Desde a última semana que moradores de São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra têm notado algo diferente nas torneiras das casas e nos córregos municipais. Em algumas cidades, o que chama atenção é uma espuma branca e espessa nos rios, enquanto em outras, o que incomoda é a água com aspecto de barro que sai diretamente das torneiras. Tais situações chamam atenção de especialistas ambientais, que recomendam cuidado na hora do consumo.
Em conversa com o RD, moradores de Diadema dizem que é comum lidar com água barrenta e amarelada. “Vai além de um problema no córrego. É comum a água sair amarelada até mesmo na pia, e quem não tem filtro sai no prejuízo”, comenta Cosmo Maciel da Silva. Encanador com mais de 30 anos de experiência e morador Campanário, Silva conta que até mesmo nas ocasiões em que os moradores acionam a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), nada é feito. “Não resolvem nada e ficamos sem saber o que acontece com essa tubulação. Sequer dá pra tomar banho ou lavar roupas”, salienta.
Na residência de Adriano da Silva e sua mãe, Lúcia Clementina, 70, no Eldorado, também na cidade, a situação se repete. A água está com coloração amarelada há semanas e, segundo Silva, até mesmo quando a Sabesp é acionada, o problema não é resolvido. “A água tem uma coloração nojenta. Ficamos até com medo de utiliza-la e contrair alguma doença”, afirma.
Em Ribeirão Pires, os moradores se mostram preocupados com a presença de espuma branca e espessa no principal córrego que corta o centro da cidade. Na última semana, a estudante de Administração, Lizandra Castro, de 21 anos, comenta ter visto a espuma quando voltava para a casa. “Parecia que tinham jogado detergente ou algum outro sabão no córrego, de tão espessa que a espuma era”, comenta.
Questionada, a Prefeitura de Ribeirão Pires confirma a informação e informa que tratava-se de sabão nas águas do córrego. Isso acontece por conta do uso excessivo de detergente, shampoo e outros produtos espumantes depositados no leito do rio, advindos de residências, lava rápidos e fábricas. Outro fator que contribuiu para a espumação, foi a forte e rápida chuva que a cidade presenciou, isso fez com que a velocidade do córrego aumentasse, contribuindo para tal fato.
Em Rio Grande da serra, a mesma espuma foi vista, e os moradores relataram a presença de peixes mortos nos córregos. Em nota, a Prefeitura de Rio Grande informou ter feito testes na água que resultaram em inconclusivos, porém segue investigando a situação.
“A equipe de fiscalização ambiental da Prefeitura, juntamente com o Corpo técnico da Companhia Ambiental do Estado de SP, fez coletas de amostras d’água e peixes localizados em cursos das águas da cidade para exames laboratoriais e identificação da causa das mortes dos animais. Os laudos obtidos de dezembro de 2023 descartaram contaminação química e resultaram como inconclusivos. Novas amostras estão sendo coletadas para identificar causas e eventuais infratores/poluidores”.
A respeito da mudança na coloração da água, a Sabesp informa que a presença de barro no abastecimento se dá em razão de um aumento nos níveis de margens ao redor do reservatório. “A Sabesp detectou uma elevação nos níveis de manganês na água bruta captada na Represa Rio Grande que abastece São Bernardo e Diadema. A alteração provoca mudança na coloração da água. Tal fenômeno acontece de forma natural devido às altas temperaturas registradas no local”, justifica a companhia ao afirmar que fará ajustes para resolver o problema.
Impactos ambientais
O RD conversou com a professora, pesquisadora e coordenadora do núcleo de sustentabilidade da universidade Metodista, Tassiane Boreli, sobre os impactos sociais e ambientais desses casos.
Segundo ela, os impactos são severos e devem acender alerta para a população. “É preciso que seja feita uma análise em relação à qualidade da água e que sejam impostas multas ambientais, porque sem isso, a população que acaba pagando”, afirma. A pesquisadora completa com a informação de que esse cenário pode ser extremamente prejudicial à vida. “Essas questões causam uma modificação na qualidade da água que atinge a biodiversidade e, consequentemente, a população, então a lei deve garantir a sobrevivência da vida, seja ela qual for”, afirma.
Para a coordenadora, a impureza da água, não é algo tão simples de ser resolvido, e pode ser, inclusive, um grande explicativo para o grande aumento de doenças no país, a exemplo das viroses, afinal, a insalubridade da água afeta diretamente no consumo diário da população e traz consigo uma abundância de doenças. “A insalubridade da água traz diversos vírus, bactérias e proliferação de doenças, e nós não sabemos as infecções que o barro traz nessa água. Às vezes você não precisa nem ingerir a água suja, mas por si só a água já está contaminada e isso explica, por exemplo, o grande aumento de casos de virose”, explica.