Diferente do que muitos pensam, a genética não é o principal fator que dita quantos anos alguém irá viver, isto porque só representa 30% das razões. O estilo de vida do indivíduo é o principal ponto que influencia a longevidade de uma pessoa e, por isso, não é possível prever por quanto tempo alguém viverá, já que a alimentação e a frequência da prática de exercícios variam de pessoa para pessoa.
Para o RDtv, o geriatra e professor de geriatria do Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina ABC), Marcelo Valente, explica que, além do estilo de vida, os fatores ambientais também contribuem ativamente para a longevidade humana. “Se vivo em uma ambiente com grande nível de poluição ou em um lugar muito violento, a expectativa de vida pode reduzir drasticamente, então 70% dos componentes da expectativa de vida dependem de nós”, diz.
Cerca de 15% da população do Brasil está acima dos 60 anos, o que corresponde a 31.23 milhões de pessoas e, apenas seis milhões possuem acesso a convênios médicos. Valente afirma que o problema não está exclusivamente na saúde particular, mas também na saúde pública. “Quando olhamos ambulatórios do SUS (Sistema Único de Saúde) de geriatria, temos pouquíssimos que são referência e o mesmo acontecesse nos convênios. Isto acontece porque temos poucos especialistas desta área no Brasil”, conta.
O geriatra explica que o desinteresse na área tem várias razões, como a questão financeira e a complexidade do atendimento. “Os idosos, em grande maioria, são pacientes complexos, que podem ter várias comorbidades ao mesmo tempo e que precisam de muitos medicamentos. O geriatra realiza diversas avaliações e os convênios não diferenciam uma consulta geriátrica e uma consulta generalizada, o que diminui o pagamento de um especialista que presta um serviço de alta complexidade”, comenta.
Consequências da pandemia
Valente ressalta que existem várias doenças que se tornaram rotineiras para o idoso, na maioria se trata de comorbidades neuropsiquiátricas. “A medida que a expectativa de vida é maior, o número de casos de demência cresce. Também em consequência da pandemia, o número de enfermidades psiquiátricas na geriatria tem aumentado já que muitos idosos vivem sozinhos, então se tornou comum casos de depressão e transtornos de ansiedade na população com mais de 60 anos”, diz.
Além disso, a pandemia do coronavírus trouxe queixas da chamada Síndrome da covid longa, que pode acometer os músculos e até na parte cognitiva. “Muitos perderam peso e musculatura e não conseguem recuperar, alguns criaram um medo excessivo e não saem de casa por nada, pacientes que tiveram covid-19 há mais de um ano e continuam não sentindo cheiro ou gosto. Estes são alguns dos sintomas que recebo com mais frequência neste período pós pandemia”, diz.