Bananeiras não seguram encostas da Mata Atlântica, mas vegetação nativa para a região. O recado é da professora Marta Ângela Marcondes, bióloga e coordenadora do projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade de São Caetano do Sul) sobre os recentes deslizamentos de morros no litoral norte de São Paulo. Em entrevista ao RDtv, Marta afirma que aquela região tem por característica uma quantidade não abundante de solo sobre rochas e que precisa de vegetação adequada para manter a estabilidade do solo.
Com o cenário, Marta diz que é preciso analisar três importantes pontos, porque estamos na Mata Atlântica. O primeiro qual é o tipo de vegetação existente nessas encostas; se plantaram bananeira cuidado porque ela abre o solo para entrada da água. Outro é por que deixaram construir moradias em regiões onde não deveriam ser habitadas. “Está claro que falta uma política habitacional eficiente para que as pessoas não corram risco”, comenta. Outra questão, segundo a professora é que o local tem uma quantidade de solo não grande e está sobre rocha, que vai escorregar. “Somam-se a isso, as mudanças climáticas cada vez mais fortes”, afirma.
Carolina Brandão Coelho, bióloga e docente do Centro Universitário Fundação Santo André, completa ao explicar que a vegetação desempenha papel fundamental para o processo de contenção e estabilidade do solo e no controle climático. Dessa forma, uma área desmatada permite que a água penetre mais facilmente o solo, desestabilizando a área em questão. “Cada árvore é um ecossistema único, que abriga centenas de outros organismos vivos. Além de promover o controle de temperatura e manutenção da umidade do ar, as árvores também absorvem a água das chuvas”, afirma a docente da FSA.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cada indivíduo deveria ter o equivalente a 10m² de área verde para ter saúde e bem-estar garantidos. “Não adianta lutarmos contra as árvores, porque elas existem para nos ajudar e em qualquer situação, mas precisam ser respeitadas”, diz Marta Marcondes.
O crescimento das cidades é inevitável, porém essa expansão deve ocorrer em harmonia com a natureza. Isso implica no planejamento urbano de parques e árvores. Em muitos casos, munícipes sentem-se ameaçados, ou colocados em risco, pela existência de árvores próximas a fiação, telhados etc. Nestes casos, o poder público deve ser acionado para realizar laudos, antes de podar os extrair determinada vegetação. “Esse processo pode durar dias ou meses”, adianta Carolina. “Muitas vezes a população pede a supressão, mas após avaliação os órgãos competentes optam por realizar apenas a poda”, comenta.
Carolina explica que ‘corte’ é quando é feita a supressão de uma vegetação removida por completo. Enquanto a ‘poda’ é o apenas manejo ou remoção. Normalmente, nos grandes centros urbanos essa poda é realizada na copa da árvore. Já a supressão é feita na base. Porém, qualquer uma das opções deve ser realizada exclusivamente por órgãos ambientais competentes, mediante avaliação técnica e autorização prévia. “É extremamente séria a questão do manejo ou supressão de árvores”, explica.
Nos casos de supressão completa, a legislação obriga que seja feita uma compensação ambiental – de responsabilidade do solicitante. “E isso deve ser cobrado pela população”, alerta a professora da FSA. Por outro lado, a professora Marta faz uma ponderação. “Podemos até plantar outra árvore no lugar da suprimida, mas todos os organismos vivos presentes na antiga se perdem para sempre”, diz ao ressaltar que falta muito planejamento e educação ambiental para que a população aprenda a respeitar as árvores.