta para o bem. Por isso eu avalio que ela vai mudar o emprego e a empregabilidade. Se uso um algorítimo não vou mais precisar de um funcionário de TI, por exemplo, a IA também vai diminuir a quantidade de advogados em um escritório. Com ela dá para fazer 200 petições por dia, mas sempre vai ser preciso um ser humano para analisá-las. Se souber usar a tecnologia a favor do ser humano posso otimizar o serviço sem perder postos de trabalho”, analisa Erotilde.

Para o professor Claudio Fernando André, do Mestrado-Doutorado em Educação da Universidade Metodista de São Paulo, o mercado de trabalho já é profundamente influenciado pela IA e a universidade tem um papel importante em deixar os alunos em sintonia com essa tecnologia. “A aplicação da IA tem sido diversificada, contribuindo desde a criação de conteúdos visuais e auditivos até a implementação de ferramentas avançadas como o ChatGPT, visando o aprimoramento das competências de escrita, investigação e pensamento crítico dos estudantes”, afirma.
André diz que o emprego dessas tecnologias propicia um ambiente de aprendizado enriquecedor e personalizado, equipa os alunos para enfrentar um ambiente de trabalho progressivamente influenciado pela IA. “Adicionalmente, dou grande ênfase ao entendimento ético e social da IA, assegurando que os discentes estejam aptos não somente a utilizar essas ferramentas com eficiência, mas também a compreender suas repercussões na sociedade e na ética”, diz.
O professor da Metodista avalia que a IA tem forçado a adaptação das instituições de ensino superior e que sem essa formação os futuros profissionais terão dificuldades. “Considero que o atual cenário de evolução tecnológica da IA demanda processos constantes de adaptação tanto por parte das entidades educacionais quanto dos indivíduos que nelas obtêm sua formação. Acredito que se tornará progressivamente mais complexo para os novos profissionais alcançarem destaque no âmbito laboral sem possuírem uma base sólida no manejo de tecnologias de Inteligência Artificial, incluindo ferramentas como ChatGPT, MidJourney e ElevenLabs, entre outras. As habilidades digitais estão assumindo uma importância equiparável às competências convencionais em leitura, escrita e raciocínio lógico-matemático. Assim, vejo que a ausência de proficiência nessas tecnologias emergentes pode restringir de maneira considerável tanto as possibilidades de empregabilidade quanto a ascensão profissional. Sem dúvida, o conhecimento sobre inteligência artificial está se tornando um critério crucial na contratação de novos profissionais, em muitos campos de atuação. Em setores que vão desde a saúde até o jornalismo, a capacidade de trabalhar lado a lado com sistemas de IA é valorizada não apenas para a execução de tarefas rotineiras, mas também para a inovação e desenvolvimento de novas soluções. Portanto, acredito que esse conhecimento não apenas será, mas já é, um grande filtro para a contratação”.

A FEI (Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros) iniciou este ano o curso de graduação em Ciência de Dados e Inteligência Artificial. No curso os estudantes serão capacitados com uma formação completa para atuarem como solucionadores de problemas, aplicando o aprendizado em redes neurais, Deep Learning, Data Analytics, criação de sistemas inteligentes, Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina Explicável (XAI), por exemplo. “Com a formação em Ciência de Dados e Inteligência Artificial, nós buscamos preparar o estudante para construir caminhos e propósitos verdadeiramente humanos, preparando-os não apenas para suas carreiras, mas também para uma responsabilidade social a serviço dos cidadãos em escala global”, destaca o professor Plínio Thomaz Aquino Junior, coordenador do novo curso
“Os temas estudados no início do curso são constantemente estimulados e aplicados ao longo de toda a jornada acadêmica. Ou seja, o cientista de dados formado pela FEI é preparado para trazer as respostas e soluções tecnológicas à serviço da sociedade”, ressalta Aquino que além de coordenar, também é professor do curso.
FSA
O ensino da IA também está presente na FSA (Fundação Santo André). A partir deste ano, os alunos ingressantes nos cursos de Engenharia e Arquitetura do Centro Universitário Fundação Santo André contam com uma nova disciplina. Trata-se da matéria Projeto Integrado em Inteligência Artificial – do Conceito à Construção de Soluções. De acordo com o professor Mário Garcia, coordenador do curso de engenharia da FSA, o objetivo da disciplina é auxiliar os alunos a potencializarem o uso das ferramentas de IA através de exercícios práticos em grupos e individuais. “Nossos alunos terão maiores possibilidades de ingresso no mercado de trabalho adquirindo novos conhecimentos de IA que já são realidade na maioria das empresas da área”, conta.