Iniciar uma graduação depois de dedicar uma vida à família e ao trabalho se tornou decisão cada vez mais recomendada pelos especialistas, mas quais são os benefícios de começar uma nova etapa após os 50 ou 60 anos? Para o RD, a psicopedagoga e psicóloga do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de Diadema, Vânia Diniz, entrar em uma faculdade na terceira idade possibilita a busca por novos caminhos e novos conhecimentos, além de novas relações sociais com diferentes gerações.
Entre os benefícios, Vânia destaca o estímulo à memória por meio dos novos conhecimentos e aprendizados, contato com a inovação tecnológica, formação de novas amizades e relações, e o estímulo à autoestima, que propicia o bem estar socioemocional. “Podem surgir interesses, novas habilidades e um despertar de si mesmo através dessa nova oportunidade, onde já se carrega uma experiência de vida, que contribui muito e até facilita a aprendizagem”, afirma.
Mas se decidir por uma faculdade para a terceira idade exige reflexão. “Pense no quanto essa escolha preenche uma vida que, por vezes, se esvazia com o passar dos anos, com o processo de envelhecimento, com uma aposentadoria, por exemplo. Pessoas acima dos 60 anos também precisam viver e experimentar novos caminhos, que eles tenham essa oportunidade, trazendo novas emoções ao seu cotidiano, com novos conhecimentos e aprendizados, que abrirão novos horizontes”, diz.
Ademar Camillo Sanches, aposentado de São Bernardo, decidiu realizar o sonho de cursar Direito depois dos 60 anos, formado em eletrônica, e profissional eletricista e de inspeção de qualidade. “O Direito foi uma experiência maravilhosa, que só consegui realizar esse sonho aos 60 anos, porque não tive oportunidade de fazer isso antes com o trabalho, família e falta de tempo, mas nunca perdi a vontade de aprender”, conta.
Sanches conta que se tornou fonte de inspiração para os colegas de classe mais novos. “Quando brincava dizendo que iria trancar o cursos, meus amigos imploravam para que eu não fizesse isso e que eu era visto como um exemplo para aqueles jovens de 20 anos. Como poderia desistir se via tanto carinho, respeito e encantamento da geração mais nova?”, relata.

Fati em São Bernardo
Em todas as universidades da região, não existe limite de idade para se matricular, porém existem dois exemplos dentro de faculdades exclusivos para o público acima dos 60 anos. Em São Bernardo, tem a Fati (Faculdade Aberta para a Terceira Idade), criada em agosto de 1998 como parte do Programa Municipal de Atendimento ao Idoso. A instituição funciona nas dependências da Faculdade de Direito de São Bernardo (rua Java, 425, Jardim do Mar) e oferece curso regular com duração de dois anos. Entre as disciplinas ofertadas, destaque para oficinas de memória, literatura, biodança, espanhol, medicina e saúde.
As aulas da Fati são realizadas às segundas, terças e quintas-feiras, das 13h30 às 17h. O curso regular tem grade fixa com duração de quatro semestres. Após a finalização, os alunos têm a opção de continuar, mas às terças e quintas-feiras, das 13h30 às 17h. Desde sua criação, foram 34 turmas concluídas e mais de 3.200 alunos beneficiados. A matrícula é aberta a qualquer pessoa acima dos 60 anos, morador ou não no município, desde que tenha a escolaridade básica. Basta levar comprovante de endereço, RG, CPF e duas fotos 3×4 e pagar a taxa de R$ 165.

Em entrevista ao RDtv, a professora Salete Valente, coordenadora pedagógica da Fati conta que um novo curso de tecnologia está em elaboração. “Esse curso deve ser introduzido no segundo semestre, com disciplinas como redes sociais e aplicativos, que os alunos sentem necessidade e têm solicitado. A cada semestre adicionamos novos conteúdos e palestras”, reforça.
Salete Valente diz que o diferencial da Fati vai além do modelo curricular, pois envolve socialização, convivência. “Somos uma faculdade de aprender e não apenas ensinar, nossos alunos estão aqui também para conviver, socializar, formar amigos que se encontram nas férias e comemoram aniversários juntos, eles estão conosco para formar esses laços”, ressalta.
USCS
Criado em 2007, o programa tem duração de dois anos e é ministrado no campus Barcelona da USCS, às terças e quintas-feiras, das 14h às 17h. As disciplinas são pautadas em quatro pilares do envelhecimento ativo: saúde, participação social, segurança/proteção e aprendizagem ao longo da vida, com estimulação da linguagem, interação, atenção, percepção, memória e emoções, entre outras capacidades.
O intuito é contribuir para que os alunos possam adquirir melhores condições de saúde e, com isso, assegurar o acesso a atividades artísticas e culturais, e incentivar a pesquisa sobre temas relevantes para que tenham ainda mais qualidade de vida na terceira idade. O programa é voltado para moradores de São Caetano com idade superior a 50 anos. A UniMais já recebeu mais de 2 mil alunos.