ABC - terça-feira , 6 de maio de 2025

Telefônica vai desativar orelhões no ABC

Qual foi a última vez em que você usou um orelhão? Caso não se lembre, você não está sozinho. Presente em ruas e avenidas de todo o País, o modelo de telefone público completa 40 anos de existência e é cada vez menos utilizado. Consequência direta da popularização de celulares, que preencheram o espaço antes ocupado pelos telefones de rua.

De acordo com o último levantamento feito pela Telefônica, a venda de cartões caiu 45% no estado de São Paulo, na comparação do primeiro semestre do ano passado com o mesmo período do ano anterior. A redução do uso dos equipamentos é tão significativa que a Telefônica pretende desativar parte dos orelhões instalados no Estado. E o ABC faz parte dos planos. Até junho deste ano, parte dos 12,5 mil orelhões distribuídos nas sete cidades da região serão retirados.

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Critérios
A Telefônica decidiu desativar os orelhões duplos e triplos, que geralmente estão localizados em áreas com grande movimentação de pessoas. O objetivo é deixar apenas um telefone disponível nesses pontos. Equipamentos instalados em áreas com pouca circulação e baixa utilização também serão retirados. A promessa da operadora de telefonia é sempre manter um orelhão próximo, de forma que o usuário não ande mais de 300 metros para encontrar um aparelho.

A decisão da empresa tem como base um decreto da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que mudou a regra que exigia a presença de seis orelhões para cada 1000 habitantes nos municípios brasileiros. A exigência, a partir do meio do ano, será de apenas quatro telefones para cada 1000 habitantes. De acordo com a Telefônica, ainda não há previsão de quantos telefones públicos serão retirados no ABC. Em todo o Estado existem 210 mil orelhões.

Clientes usam pouco orelhão, mas reclamam de retirada
Os usuários de telefonia no ABC não gostaram da notícia sobre a desativação dos orelhões, mas reconhecem que usam cada vez menos o telefone público.
“Faz uns três anos que não utilizo orelhão, hoje com o celular quase não precisa”, afirma o policial militar Ademir Miranda. Ele, no entanto, não concorda com a retirada. “Vai fazer falta, porque tem quem não usa celular. Além do que, é uma opção que a pessoa tem se acontecer algum problema, como bateria descarregada do celular, por exemplo”.

A dona de casa Marleide Bueno costuma fazer compras na rua Coronel Oliveira Lima, no centro de Santo André. Na região existem vários locais onde há três orelhões instalados no mesmo ponto – justamente o tipo de concentração de aparelhos que deve deixar de existir até o meio do ano. “Vem aqui no Carnaval ou no final do ano pra ver se você acha um orelhão pra ligar. Muita gente ainda usa. Às vezes preciso ligar e estão todos ocupados”, revela.

Orelhão completou 40 anos

Tulipa e Capacete de Astronauta. Estes foram dois dos nomes que o orelhão recebeu no início da década 70, quando foi criado. Neste mês, este modelo de telefone público completou exatos 40 anos de existência. O funcionamento dos orelhões – nome que acabou sendo adotado pela população – teve início oficialmente em um feriado, no Rio de Janeiro: Dia de São Sebastião, em 20 de janeiro. Cinco dias depois foi a vez dos paulistas conhecerem a novidade, apresentada no aniversário da capital.

A CTB (Companhia Telefônica Brasileira) pretendia expandir a oferta de telefones públicos no País, mas esbarrava em um empecilho. O modelo de cabine telefônica dificultava a manutenção e ampliação deste tipo de serviço. “A cabine era muito quente e ocupava muito espaço. Além disso, algumas pessoas usavam a cabine para outros fins. A CTB queria fazer algo mais barato, menos complicado e que ainda protegesse o telefone da chuva”, lembra o engenheiro eletrônico Clóvis Silveira.

O engenheiro é viúvo de Chu Ming Silveira, a inventora do orelhão. Nascida em Shangai, na China, e naturalizada brasileira, a arquiteta apresentou o projeto à CTB em 1971. “A ideia foi muito bem aceita pela população. Foi uma surpresa para todos porque se tratava de um formato novo”, afirma Clóvis Silveira. O nome de tulipa chegou a ser adotado em referência ao conjunto de dois ou três orelhões, que lembrariam uma flor. Desde aquela época o acrílico foi o material adotado para compor a cúpula de proteção do telefone.

Clóvis Silveira, que acompanhou a concepção e nascimento do orelhão, não acredita no fim deste modelo de telefone público, mesmo com o crescimento da telefonia móvel. “O celular evidentemente ocupou espaço, mas não vai eliminar este tipo de serviço. Nem aqui, nem na Inglaterra”.

Vandalismo custa R$ 19,2 milhões

Segundo a Telefônica, 25% dos orelhões do Estado passam por algum tipo de vandalismo todos os meses. A empresa gasta anualmente R$ 19,2 milhões para recuperar os aparelhos. Nem sempre a depredação é visível. Segundo a empresa, parte considerável dos aparelhos apresenta defeitos devido a pancadas, introdução de materiais estranhos, além de outros atos de vandalismo capazes de provocar problemas nos equipamentos. Casos de pichação também são considerados atos de vandalismo.

Apesar do número elevado de depredações, o estado de São Paulo não é o que tem mais registro de vandalismo contra telefones públicos. O Pará lidera este ranking: 28% dos telefones públicos do estado foram danificados por ações de vandalismo no ano passado.
 

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