
Levantamento feito pela Enel mostra que somente nos primeiros 17 dias de outubro, as 24 cidades da região metropolitana de São Paulo atendidas pela companhia foram alvo de 4,5 mil raios, um aumento vertiginoso se comparado com os 35 raios registrados no mesmo período do ano passado. Só no ABC foram 1.070, media de 63 raios por dia. Segundo o professor do curso de Engenharia Elétrica do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Edval Delbone, é preciso muita precaução, pois a maioria das pessoas atingidas por raios morre.
De acordo com o levantamento da Enel, São Bernardo é a segunda, dentre 24 cidades, com maior número de raios, foram 548 descargas elétricas que tocaram o solo do município nos 17 dias do mês, perdendo apenas para a Capital que teve 1.518 registros. Santo André aparece em sétimo lugar, com 218; Ribeirão Pires em décimo segundo lugar, com 102 raios registrados; Mauá em décimo terceiro, com 89; seguida por Rio Grande da Serra, onde houve 83 descargas elétricas; Diadema teve 21 situações o que a colocou na vigésima colocação e São Caetano foi o município com menos registros de raios das 24 cidades da área de concessão da companhia de eletricidade, com nove registros.
Outubro já é considerado o mês mais chuvoso das últimas décadas. Só na Capital não se vê um outubro tão chuvoso assim desde 1.943. Com as chuvas vêem também os raios e trovoadas. Para o especialista do IMT, o ABC reúne todas as condições para ser uma das regiões mais afetadas por raios. “Em geral toda a região metropolitana de São Paulo tem uma característica de relevo parecida, porém o ABC tem uma combinação mais favorável, porque está mais próxima da Serra do Mar, região mais úmida e por isso mais propícia para o acúmulo de descargas elétricas”, compara.
O professor alerta para o perigo de estar desprotegido durante uma tempestade com raios. “As pessoas correm risco de vida sim, porque o raio é uma energia impulsiva, de alta tensão e muito rápida. Se a pessoa for atingida pela parte principal do raio ela será uma vítima fatal. Geralmente quem sobrevive é aquele que é atingido por uma ramificação do raio, mais fraca. Por isso que acontece de um raio cair em um lugar com várias pessoas e umas sobrevivem outras não”, diz Delbone.
Edval Delbone explica que o raio é uma carga negativa que é armazenada na parte de baixo das nuvens e é causada pela movimentação delas causada pelo vento. Essa força é atraída pela carga positiva que vem da terra. O raio é a representação da junção das forças. “A força negativa provoca na terra uma carga positiva e elas vão sempre tentar se tocar, por isso o raio toca sempre as partes mais altas. Se você está numa área descampada, como uma área rural sem árvores ou em uma praia, você pode ser esse ponto mais alto e a carga vai atingir você de cima para baixo e de baixo para cima. Nestes casos o ideal, se não der para correr para um abrigo, é se abaixar, abraçando os joelhos, assim você fica mais baixo e o raio procura outro ponto mais alto”.
Folclore
O dito popular de que um raio não cai duas vezes num mesmo lugar é folclore, um raio cai sim e é muito provável atingir o mesmo ponto não apenas duas, mas várias vezes. “O Cristo Redentor (no Rio de Janeiro) é uma prova disso, ele é constantemente atingido por raios, por isso instalaram nele uma proteção, um grande para-raios. Ocorre que o raio se desloca no ar quando há uma ionização, uma carga positiva no ar que o torna condutor de energia. Depois que um raio passa se forma um tipo de canal condutor, por isso ele não só pode, como provavelmente vai cair mais de uma vez num mesmo lugar”, explica o especialista do IMT.

O professor recomenda que as pessoas, assim que notarem que se forma uma tempestade com raios, procurem um abrigo, uma marquise ou um prédio, que têm uma proteção maior. O carro, apesar de ficar isolado pelos pneus, pode ser um abrigo, mas Delbone diz que ficar no veículo não é o ideal. O guarda-sol ou o guarda-chuva são outros itens que devem ser evitados porque podem atrair os raios.
Outra dica muito importante se estiver em uma piscina ou na praia, é sair imediatamente da água. “A água é condutora de energia, a água salgada do mar é ainda mais condutora, então tem que sair imediatamente porque é super perigoso, formou mau tempo saia”, orienta o professor.
Dentro de casa também não se está livre de ser atingido pelas descargas elétricas dos raios. O raio pode entrar pela fiação da casa, pela rede elétrica, de internet ou telefone. “Se a casa for atingida e a pessoa estiver com a mão na geladeira, ela sofrerá uma descarga, o mesmo pode acontecer se estiver usando um telefone com fio. Se o celular estiver com o cabo na tomada e a pessoa estiver usando no momento do raio ela pode ser atingida, como também aquela pessoa que estiver usando um fone de ouvido com fio, ligado ao computador, por exemplo. As casas mais modernas tem um circuito de proteção, chamado DPS ou Protetor de Surto, que se desarma e evita que essa força entre para a casa porém não é uma garantia, porque o dispositivo pode não funcionar, portanto o ideal é ficar longe dos aparelhos e dos metais durante as tempestades com raios”, completa o professor Delbone.