ABC - quarta-feira , 1 de maio de 2024

Morre João Carlos Cauduro, criador de logo e mapa do Metrô e muitos símbolos de São Paulo

As criações do arquiteto, professor e pioneiro do design João Carlos Cauduro se tornaram mais do que logomarcas ao longo de décadas: são hoje parte da própria identidade de São Paulo. Autor de criações icônicas – como os símbolos e as sinalizações do Metrô, da CPTM, da Avenida Paulista, da TV Cultura e do Zoológico paulistano – morreu na quarta-feira, 23, aos 88 anos.

“Se você faz um projeto, ele precisa ter como objetivo final melhorar o nosso labirinto urbano. Ou você consegue isso ou só piora a destruição da cidade”, contou em entrevista ao Estadão em 2012. “É difícil explicar como ocorre, é muito intuitivo, não é racional. Muitas vezes estou dormindo e sonho com uma solução”, explicou em reportagem.

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Nascido em 1935, em São Paulo, Cauduro se formou pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) em 1960. Também estudou desenho industrial na Itália.

Por mais de 30 anos foi professor na FAU-USP. Na faculdade, projetou parte dos móveis da Cidade Universitária e implantou a disciplina de Planejamento Visual e Urbano. “A matéria tinha como foco organizar visualmente a cidade, com o objetivo de criar uma cidade mais fácil, mais interessante e agradável”, explicou anos atrás.

Quantos milhões de moradores e visitantes já não consultaram o mapa da rede metroviária paulistana? Ou identificaram uma estação de longe apenas ao avistar a marca das duas flechas sobre um fundo azul? Ou, então, posaram para uma foto em frente aos totens da Avenida Paulista? Identificaram o ônibus que precisariam embarcar de longe, apenas pela cor do veículo? Os exemplos mostram que as criações mais icônicas de Cauduro envolvem a mobilidade urbana e o uso público.

Ele é autor da identidade visual do Metrô, como a marca, as placas de sinalização das estações e o mapa da rede, desenvolvidos a partir de 1967 e anos seguintes. “Até que foi fácil, tentei dar uma ideia do leva e traz, do sobe e desce, de ir para o trabalho e voltar para casa, e chegamos nas duas setas azuis, algo simples mas eficiente”, explicou.

Décadas depois, participou de projeto semelhante para a CPTM. “Usando o vermelho, criamos um desenho muito forte e ao mesmo tempo simples, dando uma unidade para as estações.”

Cauduro igualmente se envolveu em projetos para a rede de ônibus paulistanos, como o que propôs a utilização de cores para diferenciar veículos de distintas partes da cidade. A proposta (popularmente chamada de “saia e blusa” não é aplicada atualmente, mas marcou a discussão sobre a identificação visual do sistema na capital.

“Estudei todos os mapas antigos para entender a formação da cidade, vi que essas áreas ao redor do centro expandido eram os locais onde o pessoal pernoitava com suas mulas para seguir viagem para outras regiões. E esses caminhos viraram as principais avenidas da capital. A partir daí, conseguimos criar essa identificação visual das placas”, explicou ao Estadão.

Na Avenida Paulista nos anos 1970, envolveu-se na criação de mobiliário urbano variado (como os antigos abrigos dos pontos de ônibus) e da sinalização instalada nas esquinas. Hoje, restam ainda parte dos grandes totens verticais, dispostos ao longo da via.

Junto a Ludovico Martino, no escritório Cauduro Martino Associados, destacou-se no cenário nacional por quase 50 anos e produziu mais de mil marcas. Parte dos projetos foram premiados e integraram uma visão que incluía diferentes fatores, o que foi classificado como “design total”.

A comunicação visual do Zoológico de São Paulo (como as placas de identificação dos animais), os símbolos da TV Cultura e do Banespa e criações para o setor privado estão no histórico do arquiteto. Também trabalhou em projetos para empresas nacionais e multinacionais, como Playcenter, Kibon, Natura e Vale, dentre outras.

Em 2012, o urbanista e secretário de diferentes gestões no Governo e Município Jorge Wilheim lembrou de quando Cauduro teve uma ideia para divulgar o recém-criado Anhembi, na zona norte: espalhar pequenas placas de madeira pintadas à mão pela cidade com uma seta que apontava a direção. “Essa coisa do Cauduro de criar uma sinalização que é informativa e ainda assim bonita é impressionante”, comentou à época. “(Até então) Ninguém sabia onde ficava.”

A morte de Cauduro foi lamentada por instituições públicas e privadas. A FAUUSP lembrou de trabalhos e da carreira como um “professor notável”. “Teve uma trajetória muito destacada e seminal para os rumos do design moderno em São Paulo e no Brasil.”, destacou. “Essa faculdade agradece sua vida, e homenageia o seu legado”, concluiu.

O Metrô também lembrou da trajetória do arquiteto, que chamou de “um dos maiores expoentes do design brasileiro”. Já o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) salientou o “papel central na consolidação do design gráfico brasileiro e foi pioneiro no país no chamado design total”. O Instituto de Arquitetos do Brasil – São Paulo (IAB/SP) igualmente lamentou a morte de Cauduro, “um dos principais nomes do design gráfico moderno no Brasil”.

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