A escritora e professora Cleide Regina Scarmelotto lança a quarta edição do livro Sanatório Palmares, no próximo dia 4 de março, às 10h, no CESA Palmares, em Santo André. O livro, baseado em fatos reais, conta a história de Joyce, uma jovem de 13 anos que permaneceu por dois meses internada na extinta clínica psiquiátrica, localizada na vila Palmares, em Santo André, na época da ditadura militar, no ano de 1979.
A obra se inicia com a adolescente ao despertar depois de passar pela primeira sessão de eletrochoques. Sem memória, a garota tenta lembrar o próprio nome. Ao longo de mais de 200 páginas, a autora narra a trajetória de momentos vividos na instituição, fatos que levaram à internação e à fase de reinserção na sociedade. A história traz lembranças de sessões de eletrochoque, tortura, tentativa de estupro e momentos de racismo sofrido por pacientes negras.
Recentemente, a autora decidiu revelar ao público se tratar de sua própria história. Joyce foi apenas um pseudônimo adotado por Cleide. “Escondi que fosse a minha história para não sofrer preconceito”, afirma a escritora, que lançou a primeira edição em 2013. “Hoje resolvi contar, por se tratar de uma história de superação da qual me orgulho”, diz Cleide em entrevista ao RDtv.
Durante a fase de pesquisa, Cleide encontrou outras pacientes, que relatam depoimentos no livro, inclusive uma carta com pedido de socorro escrita por uma das mulheres, em 1974. Assim como Cleide, nenhuma das pacientes citadas na obra foram diagnosticadas com transtorno mental. “Tenho fama de louca até hoje dentro da minha própria família”, revela a autora, que decidiu registrar as memórias em 1996 motivada pelo senso de justiça. “Eu queria que as pessoas conhecessem minha versão dos fatos”, explica.
Formada em Pedagogia e tendo recém concluído o curso de Psicanálise, Cleide relata as marcas deixadas pelo passado. “Consegui meu primeiro diploma aos 47 anos, mas ainda quero fazer muitas coisas, como mestrado e doutorado”, afirma a paulistana.
O Sanatório Palmares foi fechado pelo falecido prefeito de Santo André, Celso Daniel. Porém, antes disso houve um episódio no final da ditadura militar, quando um incêndio destruiu todos os prontuários existentes no local, que hoje abriga uma rede de supermercado.
A instituição abrigava pacientes particulares e outros encaminhados pelo extinto INPS (atual INSS – Instituto Nacional do Seguro Social).
Questionada se abriu processo contra o Estado, Cleide revela que apenas atualmente conseguiu uma advogada que aceitou pegar o caso. “Não fui atrás disso antes porque passei muitos anos achando ‘normal’ o que eu tinha passado, até meus 34 anos acreditava que eu poderia ter um ‘surto’ a qualquer momento”, lembra a escritora que nunca recebeu diagnóstico que comprove transtorno mental.
No próximo dia 17 de março, Cleide receberá o prontuário do Hospital das Clínicas, onde ficou internada por um ano, após sair do sanatório. No HC também recebeu alta sem nenhum diagnóstico, de acordo com os relatos. “Finalmente terei uma prova física de que estive internada no sanatório, além das memórias registradas no livro que escrevi”, completa.
A obra pode ser adquirida pelo site www.cienciasrevolucionarias.com ou Whatsapp (11) 98206-4566.