
O calor registrado nos últimos 30 dias fez aquecer as vendas de ventiladores e aparelhos de ar-condicionado, nada muito forte a ponto de comprometer os estoques de produtos, uma vez que o setor não teve bom desempenho no ano passado que não foi um ano muito quente. Os primeiros dias de 2023 foram os mais frios já registrados em 58 anos, o que não animou o setor que só começou a ver um horizonte melhor nos últimos 30 dias com registros de temperaturas mais altas. Segundo dados da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento) as vendas cresceram 8% este ano.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), em pleno verão, a média de temperatura máxima observada nos dez primeiros dias de 2023 ano ficou em 23,9ºC. Esse foi o menor valor já registrado para o período desde 1965, quando a média chegou a 23,8ºC. Mas depois da primeira quinzena o calor veio para ficar, deixando as temperaturas acima dos 30°C praticamente todos os dias. Até as noites ficaram mais quentes para a alegria de quem produz, vende ou instala esses equipamentos.
Segundo Gilson Miranda, vice-presidente do Departamento Nacional de Comércio da Abrava, o mercado está abastecido porque em 2022 as vendas ficaram abaixo do esperado, mas elas estão em crescimento. Perguntado sobre o crescimento de vendas Miranda respondeu afirmativamente. “Para a linha residencial sim, principalmente para as linhas ar de janela e Split Hi Wall. A linha comercial leve também teve este incremento face ao calor. Aumento das vendas nas lojas físicas e online está em torno de 8% se comparado ao ano passado”, enumera o diretor.
Baseado em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) Miranda diz que 18% dos lares brasileiros contam com ar-condicionado. Ele diz que o número só não é maior porque há uma cultura de que o equipamento é o vilão da conta de luz. “Ainda existem mitos em torno do uso de condicionadores de ar com a questão de uso muita energia, mas hoje em dia o cenário é outro”, completa o representante da associação que representa os fabricantes de condicionadores de ar.
Gastos
Para o professor e coordenador do curso de Engenharia Elétrica do IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), Daniel Ribeiro Gomes, o gasto de energia de um ar-condicionado deve ser considerado, mas nesta conta também deve entrar o conforto que ele proporciona, diferente dos ventiladores que não refrigeram, apenas movimentam o ar. “O conforto térmico é difícil de mensurar quando ele vale. O ar-condicionado consome uma energia razoável, mas também depende de se respeitar o que diz o fabricante quanto à instalação, o tamanho do ambiente e, claro, a forma correta de instalação. O consumidor tem que ter em mente que ele terá um gasto com a compra do aparelho, com a instalação e manutenção e com a conta de luz”, enumera.

Segundo Gomes, se o aparelho é inadequado para o tamanho do ambiente, ou seja, se ele tem uma capacidade para um ambiente pequeno, como um quarto, mas é instalado num ambiente muito maior, para que o usuário obtenha a temperatura desejada, o dispositivo vai trabalhar muito mais e o gasto de energia será maior e a possibilidade de quebra também. “O funcionamento do ar-condicionado se assemelha ao de uma geladeira; ele trabalha por um período até chegar a temperatura do ambiente escolhida pelo usuário, depois ele para por um tempo. Se ele funcionar demais, essa sobrecarga pode resultar em quebra”, diz o professor da Mauá.
Perigos
Um quarto médio com um ar-condicionado tipo split de 1.500 watts, vai consumir em torno de 30 kw/h por mês, segundo calcula Daniel Ribeiro Gomes, e essa é a conta que o consumidor tem que fazer. Outra providência é buscar profissionais habilitados e especializados neste tipo de instalação. A ligação feita de forma inadequada, sem um circuito dedicado e sem as devidas proteções na rede elétrica, podem causar incêndios. “Hoje em dia tem muito tutorial na internet, e eles até ajudam de certa forma, mas para essa instalação, que tem muitos detalhes, é preciso um profissional que vai saber identificar qualquer problema e corrigir durante a instalação. Se não tiver um circuito só para o ar-condicionado, a fiação pode aquecer demais, derreter a capa de proteção e isso pode iniciar um incêndio”, orienta o professor.
A Eletros, associação que reúne dentre outras indústrias de eletroeletrônicos, as que fabricam ventiladores, informou que está fazendo o levantamento dos números de produção e vendas do ano passado e ainda não é possível afirmar sobre alta ou queda nas vendas. Mas a tendência é que siga o setor de ar-condicionado.
O professor da Mauá, diz que se os acidentes com a instalação inadequada de ar-condicionado são fatores consideráveis, já quanto aos acidentes com ventiladores, esses são mais difíceis de acontecer. Isso porque esses aparelhos consomem muito menos energia e a possibilidade de sobrecarga nas tomadas é pequena. “Com um ventilador o risco de sobrecarga é bem menor, ele consome de 5 a 6 Kw/h por mês, aproximadamente 1/6 do que gasta o ar-condicionado, então mesmo ligando dois ou três aparelhos desse numa mesma tomada é difícil que haja uma sobrecarga”, diz o professor.
Já quanto à origem dos ventiladores é importante que o consumidor se previna de pirataria e verifique se o produto conta com selos do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) ou do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). “Esses selos vão indicar que esse aparelho passou por protocolo e alguém validou esse equipamento. Muita gente vai olhar mais o preço, mas observar a origem é importante”, diz o professor sobre produtos que são vendidos em comércios populares ou mesmo nas ruas.