
No domingo (12/02) choveu em algumas partes do ABC perto de 100 milímetros de chuva em um período de duas horas, foi o suficiente para diversas partes do ABC ficarem submersas, exemplo do bairro São José, em São Caetano, a Vila São José, em Diadema e a região Central de Mauá, sendo esta última a mais castigada. Segundo o Saisp (Sistema de Alerta de Inundações de São Paulo), Mauá recebeu a maior quantidade de chuva. Para a especialista em hidráulica e drenagem urbana, a professora da UFABC (Universidade Federal do ABC), Melissa Cristina Pereira Graciosa, até que obras de caráter regional sejam realizadas, não há perspectivas de melhora, já que a região do Alto Tietê precisaria de uma capacidade de reservação de 13 milhões de metros cúbicos, mas apenas 50% dos piscinões previstos no Plano de Macro Drenagem do Tamanduateí está em operação.
“Foi uma tarde muito crítica para o ABC. Foi uma chuva de moderada a forte, bastante distribuída em todo o ABC sendo que o epicentro foi Mauá. A estação que fica no Piscinão do Paço de Mauá registrou um acumulado de 100 milímetros entre as quatro e seis da tarde.O Sistema atual não está preparado para essa chuva. Na região que a gente chama de bacia do alto Tamanduateí, que pega toda a região desde a cabeceira do rio em Mauá, até a confluência com o córrego Oratório, tem atualmente três piscinões, que são o Corumbé, na cabeceira, o do Paço de Mauá e o Petrobras ,que é o maior atualmente com 800 mil metros cúbicos. Não sei se essas obras estão com a sua capacidade nominal de fato funcionando, isso vai depender da manutenção. O evento que aconteceu no domingo atinge a macrodrenagem e excede um pouco o que o município pode fazer. Cabe aos municípios da rede de microdrenagem, limpeza dos córregos para permitir um bom fluxo até chegar no Tamanduateí”, explica a professora da UFABC.
Melissa considera que os piscinões não são soluções que podem ser consideradas como instrumento de planejamento, ao contrário, são medidas corretivas pela falta de planejamento da ocupação do solo. “O grande erro é pensar nessas estruturas como planejamento da ocupação do território, são medidas de remediação, a ponte de safena do paciente infartado. Houve falhas reiteradas no planejamento por parte das gestões ao ocupar várzeas, retificar e canalizar rios. Segundo equação de 2013 se precisaria de 13 milhões de metros cúbicos de reservação para uma chuva de 100 milímetros em duas horas, isso se o sistema inteiro estivesse feito, mas a gente tem menos de 50% desse sistema implantado”, aponta.
Emergência
Como medidas emergenciais, a engenheira da UFABC diz que algumas coisas estão ao alcance das prefeituras como medidas de limpeza da calha, ter os planos de contingência em funcionamento e os sistemas de alerta para evitar os maiores danos e perda de vidas humanas. Ao Estado cabe a macro drenagem e concluir piscinões já previstos, dois deles estão projetados para Mauá. “Hoje existem duas intervenções importantes na calha do Tamanduateí que se encontram em projeto, o RT-15 e o RT-16, e vão dar um suporte para atender a essa chuva de 100 milímetros. Mas é importante que essas ações venham acompanhadas de outras medidas da gestão integrada tais como preservar taxas mínimas de permeabilidade do solo para não sobrecarregar mais o sistema. Medidas no sentido de preservar as várzeas e restituir, aonde for possível. Se já estiver a ocupação consolidada, adotar medidas de realocação dessas pessoas. São medidas emergenciais que o poder público tem condições de fazer”, completa a professora.
Previsões
Segundo a meteorologista Helena Turon Balbino, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) a previsão para esta semana é de mais chuva. Pelo menos até domingo (19/02) a chuva não deve dar trégua em todo o ABC. (Veja previsão abaixo)
Apesar do volume de chuvas, segundo a meteorologista, não há nada de novo nesta situação. “Os índices pluviométricos na região metropolitana de São Paulo estão dentro da média. Os meses de janeiro e fevereiro foram bem chuvosos, mas dentro da normalidade. Bem diferente do que aconteceu nos anos de 1.999, 2.003 e 2.011 que foram anos de muita chuva”, analisa Helena.
Segundo a meteorologista o país está sob o efeito do fenômeno climático La Ninha desde 2.021. “Com isso o Oceano Pacífico equatorial fica com águas um pouco mais frias, que geram ondas que influenciam o clima no mundo. Na região Sudeste o La Ninha provoca uma precipitação mais forte. Por outro lado temos os ventos Alísios que vêm do Atlântico passando pela Amazônia e traz toda a umidade para o Sudeste que resulta na formação de grandes nuvens cúmulus nimbus, muito carregadas”, explica.
Segundo as previsões do Inmet pelo menos até domingo a chuva e o calor estarão presentes. Depois o tempo muda de figura. “No sábado (18/02) vem uma frente fria, que agora está passando pelo Uruguai. Essa frente derruba as temperaturas, deixará o tempo cinzento no final de semana. Os dias permanecerão com temperaturas mais amenas e alguma chuva de pouca quantidade até quarta-feira, dia 22, quando o tempo volta a esquentar e novamente volta a chover forte”, prevê Helena Turon Balbino.
Prefeituras registram enchentes, quedas de árvores e deslizamentos
Além da enchente no entorno do Paço que já se tornou comum nesta época do ano, Mauá registrou também deslizamentos. Em outros pontos da região árvores caíram e ruas ficaram intransitáveis.
A prefeitura mauaense informou que a cidade recebeu 86 milímetros de chuva em apenas 40 minutos no domingo, sendo que o volume acumulado em 24 horas chegou a 108 milímetros. “Nos 12 primeiros dias de fevereiro, já choveu 34% além do previsto para o mês todo. A expectativa era de 284mm e o acumulado chegou a 382mm. O volume de chuvas registrado em menos da metade de fevereiro de 2023, já é mais que o dobro do identificado nos 28 dias do mesmo mês em 2022. Os principais pontos de alagamentos foram no Centro, no Parque Boa Esperança, Vila Noêmia, Parque São Vicente e Vila Feital. As equipes de limpeza da Prefeitura trabalharam ao longo de toda noite e madrugada para normalizar a situação da cidade. Ocorreram três deslizamentos de terra, sem provocar vítimas ou pessoas desabrigadas. Uma família afetada por inundação recebeu colchões e cobertas da Defesa Civil”, informa a prefeitura que completa que quem mora em área de risco deve ficar alerta. Em caso de emergência, o munícipe pode acionar a Defesa Civil (199), o Corpo de Bombeiros (193) ou o SAMU (192).
Em São Caetano a prefeitura informou que houve registro de apenas pequenos alagamentos. Mas a avenida Guido Aliberti, no bairro São José ficou completamente intransitável nas proximidades da confluência do Ribeirão dos Couros com o Córrego dos Meninos. “Foram cinco pontos de pequenos alagamentos só na Avenida Guido Aliberti, além de outros pequenos pontos nos bairros Centro, Fundação e Cerâmica além de duas quedas de árvores”, diz a prefeitura, em nota. Todo o contingente da Defesa Civil do município foi mobilizado. Não houve desabrigados, mas motoristas ficaram ilhados com seus carros e tiveram que aguardar as equipes de socorro.
A Prefeitura de São Caetano informa que realiza através do Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental) a manutenção diária de bueiros e bocas de lobo. A administração municipal listou um grande plano de obras, o Refundação que envolve drenagem e até a construção de um piscinão. “As obras do Refundação (Plano Diretor Estratégico para um novo Bairro Fundação), é o maior conjunto de ações da história do bairro, que inclui intervenções estruturantes em quatro eixos: Combate às Enchentes, Sustentabilidade e Meio Ambiente, Operação Urbana no Espaço Matarazzo e Destinação da área localizada na esquina das ruas Heloísa Pamplona e Conde Francisco Matarazzo. As intervenções incluem a construção de um piscinão; o alteamento viário da Avenida do Estado; construção de muro de contenção de 4 km em toda a extensão da margem da via na cidade; e o projeto de macrodrenagem em até 7 km, com a reforma e ampliação de todas as galerias para aumentar a vazão das águas pluviais.
Em São Bernardo o volume de chuva foi bem menor, o pico foi de 38 mm no Jardim Silvina. A chuva ocasionou a queda de uma árvore na Arena Olímpica São Bernardo. Ninguém ficou ferido. Também houve registro de ponto de acúmulo de água na Avenida Robert Kennedy com a Rua Max Mangels. “Desde 2017, a Prefeitura de São Bernardo já investiu mais de R$ 500 milhões em obras estruturantes de combate aos impactos das chuvas. A prefeitura realiza, neste momento, a 6ª edição da Operação Pé D´Água. A força-tarefa, que irá vigorar até 15 de abril de 2023 – período em que são observados os temporais de verão –, é coordenada pela Defesa Civil Municipal e conta com ações diversas, desde o monitoramento das chuvas no município, mutirões preventivos nas áreas mais vulneráveis, além de plano de resposta para situações de emergência e eventuais incidentes”, diz a prefeitura em comunicado.

Diadema também registrou alagamentos em três pontos da cidade. O córrego Curral Grande extravasou e o Corredor ABD ficou parado até que a água baixasse. A prefeitura em exercício, Patty Ferreira (PT) percorreu as áreas afetadas junto com a Defesa Civil. “Felizmente, a Defesa Civil de Diadema não registrou ocorrências graves, mesmo assim, relatou quatro casos de alagamentos com rápido escoamento de água, sendo que o principal deles aconteceu na rua Alexandre de Gusmão, Vila Nogueira. A situação foi acompanhada de perto pela prefeita em exercício que visitou pontos da Vila Lídia, Vila São José e Vila Nogueira”, resumiu a prefeitura.
Em Santo André o domingo foi crítico para quem tentou passar pela avenida Industrial próximo ao Grand Plaza Shopping, pela avenida dos Estados (no cruzamento com a avenida André Ramalho), e também houve alagamento na avenida Giovanni Batista Pirelli (próximo ao Complexo Viário Cassaquera) e na avenida Lauro Gomes. A prefeitura diz que mantém em dia a limpeza das bocas de lobo, canaletas comportas, córregos e limpeza de piscinões. “São realizadas também ações em conjunto com a Defesa Civil de Santo André e departamentos integrados no POCV (Programa Operação Chuvas de Verão), que está em vigência desde 1º de dezembro e visa minimizar os impactos das chuvas para população com respostas rápidas aos eventos ocorridos visando à volta ao estágio de normalidade. Foram desenvolvidos quatro grandes projetos executivos de drenagem para os córregos Mauricio de Medeiros; córrego Taioca; micro reservatórios para o Bairro Vila Pires; e ampliação de tanque de retenção na Vila América. O investimento total em estrutura, infraestrutura, manutenção e prevenção, treinamentos e capacitação, inteligência e monitoramento do POCV é de R$ 37 milhões”, destacou a administração.