A Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) divulgou nesta semana dados sobre a empregabilidade de mulheres negras no Estado. Segundo o levantamento, feito com base nos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), apontou que, na comparação dos últimos três meses de 2022 com o primeiro trimestre deste ano, houve um aumento de 1,6% no contingente de mulheres ocupadas em solo paulista, porém a taxa de desocupação para este público aumentou de 12% para 12,6%.
A realidade do trabalho para a mulher negra no Estado pode ser perfeitamente transferido para o ABC. “Temos uma grande contradição no país; temos mais de 50% da população negra e a remuneração para ela é 30% menor. A mulher negra vive uma situação ainda pior”, diz o gestor da Escola de Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Volney Gouveia. “A mulher negra tem uma tripla jornada de trabalho, sofre muito preconceito no mercado e ainda fica com aquelas oportunidades de baixa qualificação. Esse é um apartheid social de séculos muito presente no Brasil”, diz o economista.
“Temos movimentos fortes de defesa da igualdade de direitos que tendem a minimizar esse efeito, mas o caminho ainda é muito longo. Portanto essa alta de 1,6% no contingente de mulheres negras empregadas não é de se comemorar. Esse número reflete um aumento na contratação da população feminina negra, mas por outro lado também aumenta essa faixa da população disponível para o trabalho. A situação se agrava quando o acesso à educação de qualidade é negada a essa camada da população”, diz o professor da USCS.
Para Gouveia nos bancos das universidades e à frente deles estão majoritariamente pessoas não negras, o que significa que ainda há um longo caminho rumo à igualdade e até lá a política de cotas ainda será necessária. “No campus universitário professores e alunos negros são minoria, isso também se vê no serviço público. É esse racismo estrutural que ainda é muito profundo, por isso as cotas são necessárias ainda, porque elas são o caminho para acelerar a imersão dessa população para que alcance posição de destaque no mercado de trabalho”.
Também para a coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres da Prefeitura de Diadema, Sheila Aparecida de Oliveira Onório, as cotas nas universidades são uma forma de garantir o acesso da mulher negra à universidade. Ela relata avanços na legislação, mas também avalia que o caminho para a igualdade é bastante longo ainda. “O emprego caiu muito durante a pandemia e para a mulher negra essa dificuldade para conseguir trabalho dobra, se multiplica. Temos a lei recente que equipara os salários de homens e mulheres, tudo foi conquistado com muita luta, mas quanto mais conquistas mais é preciso luta pela empregabilidade”, avalia.

Na prefeitura de Diadema a Coordenadoria de Igualdade Racial conseguiu a aprovação do estatuto da igualdade racial e o conselho da área está atuando. “Estamos avançando, mas ainda é uma jornada longa”, diz Sheila. Sobre o aumento do número de mulheres negras empregadas, ela também considera o número pequeno, porém uma de muitas batalhas a serem vencidas. “Comemoramos a cada degrau avançado, vamos continuar fazendo a luta pela igualdade de direitos”, completa.