
Essa semana uma mulher desapareceu depois de ter saído de sua casa, em São Bernardo, a mulher simplesmente sumiu depois de uma discussão em um estabelecimento comercial. A família logo percebeu a demora dela em voltar para casa e deu queixa de desaparecimento, porém a vítima reapareceu no dia seguinte. Na verdade ela sofre de depressão e não queria ser encontrada, apenas apareceu depois que viu sua foto em redes sociais. Esse é um caso reflete a maioria dos casos de desaparecimento, ou seja, daqueles que não estão ligados a crimes, a maioria está ligada ao estado mental da vítima, ou por depressão, ou por uso de alguma substância entorpecente. Mas há os casos em que a pessoa desaparece sem nenhum motivo aparente e não é encontrada, caso de Samuel Gustavo de Andrade (foto), que desapareceu sem deixar pistas há seis anos.
A Secretaria de Segurança Pública não informou quantos foram os desaparecimentos registrados no ABC em 2023, falou apenas dos números estaduais. De acordo com os dados oficiais da 5ª Delegacia de Pessoas Desaparecidas, cerca de 40% dos casos de desaparecimento são de homens adultos, entre 18 e 40 anos. No ano passado, foram registrados 20.532 desaparecimentos em todo o Estado, e 18.860 registros de encontro de pessoas.
Apesar do perfil majoritário, o número de desaparecimentos cresce entre os jovens. Há seis anos Sandro José de Andrade, de 52 anos, procura o filho, Samuel Gustavo de Andrade, que desapareceu no dia 9 de dezembro de 2017, aos 19 anos de idade, após sair de uma festa no mesmo bairro onde morava, no Grajaú, Zona Sul da Capital. Ele conta que o filho estava no auge da juventude, tinha tirado carta de motorista e havia passado em um processo seletivo para um novo trabalho. “Meu filho só estudava, era um menino caseiro e nunca se envolveu com nada errado, ele foi em uma festa se encontrar com o irmão mais velho. Ele ficou até mais tarde e não voltou para casa. Buscamos em câmeras do bairro e vimos que ele estava andando meio apressado e sem rumo, passou a 50 metros da porta de casa e sumiu. Parece que ele teve um tipo de surto, ou alguém deu algo para ele na festa que o deixou perdido”, conta.
A família fez de tudo, foi à polícia, levantaram as imagens de câmeras de segurança, a única informação concreta veio dez meses depois do desaparecimento. “A polícia descobriu que o celular dele foi localizado com outra pessoa que alegou ter comprado de um rapaz que não era meu filho. Essa pessoa tirou uma selfie durante a negociação e enviou para o comprador. Não tivemos acesso a essa foto porque o processo acabou arquivado. Por isso que lutamos, veja dois dias depois do desaparecimento do meu filho uma pessoa vendeu o celular dele e só soubemos disso dez meses depois. Essa pessoa tem muito a explicar”, lamenta o pai.

Engajado na luta das famílias que buscam parentes desaparecidos, Andrade foi até Brasília e esteve com o ministro Sílvio de Almeida (Direitos Humanos e Cidadania). “Falamos sobre o cadastro nacional e sobre ferramentas para agilizar a apuração, hoje a tecnologia permite que alertas sejam disparados assim que a queixa de desaparecimento for feita, alertando rodoviárias, hospitais e estabelecimentos como albergues”, disse.
O desentendimento familiar, efeito de drogas, surtos e apagões de memória estão entre os fatores mais comuns quando se fala em desaparecimento de pessoas. O CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) abordou o assunto em 2022. Sandro Andrade estava lá, e relata que esses fatores estão envolvidos na maioria dos casos. “Falta uma investigação mais ágil”, comenta.
Um delegado da região que conversou com o RD, na condição de que seu nome não fosse revelado, confirmou que, em geral, os casos de desaparecimento, quando não estão ligados a crimes, têm ligação com a condição psíquica da vítima, seja por doenças psiquiátricas, seja por uso de substâncias ou medicamentos, além de brigas com familiares. “A questão criminal, quando a vítima foi morta e ainda não foi localizada, é minoria, a maioria são os desaparecimentos motivados por brigas ou então a vítima está em tratamento por depressão ou esquizofrenia e tem também os casos de envolvimento com drogas”, relata.
Sandro Andrade, no seu engajamento, ajudou e até hospedou em sua casa, uma família carioca que procurava o filho e acabou encontrando-o entre os dependentes químicos na região da Capital conhecida como Cracolândia. A investigação tinha apontado que ele estaria em São Paulo.
O delegado que atende casos todas as semanas aponta que a média de idade das vítimas de desaparecimento é cada vez menor. “A gente nota que são muitos os desaparecimentos de jovens e adolescentes. Isso pode ocorrer por vários fatores, choque de gerações e pais muito rígidos, mas cada caso tem seu motivo”, relata.
Tempo
É mito que haja um tempo estabelecido para que se possa dar queixa do desaparecimento. O delegado recomenda que a comunicação seja feita o mais breve possível e isso pode ser feito online, na Delegacia Eletrônica e em seguida a família pode se dirigir a uma delegacia e incluir a essa queixa fotos do desaparecido que vão para um banco de dados da polícia. “A rede social também ajuda bastante, porque ela tem um grande alcance, as famílias usam muito, mas a polícia tem que ser comunicada. O índice é alto de encontro, quando é apenas um caso de desaparecimento”.
Esperança
O pai do jovem desaparecido no Grajaú, não perde as esperanças, mesmo seis anos após o desaparecimento do filho ele tem convicção de que um dia vai encontrá-lo. O drama familiar foi agravado, com a perda de outro filho, irmão mais velho de Samuel, que tirou a própria vida num período de depressão. “Quando o Samuel desapareceu eu larguei meu emprego e me dediquei às buscas. Eu saia de casa cedo e avisava que só voltava quando trouxesse ele de volta, estive em tudo que é lugar, nas comunidades, entre moradores de rua e ainda hoje vou a casas de apoio levo fotos dele e de outras pessoas desaparecidas. Isso me faz bem, me dá a sensação de estar fazendo alguma coisa e na rua encontro palavras de incentivo, as pessoas me dão força, dizem sempre que eu vou encontrá-lo”, completa.
Procedimento
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública diz também que a comunicação deve ser imediata. “A Secretaria da Segurança Pública orienta que, após esgotadas todas as possibilidades de contato com a pessoa desaparecida, seja por telefone, mensagem ou qualquer outro meio usual, os familiares devem registrar imediatamente o boletim de ocorrência de desaparecimento de pessoa em uma unidade da Polícia Civil do Estado de São Paulo, ou pela Delegacia Eletrônica. Os registros vão gerar um alerta para todos os policiais do Estado. É importante que os familiares forneçam o maior número de dados possíveis acerca da pessoa, isto é, além dos dados pessoais como nome, RG, CPF, data de nascimento, endereço e telefone, deverão informar características físicas, vestimentas que usava quando desapareceu e outras informações relevantes. Paralelamente a família também pode colaborar mantendo contato com amigos e conhecidos para obter notícias acerca de repentinos aparecimentos e novas informações sobre o paradeiro da pessoa desaparecida”.