Depois da divulgação, no dia 31/03, pela deputada estadual Thainara Faria (PT) de vídeo em que relata ter sido vítima de racismo estrutural dentro da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), agora foi a deputada Ediane Maria (PSol) que disse ter sido vítima de racismo, dentro da Casa Legislativa estadual. O episódio aconteceu no dia da posse dos parlamentares estaduais, no dia 15 de março e a deputada, que é de Santo André, não formalizou queixa.
Em entrevista ao RDTv desta segunda-feira (10/04), Ediane comentou o caso envolvendo Thainara e revelou a situação de que foi vítima. “O racismo é estruturante, está em todas as camadas da sociedade. Sou solidária a companheira Thainara, por isso temos que resistir, fazer política, a Thainara não está só, a bancada feminista não está só. Na posse, não levei para as redes, mas estava saindo do plenário e uma mulher gritou: ‘seu cabelo é feio’. Eu respondi para ela que um dia a gente conversava sobre o meu cabelo. Eu sou linda, o meu cabelo não é moda, é uma resistência”, disse a deputada.
Ediane disse que recebe ataques também em redes sociais. “Todos os dias têm ataques na minha rede social; coisas que a gente acaba filtrando, senão adoece. Nossa função é politizar as pessoas, a periferia vai continuar ocupando espaço, meu mandato é um abridor de portas para mais mulheres ocuparem esses espaços para que as próximas gerações tenham orgulho porque as mulheres chegaram e lutaram”, disse a parlamentar sobre suas bandeiras na Alesp.
Empregada doméstica, moradora do Sítio dos Vianas, e integrante do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Ediane disse que uma das principais bandeiras do seu mandato será a de defesa das trabalhadoras domésticas. “Defendo o acesso a cidade porque as trabalhadoras domésticas que trabalham na sua maioria na informalidade têm dificuldade de acesso a tudo. “Aqui onde moro tudo está longe da gente, delegacia da mulher, posto de saúde tudo é longe. Eu levo meia hora para ir ao supermercado ou um pronto socorro. Por isso que minha candidatura foi tão necessária. Os deputados candidatos apareciam na periferia ou na época da eleição ou no panfleto, então não tínhamos o acesso ao deputado”.

A deputada também falou sobre a responsabilidade de representar mais de 175 mil pessoas e da mulher ocupar 25% das cadeiras da Assembleia Legislativa. “A gente conseguiu esse olhar hoje para a Assembleia que está virando, de fato, um espaço popular. Antes de ser eleita fui lá umas cinco vezes. Hoje ocupar essa cadeira e fazer política importa muito. Na bancada do Psol somos hoje cinco mandatos, são pessoas de movimentos, de cara de rua e isso mostra que a gente veio para mudar a política e mostrar que é possível fazer uma política que atenda a maioria”, diz a deputada.
Ediane se define como bissexual e é mãe solteira de quatro filhos. Ela conta que pretende defender na Alesp a bandeira LGBTQIA+. “A gente rompe uma barreira e mostra que é possível ocupar esses espaços que são nossos por direito. É possível fazer uma política de moradia que atenda a todos. Trazendo essa cor, o cheiro, trazendo o nosso jeito. Eu chego todo dia sorrindo para todos. Sou filha de pedreiro, filha de Raimunda que trabalhou a vida toda como doméstica. São esses olhares que são tão necessários e estou feliz e honrada de representar na Assembleia. Consegui protocolar a frente parlamentar do trabalho doméstico, então teremos esse canal de abertura. Sou uma mulher bissexual e estou aqui para ouvir as demandas de cada coletivo para atender a todos, estamos trabalhando na pauta LGBT e logo volto para falar mais sobre isso”, disse na entrevista à jornalista Mariana Fanti.
A deputada também disse que vai cobrar do Estado o funcionamento das DDMs (Delegacia de Defesa da Mulher) 24h por dia. “São 135 delegacias e só 10 funcionam 24 horas. Eu precisei de uma delegacia da mulher e o atendimento não foi humanizado então a gente não está totalmente protegida. Que as delegacias funcionem 24hs e que o atendimento seja humanizado. Para a mulher chegar na delegacia ela já passou por várias violências e precisa ser acolhida e que sua vida seja protegida. Continuamos morrendo por falta de investimento, fiscalização e acolhimento. Os abrigos estão cada vez mais escassos. A Casa da Mulher Brasileira está acabada, faltou investimento, mas quem está sofrendo violência não pode esperar”.
Consórcio
Ediane participou de reunião no Consórcio Intermunicipal com os deputados da região. Dentre as pautas que ela considerou mais importantes estão o desenvolvimento econômico com geração de empregos e o acesso à moradia. “A gente viu a Ford e a Toyota irem embora, tenho quatro filhos e a juventude não consegue enxergar o emprego. É preciso uma política de moradia, de regularização, no Sítio dos Vianas, onde moro colocaram as placas de regularização fundiária, o secretário de habitação veio aqui, foi um momento único. No Estado, pela primeira vez na história vai ter uma Comissão de Habitação para discutir moradia e regularização fundiária. Não haverá mudança, onde pessoas da periferia mulheres e LGBT não participarem e ocuparem esses espaços”, concluiu a parlamentar do PSol.