Mesmo com o fim da Emergência de Saúde Pública em decorrência da Covid-19, declarada pela Organização Mundial da Saúde, em maio, as pessoas em situação de vulnerabilidade seguem com diversos problemas por causa da pandemia. Ao RDtv desta terça-feira (31/10), Eduardo Rodrigues, pós-doutorando em Saúde Pública pela USP, coordenador e pesquisador do Centro de Estudos de Saúde Coletiva, da Faculdade de Medicina do ABC, relata o aumento dos problemas sociais, econômicos e de saúde na população que vivem em favelas.
Segundo os dados preliminares de uma pesquisa que estuda o alcance da pandemia nas favelas, e que tem como local de estudos o Morro da Kibon, em Santo André, os aspectos que levam a elevação da vulnerabilidade pioraram. Inclusive atingindo a visão que as pessoas têm sobre o chamado “novo coronavírus”.
Apesar de 91% dos que responderam ao questionário acreditarem que a vacinação foi fundamental para reduzir a doença, 70% revelaram que tiveram medo da imunização, principalmente por informações falsas divulgadas por líderes próximos ou mesmo pelo Governo Federal na gestão de Jair Bolsonaro (PL).
30% chegaram a acreditar em tratamentos não comprovados com remédios como cloroquina e ivermectina. Outros 25% consideravam que o uso de máscaras causaria qualquer prejuízo para a saúde. E 90% afirmaram que durante o início da quarentena acreditaram que a doença não era preocupante.
Saúde Pública

Outros dados que chamaram a atenção foram de que 60% dos entrevistados afirmaram que não tinham acesso aos serviços de saúde e que 50% foram obrigados a escolher entre comprar alimentos ou remédios durante a quarentena. 70% reclamaram de uma longa espera de atendimento durante a pandemia. Dois terços afirmam ter dificuldade de acessar o médico. O mesmo montante considera que o SUS não está preparado para atender os moradores de favela em caso de pandemia.
Para Eduardo, os números apontam sobre a necessidade de um maior investimento em Saúde. “O SUS é essencial, cumpre um papel muito importante na sociedade, salva vidas diariamente, mas junto a população de favela ainda precisa melhorar bastante”, comenta o pesquisador.
Saúde Mental
80% dos moradores do Morro da Kibon é formada por pessoas pretas ou pardas. 30% afirmam que a “vida piorou” após a pandemia. A sensação piora quando se fala de Saúde Mental. 80% dos negros afirmam que sofreram mais durante a quarentena. 90% apontaram ansiedade ou estresse. 50% afirmam sofrer com alguma tristeza ou depressão. 40% afirmam usar algum tipo de droga, lícita ou ilícita, para lidar com as emoções. E 25% consideram que “a vida perdeu o seu propósito”.
Vulnerabilidade econômica
Sobre a renda, dados ainda mais alarmantes. Um terço dos entrevistados apontaram que a sua renda familiar está entre R$ 330 e R$ 660. 60% perderam o emprego ou tiveram a renda reduzida durante a pandemia. 16,7% estão desempregados (sendo que média nacional é de 7.9%). 70% estão com dívidas em atraso. 60% tiveram que assumir um emprego a mais para completar sua renda e 50% dos desempregados ainda seguem sem vaga no mercado de trabalho.
Outro ponto que chamou a atenção foi sobre o acesso à energia elétrica e saneamento básico. A maioria conta com acesso clandestino aos dois serviços. 41% afirmam que sofrem com problemas de energia em suas residências. Sobre acesso a água, 50% contam com ligações compartilhadas, 25% são clandestinas e um quarto dos entrevistados acessam a água por poços.
A densidade no local também causou problemas. A maioria dos entrevistados não utilizavam máscaras para circular na favela e 70% tiveram problemas para realizar o isolamento, pois moram em residências com pelo menos cinco pessoas morando.
Os dados preliminares ainda serão cruzados com as informações sobre a vacinação.