
De janeiro a outubro de 2023 foram interditados pela ANP (Agência Nacional de Petróleo) 10 postos de combustíveis no ABC, a maioria dessas interdições aconteceu por venda de combustível fora das especificações ou a calibragem da bomba estava errada fazendo com que o consumidor levasse menos combustível do que pagou. Além das interdições, foram emitidos no período 58 autos de infração, quase seis por mês, contra os postos da região. Portanto todo o cuidado é pouco ao escolher o posto para abastecer o veículo já que o uso de combustível ruim pode ocasionar, na melhor das hipóteses, consumo elevado e numa situação mais extrema, danos irreversíveis ao veículo.
O morador de São Caetano, Sérgio Wilson Moretti, foi uma das vítimas de produto ruim. Acostumado a abastecer sempre no mesmo posto ele completou o tanque do seu carro para uma viagem ao litoral que costuma fazer regularmente, achou que naquele dia o comportamento do veículo estava diferente. “Meu carro é muito econômico, costuma fazer oito quilômetros com um litro de Etanol, mas o rendimento caiu para menos da metade. Geralmente eu enchia o tanque, ia e voltava de Peruíbe a ainda rodava alguns dias, daquela vez eu estava voltando e tive que parar na Imigrantes, na altura de Diadema para abastecer, porque senão fizesse isso eu não chegaria em casa”, narrou.
Para Moretti não há dúvidas de que o que haviam colocado no seu carro antes da viagem não era combustível de qualidade. “Assim que eu abasteci em Diadema e peguei o Corredor ABD o carro já se transformou, voltou a fazer a média normal”, relata. O morador de São Caetano disse que trocou de posto e também não teve experiências muito boas. “Eu estou indo abastecer fora de São Caetano”, conta.
A experiência contada pelo motorista já deve ter sido vivida pela maioria dos motoristas e é exatamente esse o primeiro sinal de combustível ruim, a perda de rendimento e a alta no consumo, segundo explica Fernando Fusco, professor de Engenharia Mecânica da FEI (Fundação Educacional Inaciana). “Admitindo-se que a manutenção do veículo está correta, um dos indicadores é a variação abrupta do consumo de combustível. Os combustíveis adulterados ou mesmo as bombas que entregam menor volume podem ser detectados desta forma, calculando-se quantos quilômetros o carro percorre com um litro de combustível. Em veículos mais modernos equipados com sistemas de controle eletrônico do motor, o próprio sistema monitora continuamente os parâmetros de funcionamento do motor e indica as anomalias mais graves através da lâmpada de anomalias no painel de instrumentos. Nos carros mais antigos, equipados com carburador, deve-se ficar atento ao funcionamento do motor, que não deve apresentar falhas, principalmente em acelerações e nas partidas a frio”.
Os veículos mais modernos, com motores de três cilindros, com turbo e injeção direta de combustível, são mais eficientes, consomem menos e poluem também muito menos, mas nada disso os protege de solventes ou outros produtos usados para adulterar a gasolina ou etanol. “Atualmente apenas o tamanho do motor não define suas características técnicas. A tendência do “downsizing” tem substituído os motores maiores por motores menores, mais tecnológicos e eficientes. Por exemplo, os motores 1.0 turbo, bastante difundidos em nosso mercado, entregam praticamente a mesma performance dos motores 2.0 aspirados, com consumo de combustível muito menor, fruto do desenvolvimento tecnológico”, diz o professor da FEI.
No caso do morador de São Caetano, não houve prejuízo ao motor, exceto o gasto de combustível maior do que o normal, porém o engenheiro mecânico explica que uma pequena quantidade pode ser suficiente para causar danos, dependendo do que contém o ‘batismo’. Segundo ele, o motorista deve evitar deixar o medidor chegar à posição de reserva porque o próximo posto, aquele que se recorre numa emergência, pode ter produto adulterado. É um risco colocar ainda que seja apenas um pouco de combustível ruim para chegar a outro posto. “Esta é uma situação que deve ser evitada. Rodar com o tanque na reserva pode abreviar a vida útil dos componentes do sistema de combustível. A depender da adulteração, o uso de uma pequena quantidade de combustível adulterado já pode ser suficiente para causar danos irreversíveis”, diz Fernando Fusco que recomenda que o motorista não consuma o produto se notar problemas no carro. Deve ser feita uma limpeza do sistema de alimentação do carro.
O professor lembra que além do gasto e dos danos ao motor o combustível adulterado faz mal ao meio ambiente. “Além de danificar o veículo, os combustíveis adulterados também podem emitir poluentes acima do limite regulamentar, prejudicando a saúde. Os danos podem ser irreversíveis ao motor e também aos sistemas de controle de emissões de poluentes, por exemplo o catalisador. Em qualquer caso, os prejuízos são grandes, tanto financeiros quanto ambientais”.
Descoberta
Mas como descobrir, apenas com o olhar se o produto que o posto vende é ruim? O preço pode ser um indicativo, se ele está abaixo da média da região pode significar que tem algo mais em seus tanques misturados ao produto para que possa ser vendido mais barato. Mas nem sempre esse é um indicador absolutamente confiável. Moretti, o morador de São Caetano que usou combustível ruim, disse que apesar do produto ruim, o preço praticado no posto que o atendeu antes da viagem era até mais caro. “O preço é um dos indicativos, mas não um fator determinante. O mais indicado seria abastecer sempre em um posto de confiança, pois caso alguma anomalia aconteça com o carro fica mais fácil rastrear”, diz o professor. Procurar também uma determinada bandeira de distribuidora ou discriminar posto que não tenha essa bandeira também não é uma análise muito precisa. “A boa qualidade deve estar presente independente da bandeira. Todos os postos são obrigados a atender às especificações dos combustíveis”, completa o especialista.