
A escola não pode ficar alheia aos temas da sociedade e a educação precisa ser contextualizada. Esse foi o cerne da palestra realizada na manhã desta quinta-feira (23) por Frei Betto, frade dominicano, jornalista e escritor, durante o segundo dia do Congresso Municipal de Educação PPP Participativo: Caminhos de Construção da Justiça Curricular, que começou na quarta-feira (22/02) e segue até o sábado (25/02). A atividade, realizada na Praça da Moça, em Diadema, teve também a participação da pedagoga Marilda Santos, representante do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que substituiu o secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ariel de Castro Alves.
Para um público de mais de 2 mil pessoas, Frei Betto destacou que a educação precisa ser contextualizada em quatro eixos básicos – sexualidade, nutricional, ambiental e espiritual – e que a escola não pode ficar alheia aos temas da sociedade, à realidade do território, das famílias, da cidade e do País, bem como ao noticiário. “Existe uma disputa constante entre a educação que quer formar cidadãos democráticos e o capitalismo, que quer formar consumidores”, afirmou.
O tema da mesa de diálogo foi “O papel da educação na construção de uma cidadania amorosa, antirracista, ética, política, ecológica e inclusiva”. Frei Beto lembrou que isso passa por ajudar na construção de crianças e adolescentes – que serão adultos em um futuro próximo em seres pensantes e críticos, diante do desafio da atualidade que é o que chamou de “deseducação das redes digitais”. “O celular, as redes digitais, tiram a experiência educativa de socialização. Os anúncios que custeiam essas redes querem que as pessoas vejam o que é supérfluo como necessidade e o capitalismo já entendeu que a criança é uma forma eficaz de se chegar à família”, citou.
Frei Betto lembrou que atualmente a mídia em geral mistura conteúdos muita vezes erotizados em programas infantis, o que acelera um processo de autopercepção como adultos de crianças e adolescentes, fazendo com que cheguem à puberdade sem terem esgotado o seu repertório fantasioso, tão presente ainda na primeira infância. “Isso os torna um alvo fácil para traficantes, que ofertam drogas como uma forma de acessar essa fantasia que não se esgotou”, afirmou.
Atenção à realidade nutricional dos estudantes, com oferta de alimentação que não seja rica em açúcares e processados; contextualização da realidade das escolas com relação ao meio ambiente e abordagem sobre espiritualidade – que se difere de religião, frisou o palestrante – e a certeza de que a escola é um ser político, compõe os eixos principais citados no início de sua fala, finalizou Frei Betto.
Comprometimento com a primeira infância
Marilda Souza, por sua vez, lembrou que toda a sociedade precisa estar verdadeiramente comprometida com a primeira infância; que educadores precisam se inspirar em referências que possam transformar a realidade dos estudantes e que a educação tem que ser inclusiva de verdade, para garantir que essa inclusão seja perpetuada e chegue às esferas de poder e aos lugares de fala. “Que esse Congresso nos faça refletir sobre quais são os espaços que estamos construindo para a juventude”, declarou.
Antes da mesa de diálogo, participaram da abertura do segundo dia de atividades a prefeita em exercício, Patty Ferreira, a secretária de Educação, Ana Lucia Sanches, a diretora regional de ensino de Diadema, Liane Bayer, o professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Sergio Stoco e os vereadores Lilian Cabrera, Orlando Vitoriano e Josa Queiroz. “A educação é muito mais difícil sem acolhimento, sem igualdade, sem a gente trabalhar por um país democrático”, afirmou a prefeita. “Que a gente possa refletir nesse Congresso e trabalhar cada vez mais para criar oportunidades para os nossos estudantes”, concluiu.
“Esse é um momento muito feliz para a nossa cidade e para a nossa rede. Resgatamos a nossa tradição de promover Congressos de Educação e que a gente possa refletir sobre a nossa realidade, sobre o nosso fazer pedagógico e sobre que caminhos o poder público e o serviço público têm que trilhar para garantir as dimensões sociais e democráticas da educação”, afirmou Ana Lucia. A diretora regional de ensino, Liane Bayer, parabenizou a iniciativa de Diadema pelo Congresso e parabenizou a escolha dos temas, além de agradecer a oportunidade de participação dos educadores da rede estadual. Os vereadores presentes saudaram a Secretaria de Educação pela realização do evento.